Review de "Olha Quem Está de Volta"

sexta-feira, 24 de junho de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 = 3,0

Gênero = Comédia

Não! Esse não é mais um daqueles filmes antigos de bebês falantes (que, na verdade, são bebês pensantes)! Se trata de um filme alemão, de nome original Er ist wieder da, baseado num livro de mesmo nome.

Neste filme, Hitler revive 70 anos depois da sua partida na II Guerra e está de volta à Alemanha, no ano de 2014. O filme é uma comédia, mas tipo... Se você está esperando um filme em que você quer se acabar de rir, recomendo que veja outro filme, pois ele não é tão engraçado, mas achei muito interessante do ponto de vista informativo.

Ultimamente, estamos vivendo uma crise e em momentos de crise, filosofias da extrema-direita crescem bastante. Isso não é só aqui no Brasil, mas também a nível mundial, mas, como estamos falando do filme, estamos falando da Alemanha.

Além da própria história, o filme combina entrevista com pessoas que são do elenco com pessoas que não estão atuando e estão de passagem.


Na história, ninguém acredita que o Hitler é, de fato, a figura histórica que voltou à vida. Acham que é um ator e tudo o que ele fala, referente ao nazismo, discursos de ódio e politicamente incorretos, etc é visto como piada e por acharem graça, ele acabou virando um comediante de um canal de TV, que ganhou muitos pontos de audiência. Foi aí que Hitler viu a oportunidade de usar a TV como veículo de propaganda nazista e as pessoas nem se dão conta de que ao rir das besteiras que ele fala, elas acabam comprando as ideias nazistas dele.

É chocante observar que apesar do povo alemão ter vergonha de seu passado nazista (ou, pelo menos, tinham antigamente), muitas pessoas que não eram do elenco não se importaram em dar as boas-vindas ao ditador alemão e até apoiar as suas ideias! Em uma das entrevistas, um idoso comenta que antes dos imigrantes, o QI dos alemães era 80 e depois da vinda deles, caiu para 60.


Poucas foram as pessoas que criticaram Hitler, suas ideias e alguns até estiraram o dedo para ele na rua, mas a maioria das pessoas mostradas no filme o trataram muito bem e como o ator incorporou o personagem, ele se utilizava do inconformismo das pessoas nessa época de crise para defender suas ideias de democracia (tal qual um político faria) e as pessoas acreditavam nele. Foi assustador constatar, no final das contas, que se Hitler tivesse voltado, mesmo com a Alemanha lembrando de seu passado nazista, o nazismo teria grandes chances de voltar, mas os novos alvos seriam os imigrantes, que são o maior motivo de descontentamento do povo alemão.

A História Mundial e o filme lembram o quanto o Hitler era um excelente orador. Nenhuma frase dele em si ficou cèlebre, mas a maneira dele discursar... A sua convicção... Os gestos... O tom de voz firme e decidido... O seu carisma... Seu poder de persuasão foram retratados no filme e foi assim que ele conseguiu conquistar tantos adeptos ao nazismo. É triste ver e chegar a conclusão de que não evoluímos muito da II Guerra para cá, pois se ele estivesse de volta, conseguiria conquistar muita gente para o nazismo novamente, tendo a insatisfação da população e raiva dos imigrantes como arma.

Além dessas chocantes constatações, um ponto alto e forte do filme são as mensagens do final, que não vou contar para não perder a graça, mas que servem de reflexão para todos nós.

É fácil enxergar a vilania e tudo o que há de cruel e desumano na figura do Hitler porque estudamos História e sabemos tudo o que ocorreu no nazismo (os campos de concentração... Câmaras de gás... Genocídio...), mas será que conseguiríamos ter a perspicácia de perceber políticos atuais, no nosso país e no mundo, com discursos semelhantes (lembrando que Hitler inspirou suas ideias do nazismo no fascismo italiano, então, quando falo de nazismo, também me refiro ao fascismo)? Algumas pessoas não percebem, mas um político brasileiro que tem ideias muito semelhantes é o Bolsonaro. Acho incrível e não consigo compreender como as pessoas acham que ele é uma boa opção para presidente em 2018 "porque não está envolvido com corrupção".

Não percebem?


- Hitler era racista e homofóbico. Bolsonaro também.
- Hitler era conhecido por ser esquentadinho, ter uma "personalidade forte" e falar gritando. Bolsonaro também.
- Hitler se aproveitou da crise para crescer e conquistar adeptos com seus discursos de ódio, culpando algumas pessoas pela crise. Bolsonaro também.
- Hitler matava todos os que eram contra sua causa que, para ele, eram vistos como bandidos, impuros, etc. Para Bolsonaro, "bandido bom é bandido morto".
- Hitler cometeu crimes contra a humanidade por ter liderado o genocídio de milhares de pessoas. Bolsonaro também, ao fazer homenagem a um torturador, que também matou muita gente.

Não faço campanha pró-PT, pró-socialismo ou pró-esquerda. Apenas peço que se você pensa em votar em Bolsonaro como presidente, repense e veja se essa é a melhor opção mesmo... Pense em quais serão as consequências para as minorias/menos favorecidos (negros, mulheres, índios, pobres, etc) caso ele ganhar... Você, com certeza, deve conhecer alguém que pertence a uma dessas "minorias".

Nos EUA, temos o Donald Trump que é outro de extrema-direita e que pode dificultar muito a vida das minorias também, caso for eleito. Os americanos também devem fazer essa reflexão sobre o futuro do país e sobre o sangue inocente que será derramado por consequência de um voto de alguém que pensou que "não se importa porque não pertence a esses grupos".

Neste filme, o próprio ator Oliver Masucci, que interpretou o Hitler se disse impressionado com as reações das pessoas, que quiseram tirar selfies com ele, os receberam de braços abertos e alguns até pediram para ele trazer de volta os campos de concentração! O ator também comenta o quanto era fácil "ganhar"/conquistar as pessoas com sua conversa manipuladora e os discursos e, nas cenas do filme, os discursos na TV (mas aí, essa última parte já é com o elenco e não com a população nas ruas).


Olha Quem Está de Volta demonstrou que mesmo as pessoas com um nível de educação mais alto, como os alemães (se compararmos, de maneira bem geral, com nós, brasileiros), podem ser facilmente manipuladas por um orador habilidoso e que a aceitação desse discurso de ódio de extrema-direita é, sem dúvida, um assunto que deve ser discutido no mundo atualmente.

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