Imagem gerada por IA
(Daliana Medeiros Cavalcanti - 05/07/2025)
Semana passada, participei de uma experiência MARAVILHOSA, conduzida pelas queridas e talentosas amigas artistas Mainá Santana e Paula Queiroz, dos Clowns de Shakespeare.
Foi um processo criativo voltado para uma intervenção artística, com elenco completamente feminino: mulheres cis e trans, artistas ou não e foi INCRÍVEL estar em meio a tantas mulheres e ter trocas e discussões tão importantes.
É interessante perceber que por mais que existam vários grupos femininos, sejam da literatura ou outras artes e ciências, o assunto é o mesmo e, ao mesmo tempo, é inesgotável: o quanto os nossos direitos ainda nos são negados, tanto pela sociedade, quanto por nós mesmas, seja pela autossabotagem ou pela reprodução do machismo que aprendemos desde o berço…
Mesmas violências… Mesmas opressões… E, ainda assim, há muito a ser falado e escutado e há coisas que são tão profundas que tornam difícil o olhar no espelho e/ou o confronto ao externar, ainda mais num mundo onde se dá novos nomes a velhos ódios (incell, red pill, MGTOW, etc).
O mais interessante de tudo isso é porque esse processo é baseado numa personagem, em especial, da obra “Titus Andronicus” de William Shakespeare: a Lavínia, que teve a língua cortada e as mãos amputadas para não denunciar as violências que sofreu.
A imagem que essa personagem invocou durante o processo (e logo após ele ter acontecido) foi tão forte, que não consigo parar de pensar no quanto, às vezes, entregamos a faca nas mãos de outras pessoas para cortar nossa língua. Outras vezes, nós nos automutilamos.
Em vários momentos, eu senti vontade de falar várias coisas, mas sentia um misto de vergonha e culpa, por chegar atrasada quase todos os dias e, mais uma vez, estou um pouco anestesiada sentimentalmente (voltei a ficar assim) e me questionava “e isso importa? A quem eu quero dar satisfações? Por quê? O que isso vai mudar pra mim e para as outras?”
Meu algoz é o remédio que estou tomando para equilibrar minhas emoções, pelo quadro misto de depressão e ansiedade que tenho. Várias vezes escrevi textos sobre isso, mas até parece que é como as opressões que nós mulheres sofremos diariamente: mesmo sendo a mesma coisa, sempre há assunto. Sempre há o que falar, pois sempre há quem duvide ou não entenda.
À medida que escrevo, repito os questionamentos acima em minha mente: “e isso importa? A quem eu quero dar satisfações? Por quê? O que isso vai mudar pra mim e para as outras?” e não sei bem o que responder… Sei que se esse texto servir para alguém refletir um pouco, já me sinto satisfeita.
Um mundo onde várias pessoas falam em empatia e reforçam a sua importância, obviamente, é um lugar onde ela está escassa e quem fala ou relembra isso, ou é visto(a)(e) como fraco, louco ou chato. Digo isto porque falar sobre essas questões todas passam pela empatia e, quando essa empatia não acontece, vem o julgamento.
Estamos num mundo onde as pessoas são rápidas em julgar, eu senti muito medo de ser julgada durante o processo, afinal de contas, estava chegando BEM atrasada e isso acontecia porque devido ao meu quadro e ao remédio que estou tomando, eu tenho pouquíssima energia e disposição e aí, das duas, uma: ou eu “dou o gás” e fico com nenhuma energia no dia seguinte ou eu faço umas pausas e respiro um pouco para reunir energia e seguir com as atividades do dia, mesmo atrasadas.
Como estou trabalhando às tardes como professora, escolhi a segunda opção, porque não trabalhar é uma péssima escolha, ainda mais quando envolve dinheiro público.
Eu poderia ter largado o processo e pensei nisso sim, mas pensei “o que é pior: eu chegar atrasada, mas participar e fazer a coisa andar, apesar do atraso, ou não ir e tudo o que marcaram comigo, teriam que repensar e refazer?” Claro que sei que minhas amigas e companheiras de cena são muito talentosas e conseguiriam, perfeitamente, pensar em outra coisa para a intervenção e ficaria bonito. Sei que não sou insubstituível, entretanto, achei que dar esse trabalho a elas seria pior que os atrasos…
Resolvi seguir em frente, mesmo sem-graça, e eu realmente QUIS participar e aprender… Ter aquelas trocas com todas aquelas mulheres maravilhosas e mostrar para mim mesma que, mesmo enfraquecida, eu ainda sou “uma baixinha invocada e muito forte”. Quis vencer todo o marasmo e letargia, sem negá-los, porque eles fazem parte do meu cotidiano.
E olha… Que decisão acertada! Foi LINDO compartilhar todos os exercícios e experimentações… Todas as discussões acaloradas, de mulheres expondo seus pontos de vista de forma apaixonada… E mesmo nos machucando (porém, nunca intencionalmente), nos ajudamos, nos escutamos, nos acolhemos…
E aquele dia de chuva, que tinha tudo para dar errado, deu MUITO certo: quando descemos do ônibus para fazer a intervenção, a chuva tinha parado e quando terminamos, a chuva voltou e ainda nos presenteou com um belíssimo arco-íris. E veja que simbólico: no dia 28 de junho, que é o dia do orgulho LGBTQIAPN+!
Quando voltamos para o ônibus, tudo aquilo mexeu tanto comigo que eu fiquei processando e nem sei dizer se já consegui processar tudo o que vivi naquela semana… Sei que muitas reflexões me atravessam no momento sobre a questão da culpabilização… Julgamento… A quem eu devo satisfações… Para quê… Por quê… O que importa e o que não…
Sei que mesmo respondendo a todas essas questões e mesmo que tentemos fazer tudo para agradar quem quer que seja (dica: não faça isso), vão nos julgar negativamente e culpar, portanto, o melhor a fazer é se questionar O QUE VAI TE AGRADAR e ignorar os julgamentos de pessoas que realmente não se importam, sabem ou procuram saber da sua história, como você pensa e por que você age como age.
O mais interessante de tudo isso é porque esse processo é baseado numa personagem, em especial, da obra “Titus Andronicus” de William Shakespeare: a Lavínia, que teve a língua cortada e as mãos amputadas para não denunciar as violências que sofreu.
A imagem que essa personagem invocou durante o processo (e logo após ele ter acontecido) foi tão forte, que não consigo parar de pensar no quanto, às vezes, entregamos a faca nas mãos de outras pessoas para cortar nossa língua. Outras vezes, nós nos automutilamos.
Em vários momentos, eu senti vontade de falar várias coisas, mas sentia um misto de vergonha e culpa, por chegar atrasada quase todos os dias e, mais uma vez, estou um pouco anestesiada sentimentalmente (voltei a ficar assim) e me questionava “e isso importa? A quem eu quero dar satisfações? Por quê? O que isso vai mudar pra mim e para as outras?”
Meu algoz é o remédio que estou tomando para equilibrar minhas emoções, pelo quadro misto de depressão e ansiedade que tenho. Várias vezes escrevi textos sobre isso, mas até parece que é como as opressões que nós mulheres sofremos diariamente: mesmo sendo a mesma coisa, sempre há assunto. Sempre há o que falar, pois sempre há quem duvide ou não entenda.
À medida que escrevo, repito os questionamentos acima em minha mente: “e isso importa? A quem eu quero dar satisfações? Por quê? O que isso vai mudar pra mim e para as outras?” e não sei bem o que responder… Sei que se esse texto servir para alguém refletir um pouco, já me sinto satisfeita.
Um mundo onde várias pessoas falam em empatia e reforçam a sua importância, obviamente, é um lugar onde ela está escassa e quem fala ou relembra isso, ou é visto(a)(e) como fraco, louco ou chato. Digo isto porque falar sobre essas questões todas passam pela empatia e, quando essa empatia não acontece, vem o julgamento.
Estamos num mundo onde as pessoas são rápidas em julgar, eu senti muito medo de ser julgada durante o processo, afinal de contas, estava chegando BEM atrasada e isso acontecia porque devido ao meu quadro e ao remédio que estou tomando, eu tenho pouquíssima energia e disposição e aí, das duas, uma: ou eu “dou o gás” e fico com nenhuma energia no dia seguinte ou eu faço umas pausas e respiro um pouco para reunir energia e seguir com as atividades do dia, mesmo atrasadas.
Como estou trabalhando às tardes como professora, escolhi a segunda opção, porque não trabalhar é uma péssima escolha, ainda mais quando envolve dinheiro público.
Eu poderia ter largado o processo e pensei nisso sim, mas pensei “o que é pior: eu chegar atrasada, mas participar e fazer a coisa andar, apesar do atraso, ou não ir e tudo o que marcaram comigo, teriam que repensar e refazer?” Claro que sei que minhas amigas e companheiras de cena são muito talentosas e conseguiriam, perfeitamente, pensar em outra coisa para a intervenção e ficaria bonito. Sei que não sou insubstituível, entretanto, achei que dar esse trabalho a elas seria pior que os atrasos…
Resolvi seguir em frente, mesmo sem-graça, e eu realmente QUIS participar e aprender… Ter aquelas trocas com todas aquelas mulheres maravilhosas e mostrar para mim mesma que, mesmo enfraquecida, eu ainda sou “uma baixinha invocada e muito forte”. Quis vencer todo o marasmo e letargia, sem negá-los, porque eles fazem parte do meu cotidiano.
E olha… Que decisão acertada! Foi LINDO compartilhar todos os exercícios e experimentações… Todas as discussões acaloradas, de mulheres expondo seus pontos de vista de forma apaixonada… E mesmo nos machucando (porém, nunca intencionalmente), nos ajudamos, nos escutamos, nos acolhemos…
E aquele dia de chuva, que tinha tudo para dar errado, deu MUITO certo: quando descemos do ônibus para fazer a intervenção, a chuva tinha parado e quando terminamos, a chuva voltou e ainda nos presenteou com um belíssimo arco-íris. E veja que simbólico: no dia 28 de junho, que é o dia do orgulho LGBTQIAPN+!
Quando voltamos para o ônibus, tudo aquilo mexeu tanto comigo que eu fiquei processando e nem sei dizer se já consegui processar tudo o que vivi naquela semana… Sei que muitas reflexões me atravessam no momento sobre a questão da culpabilização… Julgamento… A quem eu devo satisfações… Para quê… Por quê… O que importa e o que não…
Sei que mesmo respondendo a todas essas questões e mesmo que tentemos fazer tudo para agradar quem quer que seja (dica: não faça isso), vão nos julgar negativamente e culpar, portanto, o melhor a fazer é se questionar O QUE VAI TE AGRADAR e ignorar os julgamentos de pessoas que realmente não se importam, sabem ou procuram saber da sua história, como você pensa e por que você age como age.
Parece fácil falar, mas o que é mais difícil: ignorar quem não te faz bem e fazer o que você tem vontade, ou tentar se enquadrar nas expectativas de quem nunca vai estar feliz com o que você faz?
Sei que nessa semana, mesmo tendo línguas enormes falando de mim e dedos apontados, num pequeno espaço do Tecesol, eu tive acolhimento, escuta, arte, trocas afetivas, mar e um lindo arco-íris para coroar meu dia.
Essas lembranças carinhosas, ninguém me tira…
E você, mulher? Quem cortou sua língua?
Sei que nessa semana, mesmo tendo línguas enormes falando de mim e dedos apontados, num pequeno espaço do Tecesol, eu tive acolhimento, escuta, arte, trocas afetivas, mar e um lindo arco-íris para coroar meu dia.
Essas lembranças carinhosas, ninguém me tira…
E você, mulher? Quem cortou sua língua?
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