Ódio

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


* Aviso que as opiniões aqui relacionadas não são de uma especialista, e sim, de uma humilde cidadã que gosta de expressá-las através da escrita e que vocês têm a total liberdade de concordar, discordar e questionar.


Nunca um sentimento foi tão divisor e, ao mesmo tempo, tão agregador quanto o ódio.

As pessoas se dividem em "boas e más" e o mau, como sempre, é tudo o que não concordo ou que não conheço. Tudo o que eu desprezo acaba se tornando mau e, naturalmente, as pessoas veem a si mesmas como sendo boas, cabendo muito bem a frase "o mau são os outros".

É como se o conceito do que é bom e o que é mau, definidos pelas religiões e em livros como a Bíblia, há muito tempo atrás, tivessem mudado de interpretação, porque "sou eu quem defino o que é bom e o que é mau" atualmente. As crenças, de certa forma, deixaram de estar voltadas ao que a religião realmente prega para o que eu acho de algo ou alguém. Então, de certa forma, nós nos tornamos "deuses" e tudo o que não nos agrada acaba sendo mau. O Deus Bíblico, para estas pessoas, se tornou o "cara legal que tudo perdoa porque eu sou boa... Porque eu vou a igreja... Porque Deus me conhece e sabe que não foi por mau, mesmo que eu esteja errada... Porque eu fui preconceituosa, mas ajudei um pedinte com quinze centavos semana passada... Porque eu vou pro céu e tenho certeza disso..."


É como se por ser religiosa, eu justificasse o meu ódio com base na Bíblia que, muitas vezes, eu nem leio por ser "católica/evangélica não praticante", mas morro de orgulho de dizer a religião ao qual pertenço...

É como se eu esquecesse coisas básicas, que todo catecismo ensina, como "amai uns aos outros como eu vos amei"... E esquecesse um dos dez mandamentos, onde diz "não matarás"...

- Mas eu não matei.
- Mas torceu e comemorou a morte de outra pessoa e isso é tão perverso quanto.



E assim, as pessoas se unem para odiar alguém... "O mau são os outros", repito...

"A culpa é dessas feministas que odeiam os homens e não gostam de se depilar"... "A culpa é do pobre, vagabundo, que vive do Bolsa Esmola e não quer trabalhar"... "A culpa é do negro, que quer benefícios que nós brancos não temos"... "A culpa é dos gays, que querem implantar uma ditadura gayzista"... "É dos comunistas, que deveriam estar em Cuba..."

Quantos desses discursos fazem sentido? Por que culpar os outros sem nem tentar conhecer de perto a sua realidade para ver se é isso mesmo? Você já tentou explicar as suas ideias para alguém que pensa diferente, seguindo uma linha de raciocínio bem lógica e coerente, explicando os porquês tim-tim por tim-tim? Seria um excelente exercício, pois se tem coisas que você sequer consegue explicar direito, ou você precisa ler mais à respeito para embasar sua opinião, ou você está repetindo um preconceito, meu(minha) amigo(a).


E assim, com essas ideias, pessoas e mais pessoas têm se unido na internet por uma certeza que não existe, pois ninguém é dono da razão, com o único propósito de atacar pessoas que pensam diferente, não atacando as ideias, mas as pessoas, revelando todo o ócio destrutivo de dentro delas e a fim de nada... Apenas pelo prazer de atacar. Muitos nem sequer sabem explicar o que defendem e por que são contra as ideias. Só sabem repetir "pq eu defendo a família e sou devoto a Deus". Que espécie de devoto(a) a Deus é esse(a) que mata ou deseja a morte de quem é diferente de você? O que está acontecendo com esses "fieis" que se acham os juízes divinos, capazes de julgar as pessoas e não lembram que a religião deles defende que "no dia do juízo final, Deus há de julgar os vivos e os mortos"? Por que eles "têm que fazer o trabalho de Deus"? Aliás: como é que eles sabem que Deus irá julgar dessa forma? Deus falou com eles por telepatia? Jesus perdoou ladrões e salvou uma prostituta de apedrejamento, então, como é que eles sabem tanto do julgamento divino, sendo o próprio Jesus imprevisível em suas decisões e atitudes? Lembram da famosa frase "aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra"? Vocês ainda estão apedrejando... Quem são vocês para julgar?

As pessoas caem na prepotência de acharem que só porque pertencem a uma religião, elas são boas. Teoricamente, deveria ser assim, mas vocês considerariam um padre/pastor pedófilo como uma boa pessoa? E bom... Ele é padre/pastor... Religião não significa nada hoje em dia. Deveria ser uma filosofia que nos faz melhor, mas não é assim. A religião voltou a ser um instrumento influenciador de massas aliado aos interesses políticos. É por isso que vemos líderes religiosos na política e isso é perigosíssimo. Muitas pessoas não consideram, pois pertencem àquelas crenças, mas imagine você, sendo cristão, governado por alguém da Umbanda, que muitos, infelizmente, condenam e que esse político resolve fazer uma cerimônia umbandista perto da sua casa... Você iria gostar?

Existiu um período na história em que religião e política caminhavam juntas e a esse período, deram o nome de "Idade das Trevas".



- Dali, mas vc só está dando exemplos de cristãos.

Ok. Então olhe todo o caos que está acontecendo na Síria. Isso é o extremismo religioso, ligado com a política, que faz com que muita gente morra, fugindo do governo e dos conflitos que existem por lá. Por isso é que é importante que o Estado seja LAICO!!! O Estado laico não impede que você exerça a sua religião/crença. Ele apenas não impõe a crença DELE sobre você, portanto, se vc é católico, não teria que se incomodar com um governador/prefeito/verador/etc muçulmano, querendo que você siga a crença deles, se você é da umbanda, não precisaria assistir culto nenhum que o político quer celebrar pq é a crença dele e assim, vai. As pessoas não compreendem isso e acham que é uma espécie de "repressão à crença religiosa" quando, na verdade, seria uma liberdade maior de você acreditar no que quiser, sem o Estado empurrar "goela abaixo".

As religiões de matrizes africanas são as que mais sofrem com esse preconceito todo.


E falando nos negros, eu confesso que antigamente, eu acreditava que "cotas eram um preconceito que os negros tinham contra si mesmos", mas sabe o que me fez mudar de ideia? Num foi lendo "O Capital" de Marx, nem vendo o documentário do Che Guevara não. Foi indo a uma reunião da Secretaria de Cultura do RN, que estava para ser criada e lá, haviam pouco mais de 15 pessoas auxiliando a criação de um documento para que a Secretaria se tornasse bem forte, inclusiva e que tivesse bastante material. Eu juro a vocês que não vi a Cláudia Leite, nem a Ivete Sangalo, nem o Roberto Carlos... Nem nenhum artista famoso lutando por nada ali. Só vi minorias: eu, que lutava por uma maior inclusão da ópera e da música clássica; uma moça que queria uma maior inclusão da música da favela; poetas, que queriam mais eventos de poesias; negras, que lutavam por inclusão de apresentações mostrando a cultura negra e foi aí que parei para pensar e percebi que nunca vi NENHUMA coisa desse tipo... Vi também uma moça com uma intérprete de libras, pedindo mais espetáculos em que os surdos possam assistir... Como eu estava presente e VI tudo aquilo, minha ficha caiu para uma série de questões... Os negros (e os deficientes tmb) não têm espaço para NADA! Nem para a cultura, nem para a educação, nem para a saúde... NADA!!! Foi aí que vi a importância das cotas para eles, pois eles, ao contrário de nós, PRECISAM. Não é "um benefício que eles têm em cima dos brancos". É uma compensação por todos os anos que eles passaram estudando em escolas públicas, onde muitas delas tem um ensino de má qualidade e pela pobreza que muitos sofrem e que ainda é fruto da escravidão que os ancestrais deles sofreram... É um DIREITO que eles têm de todos os anos de repressão e violência causadas por nossos ancestrais brancos.

Muitas coisas que acredito hoje e que estão mais para a visão "de esquerda" não são porque "aprendi com meu professor comunista de Humanas" não. Foram situações e pessoas que eu conheci e VI e que me abriram os olhos para muitas questões que eu não enxergava! Coincidentemente, essas opiniões foram mais semelhantes aos pensamentos das pessoas ditas "de esquerda". Não tenho algo do tipo "só concordo com o que a galera de esquerda diz e detesto tudo o que é de direita". Eu tenho a opinião dos textos que leio, reflito sobre eles e vejo o que mais faz sentido. Na maioria das vezes, os textos "da esquerda" fazem mais sentido para mim do que os da direita, o que não significa dizer que "a direita está errada" ou, como algumas pessoas gostam de extremar, que "eu tô louca pra que implantem o socialismo aqui no Brasil".

É por essa diferença de pontos de vista do povo "de esquerda" que ele não se une... Existem tantas visões diferentes da galera dita "de esquerda" que eles acabam focando mais nas diferenças do que nos pontos em comum. As pessoas de direita, por sua vez, também têm pontos de vista diferentes, mas mantém um padrão mais semelhante... Muitos estão cheios de certezas, enquanto a "esquerda" tem muitas dúvidas e é por isso que hoje, eles estão avançando, deixando um rastro de retrocesso por onde vão. Basta uma opinião contrária e vc já recebe o seu "crachá de comunista".



- Mas Dali, os "oprimidos" e as pessoas "de esquerda" também têm muito ódio

Acredito que sim, mas não é a mesma coisa. Não é que "toda pessoa de esquerda seja oprimida". Eu que juntei tudo "num bolo só". Eu tinha tudo para ser "de direita": sou branca, heterossexual e sou classe média/pobre, mas eu preferi desenvolver algo chamado EMPATIA, que é essa coisa que tanto reclamei que está faltando no mundo... A habilidade de você se colocar no lugar do outro... De você pensar "o que eu faria se estivesse na pele daquela pessoa tão diferente de mim"? Isso é diferente de você tentar se colocar no lugar de alguém, "pensando como se a pessoa fosse você mesmo", pois acho ridículo os discursos de "se fosse eu, tomaria vergonha na cara e fazia diferente". É muito fácil dizer isso quando você está pensando como você mesmo(a), olhando para uma terceira pessoa e não uma pessoa que tenta se colocar no lugar da outra, tentando ver o mundo sob a ótica dela, na medida do possivel. E nisso, me atrevo a dizer que a galera "de esquerda" é muito mais empática e, muitas vezes, utópica.

O oprimido tem ressentimentos do seu opressor, evidentemente, mas são muito poucos os que os agridem "de graça", pois o oprimido tem mais consciência. Eu nunca vi um gay bater num hetero porque "odeia heteros", nem um negro bater num branco "porque odeia brancos" ou uma mulher bater num homem "porque odeia homens", mas já vi o contrário acontecer, mesmo que os agressores não admitam o seu ódio.


Ódio. Muitas vezes confundido com opinião... Como diferenciar? É fácil: geralmente, eles não se baseiam em nada. A única sustentação que têm são ideias pré-concebidas e que não permitem o questionamento. "Os negros são preguiçosos". "As feministas são vitimistas". "É uma pouca vergonha que mostrem beijo gay na TV"... Qual a base disso? Por que você pensa assim? "É a minha opinião" não é resposta. E querer que qualquer uma dessas pessoas, que já têm tanto sofrimento em suas vidas, seja agredida ou morta é discurso de ódio, e o discurso de ódio faz de você uma má pessoa, portanto, não se atreva a se entitular de "pessoa de bem" se você está torcendo pela morte do(a) seu(sua) irmão(ã).

O ódio dá prazer para algumas pessoas... É um parque de diversões. Para elas, é engraçadíssimo entrar na internet para "caçar treta" e xingar aquela pessoa que "está cheia de blá, blá, blá pq é metida a intelectual". Aliás, acho surpreendente que além de todo esse ódio aqui exposto, existam pessoas que odeiem outras porque elas possuem um discurso inteligente...


As pessoas se viciam em emoções e o ódio é uma delas. É um elixir de felicidade temporária que a faz rir por fora, mas a mantém vazia por dentro, como se fosse um corrosivo que destrói toda a sua razão e sensibilidade.

Ah, o ódio... Maquiavel dizia "é melhor ser odiado do que ser amado, pois enquanto o amor descansa, o ódio é vigilante"...

E estamos vigilantes... Alguns estão tão vigilantes que enxergam coisas que não existem porque o ódio emburrece. A pessoa está tão focada em "derrubar" aquilo que a incomoda que não consegue raciocinar direito ou faz associações esdrúxulas.


Certa vez, vi várias pessoas que defendiam que o "nazismo é coisa de esquerda" porque eles tinham um Estado forte e o partido nazista de chama "Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães". Se for assim, o PSDB é um partido socialista pq o "S" significa "Social" e os países escandinavos são socialistas também, pois possuem uma das maiores taxas de impostos e muitos têm um Estado bem forte: saúde e educação públicas e muitos benefícios do governo.


É ensinado na escola que "o nazismo foi mau" e vêm toda aquela mania maluca de "tudo o que é de ruim, é o outro de quem eu discordo", mas as pessoas esquecem o que é que o Hitler defendia. A Alemanha enfrentava uma crise e Hitler colocou a culpa nos judeus, nos marxistas, nos negros, nos LGBT, deficientes, etc. E o que as pessoas de extrema direita são contra, por causa da "família e valores 'conservadores'"? Os negros (cotas), marxistas (ou socialistas de forma geral), LGBT e substitua os judeus por feministas... Quais os ideais mais semelhantes com o ódio nazista? Hitler tmb era cristão e apesar do holocausto ter sido um capítulo muito triste e sangrento na história da humanidade, tenho certeza que ele não se considerava uma pessoa má... Ele realmente acreditava que estava fazendo um bem enorme à Alemanha e à raça ariana, que ele acreditava ser pura e superior.

Tradução: "quando os alemães viram a suátisca pela primeira vez, ela não representava o MAL. Era um símbolo de ESPERANÇA e MUDANÇA. Pense sobre isso."


O único tipo de ódio que seria condirado positivo, seria o ódio às injustiças que outras pessoas sofrem... À falta de voz dos excluídos... À tirania... À violência desnecessária... À arrogância... À ganância desmedida... A tudo, enfim, que prejudique as pessoas que mais precisam de uma mão ou que machuque alguém que você ama.

Portanto, meus(minhas) queridos(as), pensem muito bem se vocês não estão reproduzindo comentários semelhantes, pois talvez, vocês possam ser os nazistas/fascistas da atualidade. E pensem! Leiam! Questionem! Estudem! Discutam sem ter que atacar a pessoa! Ataque a ideia e diga porque você é contra! Conversem!

E, para finalizar meu post, sempre que você quiser escrever uma mensagem de ódio ou quiser celebrar a morte de alguém sendo uma pessoa religiosa, lembre-se dessas frases:


"Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento..." (Mateus 5:22)
  
"Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê."
(1 João 4:20)

"Quem afirma estar na luz mas odeia seu irmão, continua nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há causa de tropeço. Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas o cegaram." (1 João 2:9-11)






Se meu post conseguiu causar alguma reflexão em alguém, fico feliz, mas se não... Eu tentei. :P Hehe!

PS.: não estou tentando fazer as pessoas "deixarem de acreditar nos valores de direita e que sejam de esquerda" e sim, que se questione se uma ideologia que faz vc odiar tanta gente é mesmo boa para você e para os outros ou, pelo menos, que vc saiba separar o que é ideologia política e o que é discurso de ódio e preconceituo puro, que também pode vir de pessoas ditas "de esquerda".