Como eu amo (trecho de "O que os olhos não veem")

sexta-feira, 28 de abril de 2017


Amo com sons e com música,
Com cantos e sussurros,
Com intensidade de toques,
Com arrepios e suspiros,
Com aromas e trocas,
Com a energia dos sentimentos mais profundos da alma, que se encontram e se tocam, e mesmo no mais absoluto silêncio, se entendem, se inunam, transbordam, completam e incendeiam...

Tempos e drogas


Teus lábios são o veneno que me vicia
O toque viciante que me inebria
O calor palpitante que me insacia
Saudade entorpecente e melancolia...

Esvazio o coração e tu me vens à mente
Passado sem futuro e ainda tão presente
Anseios que machucam mais que acidente
Sentimento que persiste insistentemente...

Desejos que se encontram e permanecem
Feridas que ainda sangram e se esquecem
Encontros escondidos, sem que soubessem
Paixões inesquecíveis e que adormecem...

Amei por nós e mal eu sabia
Que teu amor não correspondia
À visão leve e de alegria
Que tanto sonhei ter algum dia...

Fui refém das expectativas
Por mim, tão mantidas...
É só carinho o que cativas...
Sem amor. Só vida...

Vida que segue parada
Deste nobre sentimento
E que num futuro momento,
Sentirá mais nada.


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 23/03/2017)

Sentimentos mudos


Confesso o que sinto por olhares
Silêncio sempre presente...
Te vejo nos céus e nos mares
Em devaneios sempre contentes

Fito o infinito
Te sentindo ao vento,
Como um sonho bonito...
Como um doce acalento...

Te beijo em essência
De café e de flores...
Amando com ciência,
Em equações e em cores...

Te busco e te acho
Reinando aqui dentro,
Fluindo no límpido riacho
Do amor que em mim concentro

Te amo com as notas
De várias escalas...
Do canto que brota...
Da palavra que cala...

Não. Te amar, não devo
Pois a mim não compete...
A menos que a harmonia acorde
E nos versos que escrevo
Busco não quem me complete,
Mas quem me transborde...


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 09/04/2017)

Histeria coletiva


Um grito nas ruas...
Um clamor interno...
As almas tão nuas...
Um padecer no inferno...

Abril se a porta
Tivesse aberta...
Ninguém se importa!
Ninguém desperta!
A brecha é torta...
A morte é certa.

Em Estado de choque
Caminhamos parados...
Não há dor que toque.
Estamos juntos e isolados...

Não há amor que una.
Não há lágrima que falte.
Não há lei que puna.
Nem maquiagem, nem esmalte.

Há feridas e lutas
Que bradam por socorro...
Eu morro! Eu morro!
Tantas mentiras ocultas...
E verdades de que corro...

Tantas disputas e protestos
Aqui dentro e lá fora...
Tantos desejos funestos...
De que levem-me embora...

Mas luto, em eterno duelo,
Por mim mesma e por quem gosto.
Por meus ídolos em meu castelo...
Por quem amo e não mostro...
Para dar fim a meu auto-flagelo...
Pelo o que penso, mas não posto...
Pelo o que sinto, mas não encosto...
Pelos amores e pelo elo...


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 29/04/2017)

Seiva Ocular

sábado, 22 de abril de 2017


Observo-te à distância...
Tal beleza que me fascina...
E escrevo cartas em tua importância...
Jamais lidas a quem se destina...

Tento manter a discrição...
Um leve desejo em esboço...
Comprometida, no entanto, pela ação
Do entortar do pescoço...

Fito-o a te admirar...
Tão agradável é o exterior...
Consumindo-te com o olhar...

Saciando-me com o sabor
Que degusto ao te fitar...
Sem confundir com amor...


(Daliana Medeiros Cavalcanti – 17/02/2008)

Enigmas da boa-noite


Todas as pessoas,
Com seus amores e desamores,
Sempre em movimento,
Comparo-as às flores
Que se movimentam ao sabor do vento
Em correntes más ou boas

São belas porque existem
E se o bem fazem, são belas
Vivem vidas paralelas
E em meu jardim residem

Brotam em pétalas e odores
Espalhando sua essência
Meus amigos... Flores...
Que cultivo com veemência

E as pessoas, então, florescem
Se ornando das mais belas cores
E têm de mim o que merecem
Quando cativo os seus valores

Semear é minha sina
E a colheita é o resultado
Da energia que se aglutina
No sentimento compartilhado

Responda-me se és capaz:
Mediante estes fatores,
Se minha flor tu flores,
Que flores tu serás?"


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 26/02/2014)