Pessoas com várias aptidões

domingo, 15 de julho de 2018


Nesses últimos dias, andei pensando sobre certos tipos de pessoa... Pessoas muito especiais e nas quais tenho o maior carinho: as pessoas com múltiplas aptidões.

Você já deve ter ouvido falar em pessoas que comentam "fulano não sabe o que quer da vida. Vive mudando de curso e nunca conclui nada. Só faz isso porque acha que vai ter mamãe e papai que vão sustentá-lo(a) o resto da vida".

De fato, há pessoas que são assim porque estão desinteressadas, mas nunca podemos generalizar. As pessoas com várias aptidões são facilmente confundidas com essas pessoas que são desinteressadas, mas o motivo que muita gente desconhece é justamente o contrário: elas são boas e se interessam por tantas coisas que é difícil para elas decidirem o que querem "fazer de suas vidas".

Nós sabemos que a vida é feita de escolhas e escolher é algo muito difícil para essas pessoas e o pior é que elas ouvem de várias pessoas, por exemplo: "Nossa! Você tem jeito para escrever! Deveria fazer jornalismo. Nossa! Você tem jeito com os números! Deveria ser engenheira! Nossa! Você fala muitas línguas. Já pensou em ser diplomata?" e isso confunde mais ainda a cabeça delas, que ficam sem saber por onde ir.


Sei que muita gente deve estar pensando: "E isso lá é sofrimento? Se eu fosse bom(a) em várias coisas assim, estaria feliz da vida. É frescura! Mimimi!", mas não é beeeem assim.

Como falei anteriormente, essas pessoas têm muita dificuldade em seguir um norte e são muito mal-interpretadas. Muitas delas são vistas como "ovelhas negras da família" por causa disso e são muito desprezadas e menosprezadas por muita gente. As pessoas, em geral, são rápidas em julgá-las e em colocar a tarja de "vagabundas" nelas.

Tive a alegria de conhecer algumas dessas pessoas e, sinceramente, sou muito feliz em conhecê-las! Elas são algumas das pessoas mais interessantes que já conheci, sem mentira nenhuma e as acho muito mais interessantes do que as pessoas que "arrotam sucesso" (sucesso esse que, algumas vezes, pode ser mentira) ou que querem passar essa ideia de sucesso para que você compre algum produto e que assim, você possa seguir aquele estilo de vida, como se aquilo fosse uma receita de bolo ou uma fórmula certa, absoluta e infalível para atingir a felicidade. Só o que tem na internet são cursos com esses "experts da alegria e do sucesso".


Escrevo esse texto para falar delas e para que elas saibam o quanto elas são pessoas fascinantes e super-inteligentes, com muito assunto, muito conhecimento e muitas experiências para contar. Se, ao menos, as pessoas não fossem tão bitoladas ao enxergar apenas "o caminho único do mercado e ascensão social", elas ficariam impressionadas em trocar ideias com essas pessoas também e o problema está justamente aí - muita gente tá tão obcecada com a ideia de conseguir um emprego que toda e qualquer coisa que você faça, que não tenha viés lucrativo é visto como algo sem-futuro e sem valor.

A questão é que conhecimento e dinheiro são poderes e essas pessoas de aptidões diversas até poderiam ganhar dinheiro com o tanto que sabem, mas algumas vezes, não sabem como ou até sabem, mas seguem sem rumo porque não sabem se estudam medicina ou se viram musicistas ou se tornam advogados...

O mais importante para essas pessoas é que elas tentem se encontrar nesse emaranhado de talentos que elas têm e tentem imaginar com o quê elas se sentem mais completas ou como elas se veem daqui a alguns anos. Talvez isso as ajude a se colocar nesse mundo tão dependente e submisso às finanças e que elas encontrem alegria nisso. Não é que elas não desenvolvam as outras atividades em que elas também tenham aptidões, mas que elas tentem separar qual atividade ela pode ver como emprego e trabalhar em cima disso e quais outras aptidões ela pode ver como hobby e exercê-las em suas horas vagas.


Nadar contra a correnteza é difícil e por isso, é complicado conseguir desenvolver e exercer todas essas aptidões num país como o nosso, mas essa visão única de mercado está mudando e vai mudar cada vez mais. O que algumas pessoas podem interpretar como "taí um candidato à vaga que não sabe o que quer da vida", outra interpretam como "taí uma pessoa com uma vida tão interessante que sabe fazer muitas coisas diferentes".

Eu mesma me vejo como uma dessas pessoas (e talvez seja por essa identificação que sinto uma sintonia muito grande com esses(as) amigos(as)): já me disseram que deveria ser jornalista por escrever bem, que deveria ser psicóloga, maestrina, roteirista, desenhista, escritora, professora de matemática, de inglês ou de canto, etc e até me interesso por muitas coisas e muitas áreas e passei um tempo na dúvida em relação ao que fazer, mas decidi abraçar a minha paixão e agarrá-la com unhas e dentes: ser cantora lírica.


Não foi fácil escolher, porque além de gostar de muitas coisas, a arte e o artista, como um todo, sofre muito preconceito e para alguém viver de arte requer muita coragem e muita garra, pois empregos para esse tipo de profissão não são muitos e nem sempre você é valorizado ou ganha bem, mas escolhi e estou enfrentando todas as consequências da minha escolha, com medo, mas feliz e não me imagino fazendo outra coisa. O resto é hobby ou complemento da minha felicidade.

Não que eu me ache "um exemplo de sucesso", mas sou exemplo de uma doida feliz. Hehe! Por isso, compartilhei um pouco da minha história.

Se você se identifica como esse tipo de pessoa, respire, pense nesse texto e no quanto você é incrível por ter talento para tanta coisa, reflita e construa ou invente o seu próprio caminho para a felicidade, seja ele qual for.