Palavras e conhecimento/consciência

segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Nossa! Faz tempo que não escrevo aqui... Vou ver se destravo um pouco mais a minha escrita para registrar um pouco as minhas reflexões e, obviamente, por serem reflexões, não são verdades absolutas: são a minha visão do mundo, baseada nas minhas experiências. Podem ressoar ou não com a visão de vocês leitores(as).

Ultimamente, tenho pensado sobre várias coisas... Uma delas é em como adquirimos conhecimento e que ele pode ser adquirido tanto de forma acadêmica, por meio de estudos, como pode ser pela dor da experiência e da vida como um todo.


Certa vez, ouvi de um amigo que "há duas formas de aprendermos as coisas: pela dor ou pelo amor." Pelo amor, nós temos as aulas e os ensinamentos, transmitidos com paciência, de nossos(as) professores(as) e/ou mestres(as), ... De nossos pais ou familiares... Por reflexões... Mas essas mesmas pessoas e situações podem nos ensinar por meio da dor... De palavras ou comportamentos duros que, muitas vezes, não esperávamos...

Palavras duras me fazem lembrar de um podcast FANTÁSTICO, de uma análise e interpretação FANTÁSTICAS que um psicólogo, chamado Pablo de Assis, fez sobre Anjos e Demônios, em especial, sobre a Queda. O psicólogo interpreta que ao criar a luz, Deus criou, antes mesmo, a palavra com o comando "faça-se".


Clique no link acima para ouvir o podcast.
Esse é o terceiro de uma trilogia maravilhosa sobre Anjos e Demônios, todos comentados por este homem, e que possui uma trilha sonora belíssima. Recomendo fortemente que escutem.


Então, temos dois anjos e não apenas um, que seria o anjo da luz. Luz e palavra ajudaram a criar o mundo, mas a luz expõe e torna visível coisas que não veríamos em sua ausência. A luz também pode ser interpretada como o próprio conhecimento ou a consciência. Logo, ao falar, muitas pessoas devem buscar a luz, ou seja, a consciência de seus pensamentos e atitudes, para que não sejam palavras ditas em vão, de forma até "jogada", sem que as pessoas se responsabilizem por elas. É a luz do conhecimento que traz essa consciência. Sem ela, as pessoas dizem e fazem muita besteira.

As pessoas confundem muito "as luzes". Quando me refiro a esta, apesar de ter utilizado a interpretação religiosa dos anjos e demônios, eu não me refiro à religião e, obviamente, também não me refiro a formações acadêmicas. Me refiro, antes de tudo, ao autoconhecimento e ele é uma busca e luta diária. É algo que não é fácil de fazer, pois para isso, temos que trazer a luz para dentro de nós mesmos e essa luz vai mostrar todos os monstros horrorosos que carregamos em nosso coração e não é fácil admitir que temos esses monstros. Por isso, é um trabalho árduo e que nunca para. É um trabalho que, antes de tudo, dói... Dói e MUITO!


Dói ver que você, às vezes, não é tão forte quanto parece... Dói ver que você não é tão sábia quanto parece... Dói ver você não é tão boazinha(o) quanto acha que é... Dói ver os contrastes e disparidades entre nosso interior e exterior e o quanto enganamos aos outros e a nós mesmos(as)... Dói ver que sentimos raiva SIM, que sentimos inveja SIM, que nutrimos um desejo de vingança SIM... Iluminar todos esses monstros e contemplar toda a nossa feiura DÓI.

Mas a questão não é nos recriminarmos por isso. Isso seria o mesmo que "educar a criança no tapa", que é algo que não resolve e o melhor a fazer é acolher aquele monstrinho e tentar educá-lo ou suavizar sua dor e assim, será mais fácil lidar com ele.

Somos humanos(as). Todos(as) nós temos esses monstrinhos. O problema está quando ele se apodera de nós e não nós deles e aí, agimos de formas inconsequentes, inclusive, com palavras...


Falando parece fácil, mas também não é fácil ver os monstrinhos e acolhê-los. Para isso, é necessário humildade. Você se reconhecer como um ser imperfeito, que está aqui no mundo para aprender. Alguém que está em constante transformação. Um eterno aprendiz, mas não é fácil fazer isso também porque para sermos humildes, devemos abrir mão do nosso ego e nossa! Como é difícil fazer isso!

Somos cobrados de tantas formas (muitas vezes, as cobranças são próprias) que é mais fácil vestir uma carapuça e pensar "eu estou certo(a) e coberto(a) de razão" e não se iluminar por dentro para ver "se é isso mesmo". É mais fácil pensar que está certo(a) do que olhar para si, reconhecer o erro e pedir desculpas por algo que você fez a alguém. Palavras que você disse sem pensar muito, no calor do momento. Para quê pedir desculpas se você está revestido(a) com a armadura da sua verdade e do seu orgulho?

E, mais uma vez, as palavras se mostram traiçoeiras, pois elas confundem a cabeça das pessoas.

As pessoas confundem "amor próprio" com "orgulho" e "humildade" com "se humilhar". Amor próprio é quando nos amamos, nos cuidamos e isso nos basta. Não precisamos mostrar isso ao mundo. Quando alguém faz questão de mostrar algo, desconfiem, amigos(as), pois, muitas vezes, a pessoa está, na verdade, tentando convencer a si mesma. É uma autoafirmação. Não é amor próprio.



O orgulho é uma das coisas que mais fazem com que escondamos nossos defeitos. Putz! Agora compreendo a associação Bíblica do orgulho/vaidade com o maior pecado, que levou Lúcifer ao inferno e tudo o mais (hehe! Sim. Pasmem: uma agnóstica trazendo referências bíblicas): é o orgulho/vaidade que obscurecem a nossa vista para nós mesmos(as) e os(as) outros(as)! Se vc não está vendo onde você errou, num desentendimento/briga, cuidado! É provável que você esteja tomado(a) pelo orgulho e que isso esteja cegando você!

Todo desentendimento tem dois lados e dois pontos de vista, portanto, ambos erraram e ambos, provavelmente, também acertaram. A decisão mais sábia seria colocar esses pontos de vista "na mesa" para chegar a um entendimento e assim, estabelecer a paz consigo e com o(a) outro(a), mas para fazer isso, você tem que ser humilde e chamar a pessoa para conversar.

E eis a confusão da humildade com o se humilhar: muitas pessoas acham que, ao fazer isso, elas estão se humilhando perante o outro e assim, o desentendimento vira um eterno combate: "não vou falar com ele(a) porque assim, estarei me humilhando e fulano(a) terá vencido. Fulano(a) vai se achar dono(a) da razão e não darei esse gostinho(a) a ele(a). Não vou me humilhar!"


Muita gente pensa dessa forma, infelizmente e assim, vemos discussões/brigas longas e algumas são bem tolas. Há casos, claro, em que as diferenças são grandes demais e não há como conciliar, mas quando há, por que não buscar essa paz? Por que prolongar algo que poderia ter sido resolvido há mais tempo?

É, amigos(as)... O orgulho cega porque é a falta de luz...

E ter humildade é não se deslumbrar com suas virtudes e/ou posses e ao não se deslumbrar, chegar ao outro que se acha/se sente superior a você ou o(a) dono(a) da razão e perguntar: "podemos conversar?". É você querer conversar com o objetivo maior de estabelecer um acordo de paz e não de ter razão e "vencer a discussão".



Já se humilhar é o total oposto de ter orgulho: você acha que é uma pessoa que não possui valor algum e fica, o tempo todo, mendigando afeto dos outros, não importa se você tenha que implorar para isso. É você jogar toda a responsabilidade pela sua felicidade no outro quando ela é sua, na verdade. Outros podem interferir nela (e essa postagem serve para falar disso), mas você é o(a) responsável pela sua própria alegria.

Assisti uma entrevista com a Jout-Jout no novo Provocações, com o Marcelo Tas e teve uma frase que ela falou que achei fantástica: "numa discussão/diálogo, você tem que entrar com a vontade de querer perder e não de querer ganhar a discussão." Acho que é uma lição bem difícil, mas acho que valeria a pena tentar aplicar.

Para quem ainda não viu, veja o vídeo acima. Ela é maravilhosa!


Percebem? Um diálogo é estabelecido por meio de palavras. A autorreflexão também, mas palavras proferidas de forma irresponsável machucam e são uma arma terrível. Vemos pessoas na internet e nas ruas se agredindo gratuitamente e, no caso da internet, a irresponsabilidade ainda é maior, pois o contato humano se dá através de uma tela, o que torna a pessoa mais fria aos sentimentos do outro e, portanto, menos empática.

Além disso, a punição a esses ataques é pouca e é por isso que vemos tanta gente que fala coisas, clamando o direito à livre expressão, mas está na Constituição que "você é responsável pelo que diz" e se for um comentário preconceituoso e agressivo, você pode ser punido sim.


Palavras podem envergonhar, animar, magoar, despertar paixões, despertar a ira... E por serem tão poderosas, devem ser manifestadas com cuidado. Somos responsáveis pelo o que dizemos ao outro. Também há um outro ponto: como o outro interpreta as nossas palavras. Volto a dizer: um desentendimento/briga tem dois lados. É um fenômeno de coparticipação. Dificilmente, existe um lado que é apenas a vítima e o outro lado que é apenas "o(a) inquisidor". Cabe a cada um saber onde errou e falar sobre isso.

Saber onde erramos requer consciência, conhecimento e autoconhecimento e me vem à mente a imagem de pessoas sábias. Eu tento imaginar pelo que elas passaram e o o que elas tiveram que renunciar para atingir aquele grau de sabedoria... Fico imaginando que todas elas são profundamente marcadas pela dor, mas nem todas são pessoas tristes.


Ao que me parece, o conhecimento causa a dor em si mesmo e a ignorância, uma dor ao outro e, geralmente, se levarmos em consideração, mais uma vez, pelo desentendimento numa relação (seja ela familiar, de amigos, namorados, etc), quem sofre, geralmente, está sendo incompreendido pela ignorância/falta de empatia do outro em relação a ele(a).

Ou seja, ignorância ou conhecimento, ambos doem porque a viver dói. Faz parte da vida e não é fácil viver e, por isso, escolhemos quais as dores que mais nos agradam e nem sempre, é um caminho retilíneo e com plena e total consciência, tipo "escolho o conhecimento/a ignorância sempre". É mais parecido como: "tenho conhecimento em matemática, mas sou ignorante com as línguas. Tenho conhecimento em política, mas sou ignorante em engenharia. Tenho conhecimento do que toca o outro, mas não sei o que me toca" e mais parecido ainda com "naquela situação específica com fulano(a), eu fui sábio por esse e aquele motivo e fui ignorante por esse e aquele outro motivo."


Ainda assim, buscamos o conhecimento em algumas coisas e é importante para nosso crescimento e amadurecimento. Ao nos darmos conta de que todos nós estamos nessa jornada da vida, maravilhosa e difícil, sofrendo por algum(ns) motivo(s), por que não escolhemos melhores palavras para lidar com o outro, que também está sofrendo tanto quanto você, pelo simples fato de existir? Será que o que essa pessoa cometeu contra você foi tão grave assim?

Como podem perceber, foquei um pouco na responsabilização das pessoas que falam um pouco sem pensar, pois acho que já existe muito conteúdo, na internet, falando sobre como relevar e "se blindar" para que o outro não machuque você, como se essa pessoa fosse o(a) único(a) responsável pelo seu bem-estar, mas se alguém agiu de maneira imprudente, ela também deve ser responsabilizada e deve se conscientizar disso.


O grande a maravilhoso Prof. Leandro Karnal, de quem sou fã, falando sobre essa questão de você não dar o poder ao outro de te ofender. Um exemplo maravilhoso desses conselhos para nós nos protegermos do descuido dos outros com as palavras e quis complementar os pensamentos desse professor com essa corresponsabilidade dos outros que nos ofendem.



Enfim... Espero que esse pequeno texto de reflexões toque algumas pessoas e, de preferência, que ele possa contribuir para que elas absorvam alguma coisa daqui por amor e não por alguma experiência dolorosa, pois já temos feridas demais e não precisamos de mais palavras ásperas e cortantes.

Beijo a todos(as)!