Bifurcação

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017


Quando quero chorar, sorrio
Quaro quero gritar, escrevo
Quando quero brigar, desvio
Quando quero ajudar, devo

Quando busco a paz, me estresso
Quando sou ignorada, me encanto
Quando devo me calar, confesso
Quando quero me libertar, canto.

E vivo nesta dicotomia
Causada pela mente,
Duelo entre a cabeça, que cria
E o coração, que sente
Quando o pensamento irradia
As loucuras de um coração quente.

Nessa louca fusão de extremos
Busco a paz no caminho do meio
Através da dádiva que temos
De responder a tudo em nosso seio.

E assim, sigo minha jornada
Sempre em busca de harmonia
E em minha caminhada
Sempre entoo uma melodia
Que ilumina a estrada
Das respostas que encontrarei um dia.


(Daliana Medeiros Cavalcanti – 28/09/2013)

Nau de sons e de ventos

terça-feira, 24 de janeiro de 2017


Velejo
Nos profundos mares da vida
Vejo
Todo o meu ser...
E beijo...
A virtude e a ferida
Almejo
O amanhecer

No turbulento movimento
Das águas furiosas
Ajudadas pelo vento
Se encontram trevas curiosas
Que aguardam o momento...

Porém, na calmaria
Abrandam-se as ondas do mar
Inspira-se a maresia...
O doce assobio do ar...
Que o mundo irradia...

A luz é como a água
E como os sons que cantares
Capaz de afagar a mágoa
Que inunda os nossos lares...
E tudo mais que sonhares...


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 18/10/2016)

Impressões sobre o GLOMUS 2017

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


Nossa... O que dizer ou como definir todos esses dias que passei no Glomus? Não tem como! Não tem como definir com palavras essa experiência maravilhosa e transcendental...

(Prepara que lá vai o textão)

Foram tantas as lições que aprendi que será impossível listar tudo aqui, mas tentarei... Hehe!

1) É maravilhoso conhecer culturas TÃO diferentes... Tinha muita gente da África do Sul, Finlândia, Gana, Dinamarca, China, Austrália, Aruba, Geórgia, Palestina, EUA, Mali, Moçambique, Irlanda, Estônia, Letônia, Egito, Malásia, Indonésia, Itália... Foi uma experiência incrível ver algumas pessoas em seus trajes tradicionais, tão orgulhosas de mostrar sua cultura e compartilhá-la conosco e também tão interessadas na nossa cultura. Foi algo muito lindo e interessante de se ver.

2) Gente, vou dar uma "caetanada velosada", mas: O MUNDO É LINDO!!! As pessoas do mundo são lindas... TUDO É LINDO!!!      Sério! Estou encantada com a beleza tão particular de cada pessoa. Foi tudo muito especial e único.

3) Quem me conhece, sabe o quanto tenho elogiado a Arte de um modo geral. Talvez porque comecei a abraçá-la e me sentir cada vez mais parte dela... Eu consigo compreendê-la cada vez mais e vejo o quanto ela é imprescindível ao mundo, mesmo que tanta gente discorde e ache besteira... A Arte humaniza as pessoas e quebra barreiras. Era INCRÍVEL ver o quanto a Arte rompia tudo! Quando uma música brasileira com raízes africanas ou as próprias músicas africanas tocavam, não importava o idioma ou de onde vc era: o que importava era o brilho no olhar das pessoas que dançavam com você e aí, não havia mais nacionalidade, nem raça... Só haviam pessoas se divertindo e compartilhando amor e alegria.  Não só a dança, mas a música também faz isso e o teatro. Quando as performances teatrais eram executadas, as poucas palavras faladas foram "da", "ala" e "mix" e todo mundo entendeu a linguagem do corpo e o que a "peça" mostrava... E na música, foi engraçado quando um americano falou que no small group dele, tinha gente que não falava uma palavrinha de inglês e ele ficou preocupado, mas quando essa pessoa tocava na guitarra, ele pensou "nossa! Esse cara é um monstro" e aí, ele pegou a guitarra dele também e aí, tocaram juntos, apreciando e admirando o som um do outro.

4) Foi muito legal ouvir uma professora americana reconhecendo que muitos americanos acham que os EUA são o centro do mundo, mas estar num evento como esse e ver TANTA GENTE de tanto canto diferente, ela percebeu que não são e as coisas que se aprendem aqui, na prática, são coisas que na vida acadêmica normal, levaríamos 4 semestres para aprender ou mais. Foi muito legal a fala dela.

5)
Esse evento foi um oásis no meio de tanto caos... Foi tanta coisa aprendida... Tanto carinho compartilhado e novos laços formados... Tanta bondade e gentileza das pessoas... É muito difícil ter fé quando vemos, nas notícias, coisas como a fuga dos presos de Alcaçuz... As chacinas... A queima de arquivo do avião com o Teori... Trump assumindo a presidência dos EUA (inclusive, uma americana foi quem citou esse item, não em termos do que acontece aqui, mas quanto à vitória do Trump). É muito bom ver que ainda existe amor, bondade e gentileza no mundo.

6) Outra coisa incrível nesse evento é você se dar conta do quanto você não sabe... Eu não sei NADA de cultura africana... Nem chinesa... Não sei quase nada, inclusive, da própria cultura brasileira e eu mesma fiquei chocada por isso! Tanta dança folclórica que nem conhecia... Umas que não sei nem o nome e sei nem por onde vai...

7) Reparei que quando existem cortes na verba para orçamento da cultura, não é no bolso da Cláudia Leite que o Governo tá mexendo não. São em eventos como ESSE, que pode trazer tanta coisa boa e importante para nós e, mais ainda, em artistas pobres, pois são ELES quem tentam manter o nosso folclore. O "Pastoril", "Caboclinho", "Bumba Meu Boi" não são culturas mantidas pelo Roberto Carlos... Nem pelo Michel Treló, nem MC Catra... São mantidas por pessoas bem pobres que, praticamente, vivem de tentar manter essa tradição viva... Uma tradição cultural que ninguém dá valor e que pode morrer por causa disso...

8) E aí, você se dá conta do quanto nossa cultura é muito rica sim. Os estrangeiros AMARAM os nossos ritmos. AMARAM!!! O povo não podia ouvir um forró que já estavam se jogando e uma bailarina/dançarina, inclusive, reclamou que ela sentiu falta de mais aulas de capoeira.

9) Vc vai aprendendo que mesmo entre tanta diferença, há MUITAS semelhanças... A música brasileira tem MUITO do batuque africano. Tem demais até! A música africana deixou marcas bem profundas na nossa música. A europeia também. Foi muito interessante assistir os finlandeses dançando e vendo que eles têm termos para guiar os passinhos de dança. Era muito semelhante à quadrilha junina e falei isso, inclusive, para uma finlandesa, citando o nome "quadrilha" e ela falou que até a palavra é parecida e quando ela pronunciou, era parecido demais mesmo! Depois, vou perguntar a ela o nome e coloco aqui!

10) Foi muito legal sair da zona de conforto e não apenas cantar e ficar na música, que é minha área, mas me aventurar no teatro (Teatro Físico, mais especificamente) e até dancei!!! E olha que eu sou uma tragédia dançando!!! Não sei dançar nada, mas foi MARAVILHOSO pq é muito divertido e eu, pelo menos, tentei, né?  Hehe! Saí da zona de conforto até nos idiomas! Me aventurei no italiano.  Na verdade, fiz uma mistureba infeliz de italiano com espanhol e inglês. Foi "lindo". XD Hahahaha! Mas eu e o italiano nos entendemos e rimos bastante. XD Haha! Até arrisquei umas duas palavrinhas em francês (aí, veio um francês falando com a bexiga e entendi NADA. Hahaha!). E até arrisquei um "obrigado" em finlandês e inventei de falar "eu te amo" em finlandês, só pra me amostrar pra professora! XD Hahahahaha!

11) Foi maravilhoso esse intercâmbio, onde houveram apresentações regionais, não apenas da nossa cultura, mas da deles também. Só na China, tinham uns 10 instrumentos que nunca vi na minha vida! O que mais me impressionei era um que parecia um órgão, mas era de sopro. Achei fascinante aquele instrumento! Não só pudemos ver as pessoas tocando as músicas de suas próprias culturas como também misturaram e colocaram as pessoas para estudar um pouco outras culturas e apresentá-las... No coro, todo mundo cantou músicas em dialetos indígenas brasileiros e no nosso bom e velho português... E as Jam Sessions eram INCRÍVEIS!!! Era tudo improvisação e aí, vinham guitarras, percussão do Mali... Uma finlandesa dançando flamenco... Canto árabe ou estoniano... Noooooossa! Foi uma mistura linda e maravilhosa! E quando entrava a percussão africana, não tinha pra ninguém! Hehe! A galera se empolgava e ainda lembro que no Solar Bela Vista, onde foi a primeira Jam Session, os caras estavam tocando há mais de 2h e o público ainda doido e animado! Amando tudo e pedindo "mais um! Mais um!"

12) As pessoas adoooooooooooram repetir frases como "o povo daqui não gosta de cultura". Inclusive, eu me incluo nessas pessoas, às vezes. E gente... TODOS os dias de apresentações do Glomus, LOTOU de gente. LOTOU!!! Não cabiam mais pessoas e desde o primeiro dia, quando teve a apresentação de abertura do evento, um monte de pessoas ficaram sem poder entrar de tão lotado que estava e olha que o auditório do Holyday Inn tinham uns 1.100 lugares! Isso é a cara de um povo que não gosta de cultura? O povo de Natal está FAMINTO por cultura e fico feliz de ver isso com o Glomus e com o Grupo de Ópera Canto Dell'Arte, no qual faço parte.

13)
Descobri onde vende cabelo natural aqui em Natal. Hahahaha! Foi uma verdadeira saga, mas consegui achar os lugares, mas tipo... É facada... ^^'

Enfim... Esse curso incrível foi uma verdadeira aula pra mim... Aula não só de música, dança e teatro, mas de Geografia... Ética... História... Idiomas... Uma aula da vida! :) De quebra de preconceitos... De muito conhecimento que adquiri e de muito que ainda devo buscar... De rever velhas amizades e conquistar novas...

Foi maravilhoso e indescritível! Muitíssimo obrigada à EMUFRN e a todos da GLOMUS que tornaram esse projeto possível.      

Dia sem sol

sábado, 21 de janeiro de 2017


No plácido silêncio da madrugada
Um "urrar", em meu peito, traz lembrança
De aromas e sabores da alvorada
Onde a alma canta e dança
Porque era, por ti, amada...
E acendiam relampejos de esperança...

As luzes de um sentimento traduzido em beijos
Brilhavam e ofuscavam os defeitos
Esquecidos pelos insaciáveis desejos
Saciados em acolhedores leitos...
Mas as luzes, não mais as vejo...
Nossos laços foram desfeitos...

A penumbra transforma-se em treva
Com faíscas chamadas "memória"
E todas as emoções que leva...
O resto é apenas história...

O que se encontra nessas sobras
Além da dúvida e do medo?
O que escondem essas obras
Escritas, assim, tão cedo?

Medo de amar e sofrer...
Espalhados ao sabor do vento
De me encontrar e me perder
Em meio a tanto tormento...
E de perder e ter que esquecer
Como em outro momento...

Oh, escuridão interminável
Que não amanhece como eu queria
E romantiza o abominável...
E no fundo, um sussurro afável
Quer que a madrugada vire dia...


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 09/12/2016)

Reflexões sobre a Chacina de Campinas

sábado, 7 de janeiro de 2017


Li muita coisa sobre essa chacina e ainda me chocam ver os comentários de homens mostrando todo o seu ódio contra as mulheres. Aliás, "está na moda odiar pela internet" e pretendo fazer uma postagem especial somente sobre isso, posteriormente, mas agora, o assunto é a chacina.

Muitas pessoas estão fazendo comentários absurdos sobre o assassinato de toda aquela família. Absolutamente nada pode justificar aquilo e quando muitos homens se comovem com a carta que ele deixou, é preocupante... Principalmente porque uma das intenções dele e que ele deixou clara na carta é incentivar que os homens se vinguem de suas ex-companheiras, a quem ele chama, pejorativamente, de "vadias". E queridos leitores, um alerta: se você conhece alguém que se comoveu a ponto de tomar as dores do assassino e está esbravejando contra as mulheres ou comentando coisas absurdas, recomende que essa pessoa faça uma terapia e procure um psiquiatra/psicólogo. É sério. Se você não conhece, DENUNCIE!!! Discurso de ódio não é opinião!



Comentarei pouco, pois existe uma notícia, dissecando item por item da carta do assassino, muito bem escrita pela Carol Patrocínio aqui. Farei só mais alguns apontamentos que vi e não reproduzirei o conteúdo da carta dele, colando o que ele escreveu. Falarei "por cima", uma vez que a Carol já comenta cada item e por uma questão ética. Conversei com umas amigas e existem dois pesos e duas medidas ao divulgar uma carta como essa:
  1. Pode incentivar assassinos e psicopatas a fazerem o mesmo que ele fez e ele conta, na própria carta, que é exatamente isso o que ele quer;
  2. Pode causar a reflexão por parte das pessoas que escrevem e compartilham pensamentos preconceituosos na internet, que se consideram de "extrema-direita".

2016 foi um ano de muitos crimes chocantes e um ano chocante também para a política e me assusta que as pessoas estejam misturando tanto as coisas.

Ser de direita não é um problema. Ser de extrema-direita é. Extrema esquerda também, pois nada extremo é bom, entretanto, eu ainda não conheci nenhuma pessoa de extrema esquerda. Conheci pessoas que possam ter opiniões extremas sobre alguns assuntos como o feminismo, por exemplo, mas não conheci nenhum "extrema esquerda" defendendo o Socialismo ou o Comunismo e propondo "revoluções armadas" com violência para mudar o sistema e tudo o mais... A maior diferença que vejo entre esquerda e direita (divisões que detesto, por sinal, pois não estamos mais na Guerra Fria, entretanto, como as próprias pessoas se definem assim, fica difícil não usar esses termos) é que a esquerda está mais aberta ao diálogo.



Pessoas de extrema direita, em especial, justificam seus comportamentos utilizando o "conservadorismo" como desculpa, mas ser conservador e ser preconceituoso são coisas bem diferentes e é por isso que devemos ter cuidado com essas pessoas que se dizem "conservadoras".



- Dali, mas o que diabos esse assunto tem a ver com a chacina?

Infelizmente, o conteúdo contido naquela carta tem muito a ver com o que esses "conservadores" compartilham nas redes sociais e isso é preocupante demais, pois são eles, justamente, os que estão se compadecendo com o assassino.

Na carta, ele culpa a Dilma e a chama de vadia (oi? O que diabos a Dilma tem a ver com isso? Será possível que até nisso ela é culpada? Ele deve seguir a filosofia do Homer Simpson, que diz "a culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser") e chama a lei que protege a mulher da violência de "Vadia da Penha".


Ora... Se a lei tivesse funcionado plenamente, a mulher teria o mínimo de proteção policial contra um monstro desses. O problema é que, muitas vezes, os próprios policiais, na sua maioria, homens, acham que "as mulheres estão exagerando" ao fazerem suas denúncias. Um caso como esse pedia proteção policial, pois ele já havia sido denunciado seis vezes!

Esses casos de mulheres agredidas que ficam sem proteção policial são muito mais comuns do que se imagina. No filme "A Informante" com a Rachel Weissz mostra a história de uma policial americana, que resolveu trabalhar na ONU, na parte da Europa Oriental e ao perceber os casos de violência contra a mulher, ela levava aos policiais locais, mas como ela era a única mulher, eles faziam pouco caso. Depois é que ela descobre que a violência contra a mulher era uma "pequena parte" do horror que muitas mulheres daquela região sofria, pois descobre uma Rede de Tráfico de Pessoas, com membros da própria ONU, que deveria proteger essas vítimas. Esse filme é baseado em fatos reais e tem cenas incrivelmente chocantes. Vejam o trailer aqui.


Infelizmente, acontece sim de existir uma lei para proteger vítimas ou garantir direitos e as pessoas tomarem proveito disso. Isso existe, mas quando o cara é denunciado seis vezes antes de cometer o crime, ele não era inocente e as medidas que a mulher tomou para sua proteção e para proteção de seu filho foram corretas. O município e a polícia que não garantiram melhor a segurança dela.

Aliás, inocência por inocência, todos alegam ser. É até curioso que as pessoas acreditem na carta dele e não se questionem isso.

Um dos assassinos do vendedor ambulante que protegeu dois travestis, que seriam agredidos se não fosse a ação corajosa dele, alegou que "não era uma má pessoa". Na carta, ele diz que não é louco... Se eles são pessoas boas e sãs, o que dirá das "más" e doidas, né?


Outras coisas extremamente incoerentes que ele faz e que pode indicar alguma insanidade mental é que ele se refere sempre ao filho como se soubesse a opinião dele, mas quem é que sabe se o menino realmente chorava por não estar com o pai ou que pensava tudo o que ele achava que o menino pensava? Muitas pessoas julgam saber o que outras pessoas sabem, pensam e são, mas, muitas vezes, isso não corresponde à realidade. Não precisa nem ser louco para isso, na verdade... Quantas e quantas vezes nós não nos apaixonamos por alguém e achamos que a pessoa goste das mesmas coisas que nós...? E que elas digam, exatamente, o que queremos ouvir...? Ou até o contrário: tem uma pessoa que vc detesta, espera tudo de ruim e depois, ela se surpreende e fala algo que você gosta...? A enorme incoerência da carta é que ele escreve um diálogo com o filho, como se o filho fosse ler a carta, mas ele também mata o próprio filho... Então, como é isso...? Ele achou que o filho "ia ler quando estivesse no céu..."?

Essa chacina, sem dúvida, foi um episódio muito, muito triste e com muito a se pensar e a se discutir.

Um outro tema muito interessante e importante para se conversar é a chamada "alienação parental".


Já existem leis que proíbem essa alienação, entretanto, acho que vale a pena uma maior investigação e apuração da situação de cada família.

A criança de pais separados, com certeza, não pode deixar de ver uma das partes, mas alguns casos muito comuns e que vi acontecendo com amigas queridas são de pais que se aproveitam disso para envenenar a cabeça da criança contra o outro genitor. Isso é muito cruel e é terrível para formação da criança! Acabam descontando a revolta da separação nos filhos inocentes, que nada têm a ver com a história e vi isso acontecendo mais dos homens, envenenando os filhos contra as mães do que o contrário, mas sei, perfeitamente, que o contrário também acontece.

Mais uma vez, não creio que tenha sido o caso, pois ele foi denunciado seis vezes. Ela estava protegendo a criança de um pai louco, abusador e violento.


Relendo o capítulo no "Livro do Amor" sobre a Grécia Antiga, me deparo com trechos muito interessantes, pois a autora, além de historiadora, também é psicóloga e são trechos que explicam um pouco do comportamento de pessoas violentas e que foram rejeitadas.

Há diferença entre violência reativa e violência vingativa, ou seja, entre o ato passional de alguém que mata num acesso de ciúmes, violência e loucura, e o ato planejado detalhadamente por quem foi rejeitado. Neste caso, o único objetivo é causar o máximo de sofrimento à pessoa — ou às pessoas — responsável por sua infelicidade.
Bom... Acho que nem preciso dizer que no caso da chacina, estamos tratando da violência vingativa, pois ele planejou o ato e a carta conta que o crime foi premeditado. Ele só aguardava o momento certo.

Para a escritora uruguaia Carmen Posadas o ato do amante passional que mata o ser amado que o abandona ou prefere outra pessoa é a consequência da frustração de seu desejo de posse. A pessoa não suporta mais seus sofrimentos e sente que sua única possibilidade de salvação é cortar o problema pela raiz. Entretanto, a dinâmica da violência vingativa é outra. O amante quer resolver uma questão que considera pendente; não quer evitar o mal que o ameaça, mas “anular magicamente” aquilo que na realidade já aconteceu. Delicia-se imaginando mil vezes o castigo que infligirá ao ser amado ou ao rival que o roubou, inventando roteiros de terror continuamente aperfeiçoados. O que move a vingança é o ódio, fruto da rejeição. O amante rejeitado acredita que ninguém o amará, nunca mais. Odeia a si mesmo e à pessoa que nele provocou esses sentimentos. Como o ódio não tem o poder de refazer o passado, ele confia à vingança futura.
Não duvido que ele tenha se deliciado ao imaginar todas as mortes e estragos que ele causou. Tanto que ele quis "adiar o prazer para mais tarde". Ele ia matar a todos no Natal, mas adiou para o Reveillon.

Depois do crime, o criminoso passional não costuma fugir. Alguns se suicidam, morrendo na certeza de que o ser amado não pertencerá a mais ninguém.
Pode ter sido uma das motivações dele, quem sabe? E não apenas em relação ao filho, mas à própria ex-mulher.

A morte física é a continuação da morte psíquica provocada pelo abandono. Quanto mais violento o ato suicida, mais evidente é o desejo de desforra. “A mulher rejeitada desliga a máquina social da aparência que mantinha viva e escolhe a autoeutanásia para jogar na cara de seu companheiro mal-agradecido o quanto o amou e o quanto sofreu por sua culpa. O desejo de desforra é o pano de fundo mais comum do ato suicida. Ferida, a vítima fraudada da paixão deseja que quem a abandonou nunca se esqueça do terrível mal que lhe causou.”
Quanto ao suicídio dele, esse trecho nos mostra sim um desejo de desforra... De compensação por "todo mal e sofrimento que ela causou nele", entretanto, ele já a matou antes que ela pudesse se arrepender, mas, no meu entendimento, a motivação por trás disso é muito mais sinistra, pois ele convocou os homens que se sentissem injustiçados pela Maria da Penha a fazer o mesmo, então, a intenção pode ser causar arrependimento nas mulheres que precisaram da lei para se proteger... A ideia mesmo era espalhar o terror entre nós mulheres, pois nós lemos a carta...


Outro aspecto interessante e que a própria Carol, em seu texto sobre a carta dele, trata, é que a ex-mulher é sempre tratada como "vadia" e a nova namorada como "anjo", mas antes de tudo isso acontecer, houve um período em que ele considerava a ex-esposa um anjo. Claro que sim! Caso contrário, como é que ele teria se casado com ela e tido um filho? Mas poucas pessoas param para pensar que se ele não tivesse se matado, talvez o atual "anjo" dele pudesse se transformar numa "vadia", afinal, quais os requisitos para um "título" ou outro? O "anjo" é aquele que faz tudo o que ele espera que faça e a "vadia", tudo o que ele espera que não faça? Se for assim, infelizmente, o mundo está cheio de "vadias", pois ninguém tem o poder de ler mentes para saber o roteiro que você escreveu para elas. Mesmo as pessoas que você mais ama, poderão discordar de você algum dia e isso não é ruim. Isso pode te acrescentar alguma coisa.

E discordar seria "o menor e mais bobo dos casos", mas é comum estarmos felizes com alguém que amamos e, de repente, a pessoa se dá conta de que você não é a "pessoa da vida dela" ou, simplesmente, que ela não te ama mais. Você também pode ser essa pessoa. É triste, é doloroso, é muito sofrimento, mas pode acontecer. É a questão do "aceita que dói menos".

Também não foi o caso, pois ela se afastou dele por causa do comportamento violento, mas se fosse isso, também não justificaria a chacina. Aliás, nada justifica, pois matar nunca foi e nunca será solução para nada.

A morte é a única certeza que nós temos na vida, mas abreviar a vida de alguém ou a sua própria por ódio é mostrar ao mundo que você jamais deveria ter vivido...



Boa noite...

Sementes da misoginia - impressões sobre o Amor durante a Grécia Antiga

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


Após tanto tempo, finalmente, estou escrevendo sobre o segundo capítulo desse livro interessantíssimo: "Livro do Amor" da Regina Navarro Lins, que vem falando sobre como eram as formas de amor desde a Pré-História até os dias de hoje.

Esse livro é de 2012 e é dividido em dois volumes: o primeiro, que é o que estou lendo no momento, retrata o amor desde a Pré-História até a época do Renascimento e o segundo vai do Iluminismo até a atualidade.

Esta minha pesquisa que antes, era mais voltada para a área acadêmica, está se tornando cada vez mais pessoal. É de minha própria vontade e interesse saber mais sobre como eram as relações humanas desde a antiguidade e saber como elas se transformaram nas relações que vemos hoje e confesso estar muito impressionada com o quanto a sociedade grega nos marcou profundamente.

Quisera eu que essa constatação fosse de felizes coincidências, mas não é. Muitas coisas do pensamento machista que ainda perdura hoje, foram criadas nessa época (lembrando que o machismo não surgiu aí e sim, na Pré-História, como falo nesta postagem aqui, que foi o comentário primeiro capítulo do livro).

Confesso que esse capítulo foi muito difícil de fichar e tirar poucos trechos como referências, pois boa parte do que ele fala é interessante e mostra o quanto ainda carregamos muitos dos ideais gregos nos dias de hoje.


Panorama

Como o livro trata apenas a sociedade ocidental, podemos observar, de um capítulo para o outro, o enorme avanço da civilização, com criação de leis... Classes... Toda uma estrutura social que foi organizada a partir desta época e, com isso, vêm algumas diferenças nos relacionamentos.


É quase impossível falar de relacionamentos sem mencionar os papeis de homens e mulheres dentro desta sociedade.

Durante o período Homérico, a rigidez moral não era tão grande quanto foi no período Clássico, especialmente, em Atenas. No casamento, as mulheres do período homérico ainda gozavam de relativa igualdade de direitos e exerciam influência nos homens. Além disso, as mulheres tinham mais funções e participações ativas na casa, cuidando dos doentes, fornecendo roupas para seus maridos, preparavam os alimentos, cuidavam dos filhos e das terras na ausência dos guerreiros...

A união de Ulisses e Penélope eram um exemplo de casal harmonioso, o que era bem raro na literatura da época.


É muito interessante verificar que a questão da "mulher ideal" e da "mulher maldita" existir desde esse período.
“No mundo greco-romano, Penélope e Helena representaram os exemplos de esposa boa e má, respectivamente, uma oposição que os cristãos atribuiriam mais tarde a Eva e à Virgem Maria.”

É interessante perceber, ainda, que essa distinção entre as mulheres esteja ainda tão ressaltada, principalmente nos comentários machistas, quando ouvimos que "uma mulher é para casar e outra é para pegar". 



Durante a Grécia Clássica, conforme o enriquecimento dos gregos, foram necessitando menos das mulheres como esposas, pois tinham escravos para prover as roupas e cuidar das terras, deixando as esposas com uma função quase inútil e com isso, os homens passaram a desvalorizar suas mulheres e tinham pouco contato com elas.

Os homens possuíam uma enorme liberdade sexual, tanto que consideravam o casamento como algo dispendioso e uma barreira à sua liberdade. Dentre suas possibilidades de prazer, haviam as concubinas, as hetaíras, as prostitutas e os efebos.

Fiquei, particularmente intrigada com as hetaíras e os efebos, que eram os objetos de afeição maiores entre os homens da época.

Às esposas, eram negado tudo! Educação, filosofia, combate, política... Portanto, os homens consideravam as mulheres como burras. Como a elas não era permitida a liberdade sexual que eles tinham, muitas se queixavam de que eles não lhes davam prazer e por isso, eles achavam que as mulheres eram muito maliciosas. É curioso e chocante ler que existia uma lei e que essa era uma das poucas que davam algum direito às mulheres, que o homem poderia fazer sexo com sua esposa 3 vezes durante o mês.

As hetaíras, mesmo sendo cortesãs de classe, já possuíam instrução para falar de todos os assuntos que seriam negados às esposas e era por causa do conhecimento, liberdade e beleza delas que os homens ficavam fascinados. Seria cômico se não fosse trágico.

Pintura, em vaso, de uma hetaíra 


Por falar em "cômico e trágico", as esposas tinham o direito de ir ao teatro, mas elas só poderiam assistir tragédia. Espetáculos cômicos não eram "dignos" para elas.

Já os efebos eram adolescentes que eram aceitos como aprendizes, mas por quem os homens desenvolviam um relacionamento homossexual, que era super-comum na época. Eles eram tutores desses rapazes e os treinavam na arte da guerra, oratória, filosofia, etc desde os 12 anos até os 18. Aos 19 anos, o rapaz já era considerado um homem "dono de si" e podia, ele mesmo, adquirir seus efebos.

Um homem e seu amado efebo retratados neste vaso


É interessante que essa é uma característica que não se perpetuou no mundo hoje. A homossexualidade começou a ser perseguida nos séculos XII e XIII e foi vista doença no século XIV. Após a criação dos anti-concepcionais, nos anos 60, é que os homossexuais começaram a ser mais respeitados e a conviver com os heterossexuais com relativa paz, entretanto, ainda hoje, os homossexuais são as minorias que mais sofrem com o ódio e agressão verbal, psicológica e física hoje.

Como as mulheres viam seus maridos e tinham prazer com eles poucas vezes, era muito comum que elas recorressem ao uso de consolos, que tivessem serviços de alcoviteiras e/ou tivessem relações com outras mulheres, entretanto, o relacionamento entre mulheres era ridicularizado, afinal, eles nem sequem consideravam as mulheres como pessoas.

Um dos casos mais famosos de romance entre mulheres foi na Ilha de Lesbos, quando a poetisa Safo se apaixonada por suas alunas e escrevia muitas poesias, declarando seu sentimento por elas. Certa vez, uma de suas alunas ia se casar com um homem e apaixonada e enciumada, Safo escreve:
"Semelhante aos deuses me parece esse homem
Feliz que se senta e te fita, estando tu diante dele
Bem de perto, no silêncio, ouve
tua voz tão doce.
Rindo o riso suave do amor. Oh! Isto, somente isto
Sacode o perturbado coração que há no meu peito, fazendo-o tremer!
Desde que eu possa ver-te por apenas um pequeno momento
Minha voz é imediatamente silenciada
Sim, minha língua está partida; por todo o meu ser,
Sob minha pele de repente desliza um fogo sutil;
Nada meus olhos veem, e uma voz, de ondas claríssimas
Em meus ouvidos ressoa
O suor escorre por meu corpo, um tremor se apodera
De todos os meus membros, e, mais pálida do que a grama de outono
Tomada pela angústia da morte que ameaça, eu desmaio
Perdida no transe do amor."

Safo tinha certo prestígio entre os gregos e, portanto, seu poema é referência, na Medicina, para diagnosticar os sintomas da paixão.

Afresco de Safo encontrado em Pompéia


Outra prática que hoje, não é bem vista e hoje, deve ser combadita é a da pedofilia. Era perfeitamente normal, na época, um homem adulto possuir efebos dos 12 anos de idade e eles não só tinham essa relação de ensino-aprendizagem, como desenvolviam um relacionamento amoroso um pelo outro, com relações sexuais, obviamente. Existem textos e poesias com verdadeiras declarações de amor dos homens a seus efebos, exaltando sua beleza e masculinidade.

Haviam casos, entretanto, em que os próprios maridos ofereciam suas esposas aos convidados da casa ou se outros homens pedissem permissão, caso se interessasse em suas esposas. Eles a tratavam como um objeto de suas possem e poderiam oferecê-las a quem quisessem.

Na Grécia Clássica, estar com hetaíras, concubinas, prostitutas e efebos não era visto como traição. A única coisa que não era permitida era estar com uma mulher casada, entretanto, existem casos registrados de homens que se relacionavam, em segredo, com mulheres casadas.

Nesses casos secretos, se o homem descobrisse, ele teria o direito de matar o homem que se relaciona com sua esposa para lavar sua honra. Honra era algo extremamente importante para o homem grego e traição era uma desonra grave.

Muitas vezes, os homens resolviam "perdoar" as traições para não ter que devolver o dote às famílias das mulheres, principalmente se ele significasse uma enorme perda de dinheiro. Ele aceitava o arrependimento da esposa, mas caso não fosse o suficiente, ele teria que separar-se dela e devolvê-la para lavar sua honra.

As mulheres adúlteras eram muito mal-vistas. Se elas saíssem para assistir algum sacrifício público e outras pessoas a vissem, o primeiro homem que a visse poderiam arrancar-lhes as roupas e enfeites e açoitá-la, mas não podia mutilá-la ou matá-la.



Veja o que diz esse trecho quanto ao direito das mulheres de alegarem que os maridos eram adúlteros e pedidos de divórcio:
"A mulher não podia alegar adultério, mesmo explícito, como motivo para o divórcio. Se ela provasse ter sido vítima de abuso ou de violência física por parte do marido, o divórcio poderia ser concedido. Como resultado do processo de divórcio, todavia, o nome da mulher seria publicamente divulgado e isso era extremamente indesejável, pois as mulheres divorciadas, embora não fossem impedidas de se casar novamente, eram tratadas com desconfiança."

Os casamentos eram arranjados por homens, negociando terras e a mulher não tinha participação nenhuma. Eles desconheciam totalmente a relação entre casamento e amor, estando esse sentimento, da forma como conhecemos hoje, reservado apenas às hetaíras e efebos.

Pouco se sabe sobre os sentimentos das mulheres, pois os textos literários eram escritos por homens e para homens, logo, eles que descreviam como eles achavam que elas sentiam, mas acredita-se que havia uma mistura de amor e ódio por seus senhores, afinal de contas, elas só lhes davam os filhos que eles queriam e cuidavam da casa. É interessante ler que alguns poucos homens escreviam contos sobre esposas que se revoltavam com a forma como eram tratadas e assassinavam e se vingavam de seus maridos e seus parceiros sexuais, Os homens passaram a temer suas esposas, mas isso não parece ter feito com que eles as respeitassem mais ou mudassem seus comportamentos com elas.

Pintura de Medéia, personagem de uma tragédia que leva seu nome, escrita pelo poeta Eurípedes, onde a esposa, furiosa por ter sido abandonada por seu marido, que se interessara em outra mulher, a presenteia com um vestido que a queima até a morte e mata os próprios filhos que tivera com o ex-marido.


Os homens gregos não viam o amor como "meta de vida" e sim, como um prazer... Uma diversão e amar alguém era um dilema para ele, especialmente, uma mulher, pois ou o amor era visto como um exercício prazeiroso para o corpo ou como um tormento causado pelos deuses para vê-lo sofrer até levá-lo à ruína.


Considerações

Nossa! Foi tanta informação apenas nesse capítulo que também está difícil tecer poucas considerações. Hehehe!

Muito bom conhecer a origem de várias palavras e expressões e se dar conta do quanto essa cultura influenciou de fato.

O termo "erótico" vem do deus "Eros", mais tarde, sendo conhecido como o "cupido"... "Afrodisíaco" seria uma referência à deusa "Afrodite"... A palavra "lésbica" tem origem nos romances entre mulheres que aconteciam na Ilha de Lesbos... "Andrógino" tmb tem uma história muito interessante por trás, contada por Platão...

O nascimento da deusa Afrodite, sendo representado neste vaso


O Deus Eros, antes dele ter se transformado no travesso cupido

"No início cada ser humano tinha forma redonda, uma esfera fechada sobre si, quatro mãos, quatro pernas, duas cabeças, dois órgãos sexuais e todo o resto harmonioso. Havia três espécies de seres: Andros, Gynos e Androgynos, sendo Andros uma entidade masculina composta de oito membros e duas cabeças, ambas masculinas, Gynos idem, porém femininas, e Androgynos composto por metade masculina, metade feminina. 
Dotados de coragem extraordinária, eles atacaram os deuses, que, para puni-los e fazer com que se tornassem menos poderosos, os dividiram em dois. Seccionado, de Andros surgiram dois homens; apesar de seus corpos estarem agora separados, suas almas estavam ligadas, por isso cada um procurava a sua metade. 
Andros deu origem aos homens homossexuais. O mesmo ocorre com os outros dois seres. Gynos originou as lésbicas, e Androgynos, os heterossexuais. Quando se encontravam eram tomados por ternura, confiança, amor e o desejo de se fundirem ao objeto amado e constituírem um só em vez de dois. Desde então, as metades separadas andam em busca de sua metade complementar."

Também confesso ter ficado surpresa ao ler que os brinquedos sexuais, tais como os conhecidos vibradores, tiveram origem, também, na Grécia Antiga. Não se lê isso nos livros de História. Hehe!

Uma ateniense com algumas opções de consolo


E é chocante o quanto vemos pensamentos machistas e misóginos se repetindo através do tempo... Até hoje, vemos homens que consideram que as mulheres são inferiores... Que são burras... Mulheres que aprendem, desde cedo, que a "missão dela" é cuidar da casa, procurar um marido, casar e ter filhos e muitas não buscam o conhecimento ou têm acesso a ele por aceitarem sua condição ou por ignorância mesmo... Chocante ver que ainda existem homens que mesmo com a sociedade tendo mudado bastante e estando com leis mais desenvolvidas, comportam-se como os homens gregos, se casando, mas tendo várias experiências sexuais fora do casamento (só que agora, é considerado traição sim e as mulheres têm direito à pensão alimentícia para os filhos, por exemplo)... Chocante ver como a misoginia se perpetua e como tem homens que ainda sentem essa necessidade de lavar sua honra com sangue se as mulheres se separam deles ou se são traídos...

Dói ver o quanto aquelas mulheres não tinham direito à quase nada e o quanto a vida delas era terrível. Inclusive, o infanticídio era muito comum. Os casais tinham preferência por terem filhos homens, pois se tivessem filhas, quando crescessem, teriam que se casar e isso constitui em repasse de dote ao marido. Em outras palavras, uma filha significava prejuízo aos pais gregos. Ou eles as matavam ou as abandonavam. Também era comum haver infanticídio quanto haviam muitas baixam na guerra. Eles matavam as meninas para equilibrar o número de meninas e meninos.




É curioso ver, também, as diferenças. Na Grécia antiga, se relacionar com pessoas de ambos os sexos era algo perfeitamente normal para homens e mulheres. Muitos homens casados se divertiam com as hetaíras... Com os efebos... E três vezes por semana, tinha que garantir o prazer, que era direito da esposa.

A mulher, por sua vez, como não tinha a companhia do marido constantemente e não podia sair sem ele, tinha que se contentar com os brinquedos eróticos, com as alcoviteiras e outras mulheres. A própria Safo, mesmo com sua preferência por mulheres, amou também um homem e se casou com ele.

As atenienses desse período Clássico nem sequer tinham autonomia. Só possuíam o direito de herança e de gerar cidadãos legítimos e mesmo a herança que recebiam, era administrada sob tutela/autorização ou do pai, caso fosse solteira, ou do marido, se fosse casada. Era uma mercadoria que apenas mudava de dono: do pai ao marido.




É, amig@s... Essa é a triste história da mulher e do quanto ela foi destituída de tantos direitos, sempre concedidos aos homens. Não estamos falando de séculos atuais e sim, de tempos ainda antes de Cristo! A Grécia Clássica está compreendida entre os séculos IV e V a.C. e ainda hoje, existem pessoas que consideram a luta por direitos da mulher uma "choradeira" ou "mimimi", como chamam hoje em dia...




Depois de tudo o que li sobre a Grécia Antiga neste capítulo e compreendo um pouco mais a sociedade em que vivemos e de onde surgiu todo esse discurso de ódio que vemos nas redes sociais contra o feminismo, posso dizer que a música do Chico Buarque "Mulheres de Atenas" ganhou uma densidade muito maior em meu coração (e, para quem não entendeu, o Chico não está elogiando o modo de vida delas. Ele está se utilizando de ironia).


Boa noite a tod@s!