As Barbas Azuis

quarta-feira, 22 de agosto de 2018


Ele se move sorrateiro
Nas sombras de minha mente...
Meu voraz carcereiro
Do subconsciente...

Que engana e ilude
Minha cabeça de menina
Com promessas de virtude
Na aurora da campina,
Mas na menor inquietude,
Ao dobrar a esquina,
Ele muda de atitude...
À noite, na surdina...

De forma bruta e impiedosa
E sem que se desculpe
Me sinto horrorosa
E em meu peito se esculpe
A besta torturosa
Que me invade e me culpa...
Desfolhando minha rosa...

Noite e dia, dia e noite
É travado outro duelo
E há dias de amoite,
Quando a criança revelo
E há dias de afoite
Quando a guerreira ergue seu martelo

E nesse embate duro
Causado pela inocência
Luto para sair do escuro
Conectando com minha essência
Abrindo portas, derrubando muro
Para o despertar da consciência"


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 20/08/2018)

Minha religião

quinta-feira, 16 de agosto de 2018


Que creio, senão no invisível,
E nos enigmas do subconsciente...?
No absurdo e no plausível...
No poder do sentimento e da mente...?

Que emano, senão o abstrato,
Com teor de energia tão concreto
Onde mistura-se a crença e o fato
E emerge em forma de afeto?

Que colho, senão o aplauso
À oração entoada em voz
Do canto, sagrado, em causo
Que ondula e se encontra na foz?

Que louvo, senão o humano,
O carnal, o vulgar e o divino,
O corpo sacro e profano,
Templo do desejo clandestino?

Que cultuo, senão a arte
E sua imensurável criação
De um mundo tão aparte,
Mas que parte do coração?

Que adoro, senão o sabor
Do intangível e do palpável
Doce sentimento de amor
Indescritível e inefável...?

E fica a pensar e intuir...
A refletir e a cantar...
Sempre buscando o devir...
Sempre a me doar...
Até o dia em que eu partir...
Até o último resquício do ar...
Quando a chama se extinguir...
Quando meu canto se calar...
Quando meu corpo se indefinir...
Quando minha alma virar mar...


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 15/08/2018)