Ser e estar

sábado, 20 de junho de 2020

Quadro: "A Visão de Hamlet" (1893) de Pedro Américo (1843-1905)

A forma como nossa língua é estruturada tmb molda nossa forma de pensar.

Nosso português e o espanhol diferenciam "ser" e "estar" - "ser" como algo mais permanente e "estar" como algo mais passageiro. Já as línguas como o inglês, francês e o alemão, "ser" e "estar" são a mesma coisa.

Isso me faz pensar que quando queremos nos reafirmar como alguma coisa, usamos o "ser": "eu sou assim", "eu sou bonita", "eu sou inteligente", "eu sou sempre assim" e isso pode fazer maravilhas para nossa auto-estima, quando fazemos afirmações positivas. Nós reafirmamos algo positivo e que é uma característica permanente nossa, mas nem sempre fazemos isso com nós mesmos... É muito comum afirmarmos "eu sou feia", "eu sou abestalhada", "eu sou infeliz"... E é bem ruim quando reafirmamos algo negativo e permanente...


Nas línguas em que ser e estar são a mesma coisa, acho interessante pq admitem que a pessoa vive fases... Está em permanente mudança e estado de alteração, então, "você está bonita", "você está inteligente", "você está assim agora". Isso já é ótimo para lidar com sentimentos negativos e até lembrei de um comentário maravilhoso de uma neurologista chamada Cláudia Feitosa-Santana que disse que esse pensamento é até legal para lidar com coisas sérias como as doenças mentais. "Você não é a doença, mas você está com ela agora". É até uma forma mais branda de lidar com a depressão, por exemplo, segundo a própria especialista.


Às vezes, é difícil admitir pra nós mesmos que não somos seres permanentes e vamos morrer um dia, seja num comportamento e atitude, seja o nosso próprio corpo... Então, estamos vivos agora e podemos escolher "ser vivos" perante a nossa "permanência impermanente" na Terra.


Talvez, seja mais difícil pra nós, que separamos o que é passageiro do que é permanente, lidarmos com isso...

Talvez por essa admissão do que é permanente crie tantas "certezas" como "homem é homem e mulher é mulher". Talvez, seja mais fácil acreditar nisso do que "o homem está homem HOJE, mas pode não estar amanhã e a mulher está mulher HOJE, mas pode não estar amanhã tmb". Todos nós mudamos e está tudo bem.


Trocamos de roupa... De amigos... De escola... De trabalho... Nós realmente precisamos ser? Por quê ou pra quê? Até que ponto as auto-afirmações e definições são necessárias?

Enfim... Mais algumas viagens "louca na droga", de madrugada. Hehe!

Beijos! 😘😘😘