O mundo que não permite a tristeza

domingo, 26 de junho de 2016


Basta olhar as redes sociais e ver as pessoas sempre exibindo fotos de uma vida feliz, aventureira e interessante e basta olhar ao seu redor e ver que se você estiver triste e precisar desabafar um pouco, boa parte das pessoas ou não têm tempo para falar com você, pois muito provavelmente, estão trabalhando ou "cuidando de coisas importantes" e quando têm, ao invés de se aproximarem de você e ouvir o que você tem a dizer, muitas ou se distanciam contando dos problemas que ela mesmo tem, como se estivesse fazendo uma competição para ver "quem sofre mais" ou ainda, relevam o seu sofrimento, tratando-o como "bobagem", "frescura" e que "já-já, passa". Ainda existem as pessoas espirituais/místicas que não querem que "sua energia negativa as contamine".

"Cada caso, é um caso" e essas pessoas que tratam como "frescura" podem até ter boas intenções e talvez não saibam demonstrar melhor e com mais delicadeza a vontade de te fazer feliz por não sentir as coisas com a mesma sensibilidade que você sente.


Já as pessoas que nunca têm tempo, eu tenho pena delas, pois devem ser pessoas que não apenas não conseguem se conectar direito com os outros, mas devem ter dificuldades em conectar-se consigo mesmas, diante de tanto trabalho e tantas atribuições que a Vida Moderna nos dá... O mais aconselhável a elas é que sempre conseguissem um tempo, nem que seja minúsculo, para essa auto-conexão e auto-conhecimento e o conhecimento ao próximo.

Essas últimas pessoas que "não querem a sua energia abalada por pensamentos negativos dos outros", assim como disse acima, são casos e casos. Podem ser pessoas que são insensíveis ao sofrimento alheio e podem ser o total oposto: são TÃO sensíveis que elas sofrem junto. Se for esse último caso, deve-se avaliar quem é a pessoa que está "se abrindo com você" - se é uma pessoa que vive triste e nem se ajuda, nem ajuda ninguém e só sabe derramar sua tristeza nos ombros dos outros (algumas pessoas até chamam esse tipo de gente de "vampiros", por sugarem nossa energia) ou se é uma pessoa que não é assim "normalmente" e que está precisando de ajuda.

Em ambos os casos, um psicólogo ou psiquiatra ajuda bastante, mas no segundo caso, vale muito a pena emprestar um ombro amigo e vou explicar a diferença de usar a empatia com esses dois tipos de pessoa.

A Empatia é a habilidade de "sentir junto" com a pessoa, então, sim: é provável que você se sinta, minimamente, tocado(a) com a história do seu(sua) amigo(a). A diferença é que o "vampiro" te puxa pro abismo onde ele está e quer que vc fique lá com ele e o(a) amigo(a) que precisa de ajuda, não - VOCÊ é que tem que descer do abismo, até onde seu amigo está e ouví-lo... Isso já é uma grande coisa que vai ajudá-lo a se erguer e subir novamente.


Chego quase a acreditar que ter empatia é "um dom"... Um dom que faz falta nos dias de hoje...

Aliás, não gosto muito da palavra "dom", mas é fato que algumas pessoas possuem esse "talento" naturalmente e outras, precisam desenvolver mais. O problema é que as pessoas não querem se sentir tristes, mas ah... Se soubessem como a tristeza é importante...

O que seria do mundo se só existisse a alegria? É graças à tristeza que a alegria tem importância. é graça à tristeza que nós temos poesia, música e algumas outras artes. A tristeza nos traz amadurecimento, empatia, reflexão, aprendizado, vontade de melhorar, estreita laços afetivos (pode prestar atenção: você se sente mais íntimo de alguém para quem você conta seus problemas e a pessoa conta os dela do que de alguém que só fala de como tudo vai bem na vida dela)...


Acredito que a falta de empatia é uma das mães dos males do mundo e que nós somos imunes à ela se tudo na nossa vida vai bem, mas quando sofremos, nos tornamos mais sensíveis aos sofrimentos dos outros.

Não percebem?

Uma pessoa que nunca passou fome jamais entenderá o sofrimento de quem passa e achará a pessoa uma vagabunda, fraca, auto-piedosa... Uma pessoa que não é extremamente pobre pensará as mesmas coisas de quem é e pensará que aquelas pessoas merecem aquilo porque "não lutaram o suficiente". Existe um estudo que diz que boa parte dos moradores de rua sofre de algum transtorno mental e eu acredito nisso. Arrisco, ainda, mesmo sem ser psicóloga, que boa parte dos moradores de rua sofre de depressão.

É muito fácil julgar outras pessoas que não tiveram as mesmas condições que você e, ainda, que NÃO SÃO VOCÊ, logo, elas além de não terem as mesmas facilidades que você teve, elas NÃO TÊM OS MESMOS PENSAMENTOS. É muito importante lembrar disso, pois cada pessoa é única e reage a uma mesma situação de formas diferentes.

Tanta coisa iria melhorar se aprendêssemos a ouvir e procurássemos entender uns aos outros... E isso só é possível com a empatia, que está relacionada ao sentimento de tristeza. Acho que é por isso que o mundo, atualmente, tem falado tanto das doenças mentais... As pessoas, ao ignorarem suas emoções e/ou ao serem ignoradas, podem acumular tanta coisa dentro de si que acabam ficando mentalmente doentes...

Não. Não estou dizendo "vamos todos virar EMOs e chorar" e sim, escute o seu coração, não tenha vergonha de se sentir triste, exponha a sua tristeza ou com alguém de confiança ou de alguma forma que te ajude a colocar esse sentimento para fora e ouça a tristeza de quem precisa de ouvidos amigos. Você saberá que não estará sozinho e ouvir as outras pessoas pode te surpreender.


Obs: se seu sentimento de tristeza for muito frequente, não sinta vergonha em buscar ajuda profissional, pois nada em exagero é bom. O equilíbrio sempre é o melhor caminho.

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