Vocês já pararam para pensar que, talvez, o feminino, como nós conhecemos hoje, pode não ser o feminino de verdade? Que tudo isso que vivemos faz parte de uma construção social?
É aí que partimos para perguntas bem complexas e que, talvez, não tenhamos, ainda, as respostas: o que é o feminino? O que define alguém como sendo feminino(a)? E agora, uma pergunta dificílima para refletirmos juntos: o que é biológico e o que é construção social, de forma a definir ou, até mesmo, desconstruir o que conhecemos hoje como o feminino?
Eu me questionei essa última pergunta várias vezes e ainda não encontrei uma resposta satisfatória, por isso, vamos "congelá-la" e voltar para as questões anteriores:
O que é o feminino?
Se fôssemos para as definições que se faziam antigamente, pensaríamos como tudo o que é oposto ao homem, ou seja, que é um ser humano fisicamente mais frágil... Mais dócil... Sensível... Delicado... Mais emotivo... Muitos associam o feminino à figura da mãe... Ou da mulher sedutora... Mesmo em pleno século XXI, ninguém associa a figura feminina à uma caçadora... A uma guerreira viking sanguinária (mesmo com um estudo que diz que existiam muitas amazonas vikings)...
E se, hoje em dia, pedíssemos a um adulto, adolescente ou uma criança para que pensassem numa mulher, as crianças, provavelmente, pensariam em suas mães, os adolescentes pensariam em mulheres que admiram (divas pop, por exemplo) ou, se forem homens, adultos e adolescentes pensariam numa mulher que eles acham atraente... Se forem mulheres, uma mulher que as inspiram... A questão é que todos pensarão numa mulher bem arrumada dentro de seu estilo (se ela tiver algum, seja ele mais clássico, ou rock, ou pop, etc), com batom, maquiagem, salto... Pensarão numa mulher "comercial", mas eis que pergunto: e se pegássemos essa mulher e tirássemos todos os apetrechos dela? Tiramos a maquiagem... Tiramos as roupas que acentuam as curvas femininas... Tiramos tudo! Ainda resta o feminino na mente dessas pessoas? Vocês ainda achariam essa mulher atraente?
As pessoas atribuem ao feminino o que não é natural. Qual a mulher que já nasceu com batom, rímel, lápis, maravilhosamente maquiada e depilada? NENHUMA! Tentam disfarçar tudo o que nos foi dado naturalmente. Para isso, criaram as giletes, as ceras, vários outros tratamentos estéticos para remoção de pelos... Maquiagens de vários tipos e várias qualidades... Existem até as tatuagens que funcionam como maquiagens permanentes, mas nada disso é como realmente nascemos. São apetrechos que nos tornam mais bonitas, dentro dos padrões estéticos de hoje. Então, faço outra pergunta para reflexão: se o feminino é aquilo que é referente àquelas que nasceram como mulheres (como definem os dicionários), sendo algo naturalmente nosso, o feminino é bonito? Você se sentiria bonita se não se depilasse ou usasse maquiagem? Você se sente feminina em seu estado natural? Você, homem, acharia atraente uma mulher que não se maquia e não se depila? Acharia ela feminina? Mais uma vez: dentro deste ponto de vista, o feminino é mesmo bonito?
Eu me questionei isso quando li um artigo muito interessante sobre mulheres que se arrumam e passam por uma série de procedimento e "rituais" para ter relações sexuais (quem puder, leia. Esse artigo é maravilhoso) e quando a autora do artigo perguntou aos amigos dela o que eles faziam quando sabiam que ia ter aquela noite de sexo, muitos respondiam apenas que faziam a barba e tomavam banho... Ou seja: os homens estão muito mais próximos de seu estado natural. Mesmo com tantas idas e vindas de modas, como o metrossexual e os bombados de academia que se depilam (ou, simplesmente, o homem que sentir vontade de se depilar), se o homem resolver que não quer depilar nada, a sociedade aceita isso numa boa. Logo, acho que pode-se dizer que o masculino é bonito aos olhos da sociedade. Se ele se depilar, ainda tem as pessoas que chamariam ele de "viado" e outras coisas que colocariam a "masculinidade" dele à prova, mas é muito mais aceito que uma mulher sem depilar as axilas, por exemplo. Eu confesso que sinto um certo nojo quando vejo mulheres sem axilas depiladas, mas compreendo que somos frutos de construções sociais e fomos ensinados a pensar assim. Na Europa, uma mulher que não depila as axilas é vista com mais "normalidade" e é aceita.
Minha reflexão aqui não é uma incitação do tipo "jogue sua gilete fora e nunca mais use maquiagem". Cada uma faz aquilo o que achar melhor para si mesma, mas percebam a diferença como tratam o que é natural a nós e o que é natural aos homens e vamos refletir sobre isso. Será que se tratassem a nossa naturalidade como algo belo, não nos sentiríamos mais auto-confiantes? Você não se sentiria melhor se dissessem que você já nasceu linda e não precisa fazer nada para mudar isso? Só muda o que você tiver vontade? Pois esse é o mundo dos homens e é nesse sentido que a igualdade de gênero também deveria ser importante, pois o que a mídia ensina é que somos tão feias que precisamos não apenas de batom, mas de base, primer, máscara de cílios, pó, sombra, delineador, blush claro e escuro para fazer efeitos, lápis de boca, primer para boca, botox, bundex (ainda existe esse negócio?)... Tanta coisa para ficarmos parecidas com as atrizes, cantoras e famosas que vemos na TV/internet. Nós somos as maiores consumidoras de produtos cosméticos e isso só mostra o quanto nós mulheres somos inseguras com nossa aparência, de uma forma geral e o quanto damos mais importância a ela do que a outras coisas.
Por favor, vejam esse clipe. Ele é maravilhoso e mostra as mulheres, incluindo a cantora, com e sem maquiagem:
Como estamos num mundo líquido, muitas coisas estão perdendo a definição e estão navegando na maré de incertezas... Há homens que nascem femininos, sofrem muito preconceito com isso e podem se revelar, na puberdade (alguns, se revelam ainda na infância, mesmo sem ter noção das relações sexuais), como gays, transexuais, travestis, bissexuais ou ainda, homens que, simplesmente, são mais delicados e sensíveis, mas são heterossexuais e defendem as mulheres e o feminismo. Há, ainda, mulheres que se identificam com o masculino, se identificando como lésbicas, bissexuais, sapatões ou, simplesmente, são mulheres que são heterossexuais, mas não são delicadas, não choram em filmes de romance, não querem ser mães, não têm vergonha de demonstrar a sua sexualidade acentuada e/ou não têm paciência com "melodramas".
Sendo assim, devolvo a pergunta que agora, ficou mais difícil de se responder: o que é o feminino neste mundo de contínua desconstrução? E ainda, repito a pergunta que ainda reflito sobre ela: o que é que é biológico e o que é que é construção social nesta definição entre o feminino e o masculino?
Quando acho que sei algumas respostas para essas questões, aparentemente bobas, surgem mais perguntas e acho que esse é o grande barato do mundo líquido de hoje - você poder desconstruir para uma melhor compreensão e depois reconstruir ou, ainda, por mais angustiante que seja, permear no universo das incertezas e apenas admirar a beleza, a fragilidade e a complexidade que é o ser humano, seja biologicamente ou psicologicamente.
Queridas amigas (mulheres ou pessoas que se consideram femininas), quero encerrar esse meu post meio confuso (por não apresentar nenhuma resposta concreta e sim, apenas dúvidas), dizendo que NÓS é quem definimos o que é feminino ou não, simplesmente por sermos... Por existirmos e que somos lindas, escolhendo sair por aí com ou sem maquiagem.
Beijões enormes e sejam do jeito que vocês se sentem felizes!
Obs: percebam que não sou contra a maquiagem e a depilação. Inclusive, gosto de ambas, mas sou contra a imposição social de que "só isso é aceito" e "só isso é que é o bonito", ou ainda "isso é ser mulher. Isso é o feminino" quando, como expliquei no post, não é bem assim.
1 comentários:
Quantos questionamentos precisamos fazer pra entender essa sociedade que construímos, não é mesmo? O que importa é isso, é questionar. Para que as atitudes tomadas através desses questionamentos possam ser "libertadoras" para todos. Para desinventar as obrigações sociais (e de obrigações sociais nós, mulheres, entendemos bem).
E que vídeo lindo! :)
Parabéns pela discussão, Dali!
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