Você ouve ou escuta?

domingo, 23 de agosto de 2020

Ilustração: Merijn Hos
Texto: Daliana Medeiros Cavalcanti


Essa pergunta soou estranha para você?

Talvez seja mesmo, mas antes de responde-la, você sabe a diferença entre “ouvir” e “escutar”?
Para melhor dialogar com essa reflexão, citarei a Nicole Jeandot, uma educadora e autora do antigo livro “Explorando o Universo da Música”, que traz um interessante conceito sobre a “escuta sensível e ativa” para crianças.

Ela diz que:

“Para ouvir, basta estarmos expostos ao mundo sonoro e possuirmos o aparelho auditivo em funcionamento. Nunca cessamos de ouvir, de receber as impressões dos ruídos, dos sons. ‘Não podemos fechar a porta aos sons: não temos pálpebras auditivas.’ (Herbert Marshall McLuhan)

A escuta envolve interesse, motivação, atenção. É uma atitude mais ativa que o ouvir, pois selecionamos, no mundo sonoro, aquilo que nos interessa. Dessa maneira podemos perceber na música seus elementos constituintes, como a tonalidade, os timbres, o andamento, o ritmo, etc.

A escuta também envolve a ação de entender e compreender, ou seja, de tomar consciência daquilo que se captou através dos ouvidos.”
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A citação é um pouco longa, mas explana bem essa diferença.

Alguns de vocês devem se perguntar “mas Dali, você estava falando sobre história da ópera, falou sobre canto lírico... O que diabos ‘ouvir e escutar’ tem a ver com isso?” e eis que eu respondo: TUDO!

Precisamos escutar os instrumentos para cantarmos no momento certo. Precisamos escutar as dicas técnicas das(os) professoras(es) de canto, das(os) coaches e das(os) profissionais que estão nos orientando. Precisamos escutar o colega ao nosso lado e parar de enxerga-lo como um rival e sim, como um colaborador. Precisamos escutar a regência. Precisamos escutar a direção cênica. Precisamos, antes de tudo, ter uma escuta que não se restringe à audição, mas ao corpo todo e à percepção consigo mesma(o) e com a(o) outra(o) em termos de cena e, acima de tudo isso, como uma filosofia de vida. Tudo está interligado.

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