Quando o peso da mente é maior que o do corpo

sábado, 9 de julho de 2016


Vamos falar de um fenômeno um tanto polêmico, mas que é muitíssimo frequente no mundo de hoje, que é movido a momentos breves e aparência: a gordofobia.

Foi muito bom que este sentimento de repulsa pelo(a) gordo(a) tenha ganhado um nome, pois é algo que sempre existiu e que a internet tem tornado cada vez mais popular.

Sei que muita gente se irrita com a palavra, pois ninguém gosta de se reconhecer como preconceituoso. Muitos pensam que "o preconceito sempre vem dos outros", ainda dentro daquele famoso pensamento de "o problema são os outros", mas é difícil fazer uma auto-análise e ficar frente-a-frente com os defeitos que você menos quer admitir e/ou ainda, que vc mais tenta esconder.


Primeiramente, gostaria de deixar muito claro que os(as) gordos(as), ao pedirem respeito e aceitação não estão dizendo, de maneira alguma "vamos todo mundo ser gordo(a) também". Não é isso! Poucas pessoas conseguem compreender essa diferença, pois partem da premissa que se eu aceito e respeito o outro, eu "me torno o outro" e não é assim. Se você aceitar um negro/um índio, você não se torna negro/índio, se um casal gay ou lésbico se beijar na sua frente, você não se torna homossexual e se vc aceitar as crenças religiosas do outro, isso não significa que você mudou de religião (isso se você possuir alguma).

Há, ainda, a resistência a rotular o que é e o que não é normal. Isso é tão subjetivo e depende de tantas coisas, se vocês pararem bem pra pensar... Na Grécia e Roma antiga, um homem se relacionando com outro homem era normalíssimo! Com o tempo é que isso foi estigmatizado e hoje, as pessoas veem como um tabu... Com a gordura é a mesmíssima coisa, tanto é que se você observar as pinturas antigas, as musas Renascentistas eram mulheres gordinhas... Na era pré-Histórica, as esculturas das deusas e musas também eram gordinhas. No antigo Egito, já não foi assim... Na era Vitoriana, as roupas eram bem marcadas, para valorizar uma cintura fina e quadris e seios fartos, mas as mulheres também eram gordinhas... A moda é algo cíclico - ora a mais bonita, é uma mais magrinha, ora é uma mais gordinha e isso também tem a ver com a sociedade da época. As mulheres mais ricas do Renascimento podiam se alimentar muito bem, logo, eram mais fartas e a população era miserável e como é de praxe que a gente admire pessoas mais ricas e empoderadas, o bonito, na época, era a mulher gorda.

Veja algumas pinturas Renascentistas:



Hoje em dia, nós ainda temos pessoas que vivem na mais absoluta miséria, mas surgiu a classe média, que está conquistando cada vez mais direitos e está consumindo cada vez mais e comprando as ideias das pessoas mais ricas. Agora, o padrão é vc ou ser magérrima ou ser "saradona", que nem uma Panicat. Duvidam? Olhem só todo o mercado que esse padrão de beleza compreende - o pão sempre foi um alimento super-valorizado, mas hoje, se você quer ser saudável, tem comer alimentos integrais ou pão/arroz sei-lá-quantos-milhões de grãos, que são mais caros. Você tem que fazer academia... Se quiser melhores resultados, tem que ter um personal trainer... As barrinhas de cereal e os sanduíches naturais nunca venderam tanto... Energéticos pra vc dar aquele gás na academia... Suplementos alimentares, para o homem ficar musculosão e grandalhão e a mulher ficar com um "corpaço"... Mais e mais produtos light, diet, zero açúcar surgindo... Aí, vem a moda do jump, então, não basta vc fazer academia: pra vc ficar linda e gostosa, tem que ser academia e jump. Aí, vem a moda do pilates... Vamos todas correr loucas pra fazer pilates! Aí, vem o treino funcional... Vamos todas fazer funcional! E as roupas ficando cada vez mais curtas e ousadas e bom... Nem toda roupa assim fica bem numa pessoa mais gordinha... Aí, revistas mostrando mulheres cada vez mais magras... Cada vez mais saradas e lindas... Dietas cada vez mais loucas... Esses dias, inclusive, vi uma revista que prometia que vc perderia 9kg em UM MÊS APENAS!!!Vocês percebem todo esse mercado que existe por trás e está em ascenção? Então, as mulheres mais ricas, que ditam o padrão de beleza feminino (como sempre), são aquelas que fazem mil e um tratamentos, exercícios e dietas malucas para manter a forma e isso é status.


É difícil para as pessoas admitirem e se reconhecerem como pessoas que se moldam às influências sociais. Elas preferem acreditar que "são únicas e têm opinião própria" mas, na verdade, somos uma mistura dessas opiniões próprias com essas influências sociais. Inclusive, compreendendo a questão da moda como algo cíclico e que está sempre mudando, se hoje, o mundo passasse por uma crise muito "braba" onde a classe média tivesse em péssimas condições para consumir os produtos e se alimentar bem, a moda seria ser gordinho(a) de novo!

Não. Eu não estou DE FORMA ALGUMA criticando as pessoas que querem uma vida saudável. Só uma pessoa louca criticaria a saúde (faz nem sentido! Imaginem só alguém dizendo: "esse povo saudável... Ai, que nojinho! O massa é ficar 'doente!'" :P Não faz sentido), mas minha crítica é ao EXAGERO... O exagero nesse culto à beleza, que às vezes, a coloca em primeiro plano e deixa outras questões mais profundas e até mais importantes de lado... Às vezes, as pessoas nem sequer trabalham o seu interior e só focam em aparência e por isso, a figura do(a) gordo(a), que foge a essa regra, causa desconforto e repulsa em muita gente. Lembro até de ter visto adolescentes comendo batata-doce e ignorando as comidas da Ceia de Natal (que as pessoas que prepararam e tiveram um trabalho danado para fazer todo aquele banquete para a família e amigos), com medo de engordar...

Mais uma vez, não estou levantando a bandeira de "vamos todos engordar e é isso aí", mas deixem as pessoas SEREM.


Eu acho de uma falsidade extrema quando alguém, que não tem a mínima intimidade com você, começa a questionar e, às vezes, até a se queixar de sua aparência por você estar acima do peso e quando vão se justificar, dizem "estou dizendo isso para o seu bem". Não, meu(minha) querido(a). Não está. Você está externando algo que lhe incomoda visualmente. Você percebe isso quando, por exemplo, na fala de pessoas assim, não existem comentários positivos ou incentivadores. Os comentários são sempre depreciativos e preconceituosos mesmo. Os famosos "é só fechar a boca e pronto"... "Deixa de ser preguiçoso(a)"... "Não tem um pingo de amor próprio"... "Você está gordo(a)!" (Jura?!?! Nossa! Não temos espelhos em casa para perceber isso. Que bom que você comentou!)...

Eu fico chocada quando vejo mulheres gordas (principalmente as mulheres) se afirmando como "sou gorda SIM e sou gostosa SIM" e a quantidade de gente incomodada com isso! Pessoas que não aceitam quando o(a) gordo(a) está feliz do jeito que é e se aceita assim! É nessas horas que a gente tem uma percepção CLARA da frase, "Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é doença".


Sei que muitos podem dizer "Mas, Dali! Não é saudável! Como assim? Você está dizendo que a gordura, que não é algo saudável, é liberdade?" Sim e não. Tudo é uma questão de ponto de vista, afinal, quando você é magro(a), você tem a liberdade de "escapar" da dieta de vez em quando, mas, por outro lado, você está preso(a) àquela rotina de exercícios e alimentação para manter a sua forma física, o que não deixa de ser "uma prisão".

É libertador quando a pessoa se aceita e se sente bem do jeitinho que é, mesmo com todos os riscos de saúde que as pessoas gordas estão sujeitas. Ela se sente bem daquele jeito e NINGUÉM tem o direito de interferir na privacidade dessa pessoa e tratá-la mal por ela não estar encaixada nos padrões da sociedade atual. Não é libertador, pois a pressão é muito grande e não é uma pressão que motiva a pessoa a emagrecer e sim, que baixa a auto-estima da pessoa... Deprecia... Despreza o seu valor como ser humano para reduzí-la a um corpo. A pessoa fica resumida a "um(a) gordo(a)" e ser gordo ou magro não define em NADA o caráter de alguém.

É muito fácil as pessoas atribuírem estereótipos de que o magro é mais "ligado", mais ativo, uma pessoa de maior sucesso e quando pedem pra pensar numa pessoa magra, pensam numa celebridade que eles acham atraente e os(as) gordos(as) são pessoas preguiçosas, com baixa auto-estima, lentas, improdutivas... E quando pensam em gordos(as), pensam logo em pessoas com obesidade mórbida. Eles não pensam na cantora britânica Adele, que é gorda e linda, nem pensam que existem magros preguiçosos e que também estão sujeitos a uma série de doenças e que existem, sim, gordinhos(as) saudáveis e que estão de bem com a vida. É muito fácil as pessoas simplificarem questões que requerem uma análise e um cuidado maior e mais doses de humanidade. Muitas vezes, a pessoa acaba engordando por estresse... Ansiedade... Por ter uma vida MUITO atribulada... Por depressão... Disfunções hormonais... Tratamento com quimioterapia... E que tem pessoas magras que são assim por genética e não porque estão suando numa academia. Então, pessoas, não vamos fazer esses simplismos, ok?


É verdade sim que existem MUITAS pessoas gordas com baixa auto-estima, mas eu acho que "o buraco é sempre mais embaixo". Tratar as pessoas com simplismos e achar que elas possuem o tipo de corpo que possuem por descuido, por ser preguiçosa, etc nunca é um bom caminho, mas a superficialidade faz parte do mundo regido pelas aparências. As pessoas focam nos resultados e não nas causas. Não vão no "x" da questão.

Você REALMENTE se sente tocado(a) em ver uma pessoa gorda sofrendo de baixa auto-estima? Você REALMENTE quer ajudar? Pois antes de tecer julgamentos, converse com a pessoa. Saiba como é a vida dela. Entenda o porquê dela ser assim. Às vezes, tem profundas raízes psicológicas... Às vezes, traumas... Ainda existem os problemas hormonais... Tudo isso tem jeito, claro, mas é o que falei numa postagem anterior... Para isso, é necessária EMPATIA.

Algumas pessoas podem afirmar "ah! Mas eu sou professor de academia/ nutricista/ endocrinologista/ etc! Não sou psicólogo!" Bom... Supondo que você é uma pessoa que realmente se interessa em resolver os problemas de seus clientes e que você quer garantir o retorno/fidelidade deles, tratá-los bem e sem preconceitos é uma forma muito mais inteligente de garantir isso. É de se esperar que um psicólogo tenha mais empatia pelos seus pacientes, mas a empatia não é uma qualidade exclusiva dos psicólogos. Qualquer pessoa pode e PRECISA desenvolver.


Resumindo, é isso, galera: aceitem quem está nesse estado físico e quem se sente bem assim e se vocês querem mesmo ajudar quem está acima do peso e não se sente bem, ajude com INCENTIVOS. Não com humilhações.

Muitas vezes, os pesos dos comentários são muito maiores do que os pesos que os(as) gordos(as) carregam no corpo, porque as falácias negativas e depreciativas assim o fazem... Vocês sabiam que tem gente que pensa em se matar porque ouve muitas reclamações dos outros com o corpo?

Vejam as seguintes notícias:

Portanto, queridos amigos, não sejam parte do problema. Sejam parte da solução.

E como diz uma frase do dojo-kun (lema do karate), "respeito acima de tudo".


Review de "Divertidamente"

sexta-feira, 8 de julho de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 - 5,0


Que bom que vi muitos filmes bons de uns tempos para cá! Um deles foi o "Divertidamente", animação da Pixar e da Disney que foca nas emoções mais básicas que temos: a Alegria, a Tristeza, a Raiva, a Repulsa e o Medo. Gostei tanto dessa animação que foi ela quem me inspirou a escrever uma reflexão, que é "O mundo que não permite a tristeza".


A animação tem a Riley como personagem central e no interior da cabeça de Riley, funciona uma espécie de escritório 24h, que é a mente dela, onde as cinco emoções convivem "harmoniosamente" ou, pelo menos, era o que a Alegria pensava. A Alegria era a líder das emoções e ela nunca deixava a Tristeza chegar perto das lembranças da Riley, pois não queria que a menina ficasse triste.

Durante a pré-adolescência, algo inesperado acontece e Riley e sua família se mudam para a cidade grande e vivem num apartamento pequeno e uma série de situações bem chatas acontecem: os móveis só chegariam depois, devido a um atraso da transportadora... O pai da Riley está bem estressado e cheio de trabalho... A mudança faz com que Riley se afaste de seus amigos...


A Alegria, dentro da mente dela, não a deixa esmorecer de jeito nenhum e ela nunca deixa a Tristeza atuar. Toca vez que a Tristeza tenta fazer alguma coisa, a Alegria pede para que ela não faça nada e sempre deixa a Tristeza de lado. Durante uma tentativa da Alegria de controlar tudo e não deixar a Tristeza fazer, nem tocar em nada (todas as lembranças que a tristeza tocava se tornavam azuis, ou seja, eram "contaminadas" com a tristeza), a Alegria acaba se atrapalhando, quebram alguns aparelhos e são sugadas para fora da central de controle da mente e das emoções da Riley.

A Alegria e a Tristeza passam um tempo tentando voltar para a central de controle e é engraçado quando o Medo, a Repulsa e a Raiva tentam controlar a mente da Riley. Hehehe! Definitivamente, não é uma boa ideia nos deixarmos controlar apenas por esses três sentimentos.


A estória é muito simples e é baseada em emoções e o quanto elas são importantes... O quanto elas nos afetam...

Durante a jornada de volta à central de controle, A Alegria e Tristeza tentam se unir, mas a Tristeza tá sempre se sentindo tão mal que não tem vontade de fazer nada e a Alegria não consegue compreender a Tristeza.


[Alerta de spoiler] Quando o amigo imaginário de Riley chora, a Alegria não sabe muito bem o que fazer e é a Tristeza quem demonstra a empatia e compaixão necessárias para que uma pessoa se sinta melhor e é só então que a Alegria começa a compreender o quanto a Tristeza é importante e, inclusive, numa das memórias que ela vê da Riley e que ela tanto temia que a Tristeza a "infectasse", ela viu que a memória, antes de virar amarelinha (a cor da alegria), era azul... Ou seja, depois que a Riley ficou muito triste e decepcionada, os amigos e família foram lá animá-la e isso transformou a memória em algo feliz.


É uma animação muito, MUUUUUITO fofa e que vale muito a pena assistir por pessoas de qualquer idade.

Review de "O Silêncio dos Inocentes"




Nota de 1,0 a 5,0 = 5,0


Mais um filme MARAVILHOSO que vi no mesmo dia em que assisti "Ele Está de Volta" e "A Lista de Schindler".

Pessoalmente, eu ADORO vilões e adoro a figura do Dr. Hannibal Lecter, um psiquiatra refinado que é um psicopata e pratica o canibalismo. Acho super-interessante porque no mundo de hoje, nós necessitamos de ajuda profissional devido a tantos problemas que criamos em nossa mente e tantas situações difíceis pelos quais passamos e seria, no mínimo, irônico se o seu psicólogo/psiquiatra fosse um psicopata e devido aos conhecimentos dele em comportamento, personalidade, etc, ele sabe os seus medos e suas angústias mais profundas e, dependendo da pessoa, ele planta uma "sementinha da discórdia", de forma a você libertar sua mente para loucuras que talvez estiveram lá adormecidas ou que você desenvolva isso de certa forma e isso é incrivelmente assustador!


O Hannibal fazia isso com seus pacientes que, muitas vezes, se tornavam serial killers, assassinos e criminosos muito perigosos. O Anthony Hopkins interpreta a frieza, o requinte, a inteligência e sedução do Dr. Lecter de uma forma que é difícil imaginar outro ator na pele dele psicopata canibal, entretanto, já existe uma série do Hannibal que também é muito boa (e o ator que interpreta o Hannibal é fantástico tmb) e recomendo que quem gostar desse vilão fascinante, que assista.

A história de "O Silêncio dos Inocentes" gira em torno de uma policial em formação do FBI, a Clarice (a maravilhosa Jodie Foster) que recebe destaque por ser uma das melhores alunas e deixam ela encarregada de entrevistar o Hannibal, um psicopata muito perigoso que consegue, facilmente, entrar na mente das pessoas e usar seus medos contra elas.


A cena dela entrando no manicômio masculino para entrevistar o Dr. Lecter é MUITO chocante! O que fico impressionada com os filmes antigos é que em termos de conteúdo, eles conseguem ser muito mais pesados do que alguns filmes atuais. Eles podem não ter toda a beleza e tratamento de imagens que havia na época, por não haver tecnologia o suficiente, mas os filmes, mesmo que não tenham um tratamento de imagens mais escuro de sombrio como os filmes de hoje, a densidade da cena torna o filme MUITO sombrio. A cena onde ela conseguiu entrevistar o Hannibal e está saindo do manicômio/presídio é BEEEEM forte!

O motivo dela entrar em contato com o criminoso é que por ele ser um excelente psiquiatra, ele compreende a mente de muitas pessoas e sabe o que esperar delas, então, ela precisa da colaboração dele para que a polícia encontre um criminoso, que vem assassinado várias mulheres e tem tirado pedaços de suas peles. Ele concorda, contanto que ela conte sobre a vida dela, como se ele fosse o psiquiatra dela em tratamento.


Antes dela entrar nessa prisão para falar com ele, outros policiais a orientaram a não deixar que ele entre na mente dela, mas ele é tão inteligente e consegue manipular as pessoas tão bem que ele acaba conseguindo o que quer.


É bem controverso ver que o mesmo vilão temido por todos e que o conhecimento dele sobre você pode ser uma arma poderosa contra a própria pessoa acaba ajudando uma investigação policial e, ao mesmo tempo, ele tem uma relação com a Clarice que se confunde entre o tratamento terapêutico, o medo e pitadas de charme e sedução.

Um filme muito, MUITO BOM e que recomendo para quem gosta de filmes de suspense e investigação policial.


Review de "A Lista de Schindler"


Nota de 1,0 a 5,0 = 5,0


Nossa! No mesmo dia em que vi "Olha quem está de Volta", vi mais outros dois filmes, que foram clássicos: "A Lista de Schindler" e "O Silêncio dos Inocentes" (cujos reviews, farei em breve), o primeiro, um clássico da História e do drama e o outro, um clássico do suspense.

"A Lista de Schindler" é um filme do grande cineasta Steven Spielberg, que marcou a geração anos 80 com o filme "ET", "Jurassic Park" e tantos outros sucessos, mas por ser um gênero diferente desses outros filmes que citei, confesso que me surpreendi. Sempre tinha ouvido falar desse filme, mas somente há uns finais de semana atrás, consegui vê-lo do início ao fim.

Mesmo sendo um filme da década de 1990, o diretor escolheu gravar tudo em preto e branco e isso deu uma certa elegância ao filme e também deu um certa morbidez, no qual está inserida a época, que retrata o nazismo na Alemanha. A única parte em cores, é a roupa de uma menina, de vestido vermelho, que sai correndo em algumas cenas e que, poeticamente, retrata o sangue e a violência da época.


O filme conta a história de um empresário, o Schindler, que está ascendendo socialmente, fazendo acordos com os judeus e conseguindo mais dinheiro, poder e prestígio e enquanto eles faz esses acordos, ele vê o quanto a vida dos seus empregados vem piorado e se tornando, cada vez mais complicada, devido ao nazismo.

É impressionante ver como era a casa e os luxos que os judeus possuíam antes da guerra e como, aos poucos, foi-se atribuindo a culpa de todas as crises e tudo de ruim que acontecia na Alemanha a eles e então, eles foram tratados das maneiras mais cruéis e abomináveis que podemos imaginar. 


[Alerta de spoiler] Uma das cenas que me tocou foi a de um idoso judeu, que possuía apenas uma mão e foi contratado para trabalhar na fábrica do Schindler. O idoso foi agradecer ao Schindler por tê-lo salvado e, inocentemente, o senhor se dizia um funcionário muito importante da fábrica e os soldados nazistas, ao verem o funcionário "maneta", como eles tratavam, riram e o assassinaram a tiros depois. O mais impressionante de tudo é que apesar do cinema romantizar muito as coisas, boa parte das histórias foram baseadas em fatos reais.

Os judeus eram mortos por qualquer motivo, até mesmo por diversão... O soldado nazista, brilhantemente interpretado pelo Rauph Fiennes (o mesmo ator que interpretou "Voldemort" do Harry Potter e o "Dragão Vermelho", da trilogia do Hannibal), não tinha o que fazer, estava entediado e decidiu matar vários judeus "para brincar um pouquinho". A frieza e maldade deste personagem eram impressionantes.



Schindler, no início, começa com uma visão empresarial e empreendedora de um homem ambicioso e de lábia habilidosa, que queria prosperar nos negócios e utilizou a guerra e a crise em que estavam vivendo como uma alavanca para este sucesso e assim, ele utilizava a mão-de-obra judia por ser mais barata e fácil de explorar, mas, ao mesmo tempo, ele acabava salvando esses judeus das garras dos nazistas. Só beeeeem depois é que ele realmente teve a intenção de salvar os judeus da tortura e da morte. Ao mesmo tempo, ele conseguia apoio dos nazistas, graças à sua simpatia e lábia e assim, ele obteve muito sucesso e prosperidade.


O mais chocante de tudo é que no final [alerta de spoiler de novo], as imagens ficam coloridas e os atores que interpretaram os judeus entram em cena, levando pedras ao túmulo de Schindler, junto aos judeus DE VERDADE, que possuíam aqueles nomes e viveram aquelas histórias mostradas no filme.

Uma cena dessas e um filme desses, com pessoas reais faz contando todo esse sofrimento que viveram, na época do Holocausto, no mínimo, é de calar as bocas das pessoas que não estudaram História ou acham que "O Nazismo não foi assim tão ruim".

Assistam esse filme e tirem suas próprias conclusões do que foi o período nazista.




Os judeus presos nas câmaras de gás e Schindler lutando para elas terem um pouco de água e assim, sobreviverem


Campos de concentração nazista

Soldado nazista grita ensandecido. Ao fundo, corpos de judeus queimando

Cena final, onde os judeus que passaram por tudo isso de verdade colocam uma pedra sobre o túmulo de Oskar Schindler

O feminino e a beleza

quarta-feira, 6 de julho de 2016


Vocês já pararam para pensar que, talvez, o feminino, como nós conhecemos hoje, pode não ser o feminino de verdade? Que tudo isso que vivemos faz parte de uma construção social?

É aí que partimos para perguntas bem complexas e que, talvez, não tenhamos, ainda, as respostas: o que é o feminino? O que define alguém como sendo feminino(a)? E agora, uma pergunta dificílima para refletirmos juntos: o que é biológico e o que é construção social, de forma a definir ou, até mesmo, desconstruir o que conhecemos hoje como o feminino?

Eu me questionei essa última pergunta várias vezes e ainda não encontrei uma resposta satisfatória, por isso, vamos "congelá-la" e voltar para as questões anteriores:

O que é o feminino?


Se fôssemos para as definições que se faziam antigamente, pensaríamos como tudo o que é oposto ao homem, ou seja, que é um ser humano fisicamente mais frágil... Mais dócil... Sensível... Delicado... Mais emotivo... Muitos associam o feminino à figura da mãe... Ou da mulher sedutora... Mesmo em pleno século XXI, ninguém associa a figura feminina à uma caçadora... A uma guerreira viking sanguinária (mesmo com um estudo que diz que existiam muitas amazonas vikings)...

E se, hoje em dia, pedíssemos a um adulto, adolescente ou uma criança para que pensassem numa mulher, as crianças, provavelmente, pensariam em suas mães, os adolescentes pensariam em mulheres que admiram (divas pop, por exemplo) ou, se forem homens, adultos e adolescentes pensariam numa mulher que eles acham atraente... Se forem mulheres, uma mulher que as inspiram... A questão é que todos pensarão numa mulher bem arrumada dentro de seu estilo (se ela tiver algum, seja ele mais clássico, ou rock, ou pop, etc), com batom, maquiagem, salto... Pensarão numa mulher "comercial", mas eis que pergunto: e se pegássemos essa mulher e tirássemos todos os apetrechos dela? Tiramos a maquiagem... Tiramos as roupas que acentuam as curvas femininas... Tiramos tudo! Ainda resta o feminino na mente dessas pessoas? Vocês ainda achariam essa mulher atraente?


As pessoas atribuem ao feminino o que não é natural. Qual a mulher que já nasceu com batom, rímel, lápis, maravilhosamente maquiada e depilada? NENHUMA! Tentam disfarçar tudo o que nos foi dado naturalmente. Para isso, criaram as giletes, as ceras, vários outros tratamentos estéticos para remoção de pelos... Maquiagens de vários tipos e várias qualidades... Existem até as tatuagens que funcionam como maquiagens permanentes, mas nada disso é como realmente nascemos. São apetrechos que nos tornam mais bonitas, dentro dos padrões estéticos de hoje. Então, faço outra pergunta para reflexão: se o feminino é aquilo que é referente àquelas que nasceram como mulheres (como definem os dicionários), sendo algo naturalmente nosso, o feminino é bonito? Você se sentiria bonita se não se depilasse ou usasse maquiagem? Você se sente feminina em seu estado natural? Você, homem, acharia atraente uma mulher que não se maquia e não se depila? Acharia ela feminina? Mais uma vez: dentro deste ponto de vista, o feminino é mesmo bonito?

Eu me questionei isso quando li um artigo muito interessante sobre mulheres que se arrumam e passam por uma série de procedimento e "rituais" para ter relações sexuais (quem puder, leia. Esse artigo é maravilhoso) e quando a autora do artigo perguntou aos amigos dela o que eles faziam quando sabiam que ia ter aquela noite de sexo, muitos respondiam apenas que faziam a barba e tomavam banho... Ou seja: os homens estão muito mais próximos de seu estado natural. Mesmo com tantas idas e vindas de modas, como o metrossexual e os bombados de academia que se depilam (ou, simplesmente, o homem que sentir vontade de se depilar), se o homem resolver que não quer depilar nada, a sociedade aceita isso numa boa. Logo, acho que pode-se dizer que o masculino é bonito aos olhos da sociedade. Se ele se depilar, ainda tem as pessoas que chamariam ele de "viado" e outras coisas que colocariam a "masculinidade" dele à prova, mas é muito mais aceito que uma mulher sem depilar as axilas, por exemplo. Eu confesso que sinto um certo nojo quando vejo mulheres sem axilas depiladas, mas compreendo que somos frutos de construções sociais e fomos ensinados a pensar assim. Na Europa, uma mulher que não depila as axilas é vista com mais "normalidade" e é aceita.

Minha reflexão aqui não é uma incitação do tipo "jogue sua gilete fora e nunca mais use maquiagem". Cada uma faz aquilo o que achar melhor para si mesma, mas percebam a diferença como tratam o que é natural a nós e o que é natural aos homens e vamos refletir sobre isso. Será que se tratassem a nossa naturalidade como algo belo, não nos sentiríamos mais auto-confiantes? Você não se sentiria melhor se dissessem que você já nasceu linda e não precisa fazer nada para mudar isso? Só muda o que você tiver vontade? Pois esse é o mundo dos homens e é nesse sentido que a igualdade de gênero também deveria ser importante, pois o que a mídia ensina é que somos tão feias que precisamos não apenas de batom, mas de base, primer, máscara de cílios, pó, sombra, delineador, blush claro e escuro para fazer efeitos, lápis de boca, primer para boca, botox, bundex (ainda existe esse negócio?)... Tanta coisa para ficarmos parecidas com as atrizes, cantoras e famosas que vemos na TV/internet. Nós somos as maiores consumidoras de produtos cosméticos e isso só mostra o quanto nós mulheres somos inseguras com nossa aparência, de uma forma geral e o quanto damos mais importância a ela do que a outras coisas.

Por favor, vejam esse clipe. Ele é maravilhoso e mostra as mulheres, incluindo a cantora, com e sem maquiagem:


Como estamos num mundo líquido, muitas coisas estão perdendo a definição e estão navegando na maré de incertezas... Há homens que nascem femininos, sofrem muito preconceito com isso e podem se revelar, na puberdade (alguns, se revelam ainda na infância, mesmo sem ter noção das relações sexuais), como gays, transexuais, travestis, bissexuais ou ainda, homens que, simplesmente, são mais delicados e sensíveis, mas são heterossexuais e defendem as mulheres e o feminismo. Há, ainda, mulheres que se identificam com o masculino, se identificando como lésbicas, bissexuais, sapatões ou, simplesmente, são mulheres que são heterossexuais, mas não são delicadas, não choram em filmes de romance, não querem ser mães, não têm vergonha de demonstrar a sua sexualidade acentuada e/ou não têm paciência com "melodramas".

Sendo assim, devolvo a pergunta que agora, ficou mais difícil de se responder: o que é o feminino neste mundo de contínua desconstrução? E ainda, repito a pergunta que ainda reflito sobre ela: o que é que é biológico e o que é que é construção social nesta definição entre o feminino e o masculino?

Quando acho que sei algumas respostas para essas questões, aparentemente bobas, surgem mais perguntas e acho que esse é o grande barato do mundo líquido de hoje - você poder desconstruir para uma melhor compreensão e depois reconstruir ou, ainda, por mais angustiante que seja, permear no universo das incertezas e apenas admirar a beleza, a fragilidade e a complexidade que é o ser humano, seja biologicamente ou psicologicamente.

Queridas amigas (mulheres ou pessoas que se consideram femininas), quero encerrar esse meu post meio confuso (por não apresentar nenhuma resposta concreta e sim, apenas dúvidas), dizendo que NÓS é quem definimos o que é feminino ou não, simplesmente por sermos... Por existirmos e que somos lindas, escolhendo sair por aí com ou sem maquiagem.

Beijões enormes e sejam do jeito que vocês se sentem felizes!


Obs: percebam que não sou contra a maquiagem e a depilação. Inclusive, gosto de ambas, mas sou contra a imposição social de que "só isso é aceito" e "só isso é que é o bonito", ou ainda "isso é ser mulher. Isso é o feminino" quando, como expliquei no post, não é bem assim.

Suicídio: a diferença entre querer morrer e querer que a dor pare

domingo, 3 de julho de 2016


Artigo belíssimo e muito útil para quem pensa ou já pensou em se matar ou, ainda, para pessoas que têm amigos e parentes que pensam nisso e estão passando por esta fase difícil...

Boa leitura!

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Por: Jennifer Wilson
Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse: a dor que rodeava e apertava meu peito, o peso que envolveu meu cérebro na sombra, a agonia que transformou todo o mundo em escuridão.

Eu precisava disso para cessar a dor.

Não foi um grande trauma que me convenceu que a morte era a minha única opção, mas uma série interminável de pequenas dores que roubaram a minha esperança. A pressão da vida quotidiana tornou-se um assalto implacável: uma mão pesada sobre meu ombro que me esmagava.

Uma manhã eu tive uma discussão menor com meu marido e, como diz o provérbio sobre colocar mais lenha na fogueira, essa discussão me deixou em pedaços.

E então eu decidi que tinha apenas uma escolha que fazia algum sentido. Senti que todo mundo estaria melhor sem mim.

Eu fiz um plano. Eu escrevi cartas para a minha família. Chorando, telefonei para o meu amado irmão para dizer adeus.

Entretanto, levou poucos momentos para ele compreender o que eu estava fazendo e, em seguida, rapidamente, ele entrou em ação. Ele me cortou, desligou na minha cara e chamou meu marido imediatamente.

Meu marido correu de seu prédio de escritórios e, frenético, me procurou usando um aplicativo em seu telefone. Ele chamou um policial. Chamou a ambulância. Levou-me para o hospital.

Deram-me uma bebida lamacenta em um copo de papel enquanto eu estava deitada na maca, e eu chorei.

Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse.

A escuridão que eu tinha mergulhado era muito espessa. Eu não conseguia mais enxergar meus filhos. Eu não conseguia mais enxergar a vida que eu tinha construído com o homem que eu havia escolhido 25 anos atrás. Eu não podia enxergar minha família, os irmãos que me conheciam desde o nascimento, os pais que me apoiaram desde antes que eu pudesse lembrar. Eu não podia enxergar meus amigos, que teriam ficado extremamente entristecido comigo se eu tivesse de deixá-los.
Eu não podia ver o amor.

Havia amor em volta de mim, mas esse amor foi empurrado pela escuridão, com força despejado de minha consciência pelo preto sufocante.

No hospital psiquiátrico, eu estava cercada por pessoas cujas experiências foram muito parecidas com o minha. Ouvi histórias familiares. Eu aprendi novas formas de lidar com a minha dor. Percebi que tinha opções. Mais importante, porém, vi que não estava sozinha.

Eu tenho ajuda.

Eu tenho um bom diagnóstico e fui colocada sob medicação que funcionou como um raio de luz no meu cansado cérebro, confuso. Isso não aconteceu da noite para o dia. Levou algum tempo para encontrar as doses certas e as prescrições corretas, mas eu perseverei. Eu mantive firmemente a esperança de que o antídoto certo para a escuridão poderia ser encontrado.

Eu não quero morrer.

Eu só queria que a dor parasse.

E ela parou.

Lenta, mas seguramente, com a terapia e o tempo, a dor parou.

Estou aqui hoje para lutar junto com você: Não desista.

Há uma razão para que você esteja lendo isso agora, neste exato momento no tempo. Esta é uma mensagem que você precisa ouvir. Você não está sozinha. O próprio mundo anseia para você ficar, anseia para você permanecer. A Terra está chamando. Ouça! Lá está, no calor dos raios do sol em cima de seu rosto virado para cima, na brisa fresca que acaricia sua pele, no canto de um pássaro, a maravilha de folhas e flores. A mensagem está lá para ouvir. A Terra está implorando para você não desistir.

Para toda escuridão há um facho de luz pelo qual é possível andar, basta apenas que os olhos sejam liberados do desespero.

Buscar. Falar com alguém. Há amor lá fora; há amor ao seu redor. Só porque você não pode sentir isso agora não significa que ele se foi. Não acredite na escuridão. Ele é uma mentirosa e uma ladra.

Estou feliz por estar aqui hoje.

A chuva cai e o sol brilha. Posso ver meus filhos rirem e chorarem e lutar e crescer. Meus pais estão agradecidos. Meu marido é cuidadoso. Meus irmãos me apoiam. Meus amigos me querem bem. Todo dia eu vejo o amor que eu não podia ver antes.

Eu acreditava nas mentiras que a escuridão me falou, e eu tentei tirar minha vida.

As vezes a vida ainda é uma luta. As vezes o amor parece desaparecer e parece estar longe. Há dias em que eu acordo desanimada e me sinto derrotada. Tem dias que eu ainda quero deixar este mundo (e todas as suas tribulações) para trás. Mas eu continuo colocando um pé na frente do outro, e eu agarro a esperança. Eu falo com os que me rodeiam. Eu tenho um boa noite de sono. Um novo dia amanhece. Eu me sinto melhor.

Eu não tinha que morrer para que a dor parasse.

Você também não tem que querer.


Texto original: The Difference Between Wanting to Die and Wanting the Pain to Stop

Tradução: livre / O autor do Blog

Fonte: Blog Homem contra Si Mesmo