Sobre mulheres, crack e perspectivas

sábado, 2 de janeiro de 2021

 

Ontem, li uma reportagem muito interessante que falava sobre mulheres usuárias de crack.

Ao ler essa matéria e comentar no Twitter do jornal, fiquei impressionada do quanto as pessoas gostam muito de julgar sem conhecer a raiz dos problemas e caem no senso comum de que as usuárias "são umas vagabundas bandidas criminosas", entre outras coisas, porque algumas delas, especialmente as mais pobres, roubam para conseguir alimentar o vício.

Roubar nunca será algo correto, mas as pessoas não entendem que quando as pessoas de esquerda dizem que "prender, não adianta", caem no simplismo de "lá vai o povo dos direitos humanos defender bandido. Leva pra casa então!" quando, na verdade, o que se defende não é o fim do encarceramento e sim, a compreensão do fenômeno - Por que aquelas pessoas estão roubando? Por que estão consumindo drogas? Qual o perfil das usuárias? E das presidiárias? Por que algumas pessoas são presas e outras, não?

Isso é ir na raiz do problema, mas as pessoas que repetem pensamentos e comportamentos do senso comum se dão por satisfeitas ao ver umas folhinhas ou um galho pequeno sendo arrancados, achando que já resolveram as questões quando, na verdade, deve-se arrancar a erva daninha pela raiz.

A Gabriela Prioli gravou alguns vídeos explicando sobre a Política de Drogas em 4 partes. Esse é o primeiro. Links das outras partes: Parte 2 | Parte 3 | Parte 4


Na reportagem da Carta Capital, vimos que boa parte das mulheres que usam crack sofreram vários tipos de violência, entre elas, sexual e boa parte delas são mulheres negras e estão ou já estiveram em situação de rua ou vivem em condições precárias. O crack é só uma fuga à essa dura realidade de privação de vários direitos.

Em primeiro lugar, as drogas devem ser vistas como um problema de saúde pública e de direitos humanos e o Estado deve se responsabilizar por essas pessoas, porque ele é um dos motivos delas estarem ali - os altos impostos, as poucas oportunidades de trabalho, o pouco investimento em educação, em saúde e em políticas que assegurem os direitos daquelas pessoas e que tenham medidas mais duras com homens violentos, etc - e, desta forma, ele deve cuidar dessas mulheres, oferecendo, minimamente, assistência psicológica e psiquiátrica (em alguns casos), oferecer abrigo e realizar trabalhos de ressocialização.


Em segundo lugar, porque usuários não devem ser confundidos com traficantes. Temos um sistema carcerário e de segurança muito falho e que já está superlotado e em condições desumanas. Encher os presídios com usuários não resolve em nada a situação: o vício nas drogas não é curado e a segurança aos cidadãos é temporária e de fachada, porque sempre surgem novos usuários. Além disso, as pessoas que são presas estão lá por delitos menores e são, em sua maioria, negros e pobres. Poucos são os presidiários que cometeram crimes grandes e graves que estão presos. É só olhar para os políticos que são pegos roubando milhões da saúde e da educação e ver quantos deles estão realmente nos presídios.

Assim, é perceptível que essas usuárias, tão julgadas e odiadas pela nossa sociedade, têm classe e cor bem definidas e que precisam de assistência, justamente, para tratar os problemas que possuem e para que não representem um problema para nossa sociedade, nos casos de roubo para alimentar o vício.


Bater ainda mais nelas e ter medidas ainda mais duras e violentas é continuar uma estratégia que já está em vigência e que não tem apresentado sinais de melhora.

Fica a pergunta: por que as pessoas acham que vão resolver algo com mais violência ainda? Por que elas não têm esse mesmo senso de justiça em relação às pessoas que matam centenas ou milhares de civis com uma canetada? Se a violência é, justamente, o motivo das usuárias consumirem drogas, por que acham que com mais violência ainda, elas vão parar de consumir?


Por isso, acho que precisamos de mudanças eficientes, através de um olhar empático com o outro. "Gentileza gera gentileza" e é só ela que será capaz de mudar esse mundo tão enlouquecido pelo extremismo, ódio e violência.


0 comentários:

Postar um comentário