(Daliana Cavalcanti - 21/09/2022)
Infelizmente, a ignorância humana nunca deixa de me surpreender...
Hoje (dia 21 de setembro), eu acabei de ver um vídeo da candidata a Deputada Federal, Thabatta Pimenta, mulher trans, que ia utilizar o banheiro do Via Direta e acabou sendo barrada pelos seguranças.
Como se isso já não fosse ruim o suficiente, vi que o Novo Notícias não divulgou o nome do estabelecimento onde ocorreu o crime de transfobia e, para completar, foram inúmeros os comentários de pessoas parabenizando os seguranças por causa disso.
Mais uma vez, me deparo com tanta coisa errada que é difícil saber por onde começo, mas vamos lá...
É surpreendente o quanto o corpo e a vida do outro incomodam as pessoas: toda e qualquer pessoa que foge ao “senso comum”, acorda o velho espírito do “queimem a bruxa”, que vem desde a Inquisição e eis que faço a provocação: por que uma pessoa, que eu nem sequer conheço, me incomoda tanto?
“Ai, Dali. Mas ele nasceu homem, então, é homem. Deus o fez como homem”.
Hoje (dia 21 de setembro), eu acabei de ver um vídeo da candidata a Deputada Federal, Thabatta Pimenta, mulher trans, que ia utilizar o banheiro do Via Direta e acabou sendo barrada pelos seguranças.
Como se isso já não fosse ruim o suficiente, vi que o Novo Notícias não divulgou o nome do estabelecimento onde ocorreu o crime de transfobia e, para completar, foram inúmeros os comentários de pessoas parabenizando os seguranças por causa disso.
Mais uma vez, me deparo com tanta coisa errada que é difícil saber por onde começo, mas vamos lá...
É surpreendente o quanto o corpo e a vida do outro incomodam as pessoas: toda e qualquer pessoa que foge ao “senso comum”, acorda o velho espírito do “queimem a bruxa”, que vem desde a Inquisição e eis que faço a provocação: por que uma pessoa, que eu nem sequer conheço, me incomoda tanto?
“Ai, Dali. Mas ele nasceu homem, então, é homem. Deus o fez como homem”.
Antes de responder esse pensamento comum, deixe-me contar e mostrar a vida como ela é, ok? Sair da bolha e começar a enxergar o outro é importante. Pessoas que se identificam com o sexo no qual nasceram são chamadas de cisgênero ou, simplesmente, cis. Nós, cis, somos uma maioria privilegiada, pois todo mundo nos aceita onde quer que estejamos, entretanto, essa não é a realidade das pessoas transgênero, ou trans.
Alguns homens e mulheres trans já se entendem assim desde criança, mas outros(as) só descobrem depois de adultos(as). Dependendo do conhecimento que têm, da família e ambiente onde vivem, eles(as) podem aceitar isso mais rápido ou demorar mais, ou ainda, viver a vida lutando contra si mesmos(as), agradando a sociedade, mas se mantendo infelizes e, meus queridos e minhas queridas, não se enganem: recalcar não é “curar” e não há cura para o que não é doença.
Quando você inibe algo em si mesmo(a) ou em alguém, aquilo virá à tona em forma de alguma doença psicossomática ou psíquica somente, o que é muito pior do que a pessoa, simplesmente, se aceitar como é: um corpo que se transforma no que já está na mente e no coração.
Desta forma, quando se obriga alguém a “se submeter a uma cura gay” ou qualquer coisa do tipo, você está condenando àquela pessoa a uma vida de loucura e infelicidade e tudo isso porque você, um outro corpo, uma outra mente, com outras necessidades, não concorda que ele(a) viva e se enxergue da forma que ele(a) quer e quer impor a sua forma de ser e de ver o mundo. Faz sentido isso?
Faria sentido se eu torcesse pelo Palmeiras e obrigasse você, leitor(a), a torcer também, porque eu gosto do craque Fulaninho de Tal e porque o pastor da minha igreja disse que esse é o time abençoado por Deus? Não me interessa se o pastor/padre da sua igreja é do Flamengo e disse que “Deus é alvinegro”. Eu acredito que o certo é o Palmeiras, então, você tem que torcer pelo Palmeiras porque EU quero. Porque o que EU acredito é certo. Porque sempre foi o certo torcer pelo Palmeiras, afinal, a cor é verde, que remete ao Jardim do Éden, lugar de onde vieram os primeiros seres humanos criados por Deus, então, esse é o certo para MIM e não há discussão!
Percebem o quanto o exemplo acima mostra crenças egóicas, baseadas numa ÚNICA subjetividade e que são aspectos que podem funcionar para VOCÊ, mas não para o(a) outro(a)? Esse pensamento se aplica, inclusive, para religiões: ninguém é obrigado(a) a acreditar no mesmo que você. Tenha isso em mente ao lidar com outro ser humano.
Claro que identidade de gênero não é como torcer para times de futebol e a comparação foi bem grotesca, mas é incrível ver como as pessoas se utilizam do divino para justificar seu ódio e preconceito.
Não só do sagrado, como das leis! Um dos comentários foi de um rapaz, que citou o Art. 3º, que dizia, mais ou menos, que “não podem existir espaços exclusivos para transexuais e travestis” e quando um outro homem o interrogou sobre “o que significava”, muito arrogantemente, pediu que ele “interpretasse o texto”, mas o próprio foi incapaz disso – se a mulher trans está usando o banheiro feminino, não se trata de um espaço exclusivo para trans, pois as mulheres cis TAMBÉM estão utilizando o local.
Se você não é transexual, isso significa que você corre menos risco de ser expulso(a) de casa pelos seus pais; que existe uma menor possibilidade de você ser impedido(a) de utilizar o banheiro, pois todos(as) entendem que você é um ser humano e que possui necessidades fisiológicas; que você tem mais oportunidades de trabalho, pois por causa da não-aceitação da sociedade, o que resta para muitos transexuais é o mercado do sexo; que você corre menos risco de sofrer violência na rua ou de ser assassinado, apenas por ser quem é, entre outras coisas, portanto, antes de abrir a boca para falar que “estão querendo aparecer” e que “estão de mimimi”, pense duas vezes. Pense em como seria sua vida se você passasse, pelo menos, por metade das coisas que eles(as) passam TODOS OS DIAS e apenas respeite. Eles(as) não estão empatando sua vida em NADA, mas o seu ódio e intolerância pode barrar e até ACABAR com a vida deles(as).
“Mas Dali, e se uma mulher trans entrar no banheiro e tiverem mulheres ou crianças lá?”
Alguns homens e mulheres trans já se entendem assim desde criança, mas outros(as) só descobrem depois de adultos(as). Dependendo do conhecimento que têm, da família e ambiente onde vivem, eles(as) podem aceitar isso mais rápido ou demorar mais, ou ainda, viver a vida lutando contra si mesmos(as), agradando a sociedade, mas se mantendo infelizes e, meus queridos e minhas queridas, não se enganem: recalcar não é “curar” e não há cura para o que não é doença.
Quando você inibe algo em si mesmo(a) ou em alguém, aquilo virá à tona em forma de alguma doença psicossomática ou psíquica somente, o que é muito pior do que a pessoa, simplesmente, se aceitar como é: um corpo que se transforma no que já está na mente e no coração.
Desta forma, quando se obriga alguém a “se submeter a uma cura gay” ou qualquer coisa do tipo, você está condenando àquela pessoa a uma vida de loucura e infelicidade e tudo isso porque você, um outro corpo, uma outra mente, com outras necessidades, não concorda que ele(a) viva e se enxergue da forma que ele(a) quer e quer impor a sua forma de ser e de ver o mundo. Faz sentido isso?
Faria sentido se eu torcesse pelo Palmeiras e obrigasse você, leitor(a), a torcer também, porque eu gosto do craque Fulaninho de Tal e porque o pastor da minha igreja disse que esse é o time abençoado por Deus? Não me interessa se o pastor/padre da sua igreja é do Flamengo e disse que “Deus é alvinegro”. Eu acredito que o certo é o Palmeiras, então, você tem que torcer pelo Palmeiras porque EU quero. Porque o que EU acredito é certo. Porque sempre foi o certo torcer pelo Palmeiras, afinal, a cor é verde, que remete ao Jardim do Éden, lugar de onde vieram os primeiros seres humanos criados por Deus, então, esse é o certo para MIM e não há discussão!
Percebem o quanto o exemplo acima mostra crenças egóicas, baseadas numa ÚNICA subjetividade e que são aspectos que podem funcionar para VOCÊ, mas não para o(a) outro(a)? Esse pensamento se aplica, inclusive, para religiões: ninguém é obrigado(a) a acreditar no mesmo que você. Tenha isso em mente ao lidar com outro ser humano.
Claro que identidade de gênero não é como torcer para times de futebol e a comparação foi bem grotesca, mas é incrível ver como as pessoas se utilizam do divino para justificar seu ódio e preconceito.
Não só do sagrado, como das leis! Um dos comentários foi de um rapaz, que citou o Art. 3º, que dizia, mais ou menos, que “não podem existir espaços exclusivos para transexuais e travestis” e quando um outro homem o interrogou sobre “o que significava”, muito arrogantemente, pediu que ele “interpretasse o texto”, mas o próprio foi incapaz disso – se a mulher trans está usando o banheiro feminino, não se trata de um espaço exclusivo para trans, pois as mulheres cis TAMBÉM estão utilizando o local.
Se você não é transexual, isso significa que você corre menos risco de ser expulso(a) de casa pelos seus pais; que existe uma menor possibilidade de você ser impedido(a) de utilizar o banheiro, pois todos(as) entendem que você é um ser humano e que possui necessidades fisiológicas; que você tem mais oportunidades de trabalho, pois por causa da não-aceitação da sociedade, o que resta para muitos transexuais é o mercado do sexo; que você corre menos risco de sofrer violência na rua ou de ser assassinado, apenas por ser quem é, entre outras coisas, portanto, antes de abrir a boca para falar que “estão querendo aparecer” e que “estão de mimimi”, pense duas vezes. Pense em como seria sua vida se você passasse, pelo menos, por metade das coisas que eles(as) passam TODOS OS DIAS e apenas respeite. Eles(as) não estão empatando sua vida em NADA, mas o seu ódio e intolerância pode barrar e até ACABAR com a vida deles(as).
“Mas Dali, e se uma mulher trans entrar no banheiro e tiverem mulheres ou crianças lá?”
Daí, se a mulher cis se simpatizou com a mulher trans, ela deseja “bom dia, boa tarde ou boa noite” e vive a sua vida feliz. Senão, ela a trata como as outras mulheres cis no recinto: só vê, ignora e vai fazer o que veio fazer ali dentro e vai viver feliz do mesmo jeito. Oxe!
As pessoas frequentemente confundem identidade de gênero com orientação sexual e bom... Existem homens e mulheres trans, que podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais e mais outras tantas sexualidades que estão sendo descobertas. A maioria das mulheres trans que conheci são heterossexuais, mas conheci uma que é lésbica e, mesmo assim, qual a diferença? Tantas mulheres cis entram e saem daqueles banheiros e elas são hetero, bi ou lésbicas também e ninguém se importa. Por que tanta preocupação com mulheres trans, que só querem usar o banheiro para fazer o nº 1 ou o 2 e ir embora...?
Muito mais perigosos, são os caras que estão usando o mictório a seu lado, se você for homem, é claro. A população masculina é quem domina as estatísticas de crimes de roubo, violência, estupro e assassinato, sem falar que o nosso país é um dos que mais veem vídeos pornôs com transexuais (sites esses que também têm predominância de acessos masculinos). Hipocrisia que chama, né?
As pessoas frequentemente confundem identidade de gênero com orientação sexual e bom... Existem homens e mulheres trans, que podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais e mais outras tantas sexualidades que estão sendo descobertas. A maioria das mulheres trans que conheci são heterossexuais, mas conheci uma que é lésbica e, mesmo assim, qual a diferença? Tantas mulheres cis entram e saem daqueles banheiros e elas são hetero, bi ou lésbicas também e ninguém se importa. Por que tanta preocupação com mulheres trans, que só querem usar o banheiro para fazer o nº 1 ou o 2 e ir embora...?
Muito mais perigosos, são os caras que estão usando o mictório a seu lado, se você for homem, é claro. A população masculina é quem domina as estatísticas de crimes de roubo, violência, estupro e assassinato, sem falar que o nosso país é um dos que mais veem vídeos pornôs com transexuais (sites esses que também têm predominância de acessos masculinos). Hipocrisia que chama, né?
“E o que vou dizer pras crianças?”
Você educa e diz que existem pessoas cis e trans e que tem pessoas que se transformam e outras que se identificam com o sexo que nasceram e pronto. É importante que as crianças saibam disso, pois se tiverem coleguinhas da escola que são trans e sabem disso desde sempre, então, elas saberão como tratá-las bem e com respeito. Simples assim e sem juízo de valor.
“Mas isso é perigoso! E se elas também quiserem ser trans?”
“Mas isso é perigoso! E se elas também quiserem ser trans?”
Daí, você tem várias conversas com elas, para saber se ela estão certas disso e cabe a você decidir se você vai fazer parte do problema, traumatizando a criança em sua descoberta, expulsando de casa e expondo ela a todo tipo de violência, sendo TAMBÉM um(a) responsável e coautor nos crimes de transfobia ou se você respira, tenta entender e tenta APOIÁ-LA e PROTEGÊ-LA, para que ela pertença ao pouco número de trans que estão vivos(as) e felizes (apesar de tudo) para contar a história e que passe por todo esse processo de descobertas da forma mais amorosa possível.
E, para finalizar, o papel da imprensa nessa história: acho vergonhoso que um veículo de informação não a trate como ela é - um crime de TRANSFOBIA - e, além disso, não cite o shopping Via Direta, como o palco para este preconceito.
A mídia sempre foi muito manipuladora, mas quando vemos esse tipo de coisa, que é muito semelhante às diferenças das manchetes “traficante é preso”, quando o sujeito é negro e pobre e “jovem filho de empresário”, quando é branco e de classe média/alta, sabemos qual a visão daquele meio de comunicação e, para mim, foi o suficiente para eu deixar de seguir o referido jornal, que também nada fez para impedir os comentários transfóbicos, das pessoas que aplaudiram as atitudes dos seguranças, que só cumpriram ordens da administração do shopping e se mostraram confusos com o assunto.
Enfim... Sonho com o dia em que tudo isso mude e que as pessoas enxerguem o outro da forma como ele(a) é: um outro, que mesmo sendo um ser humano, tal como eu, com as mesmas necessidades básicas de comer, beber, ir ao banheiro, ter direito à saúde, educação, cidadania, etc, é um outro, diferente de mim e está tudo bem.
Não precisamos ser todos iguais, mas precisamos ter os mesmos direitos. É nisso o que eu acredito.
Beijão e até mais.
E, para finalizar, o papel da imprensa nessa história: acho vergonhoso que um veículo de informação não a trate como ela é - um crime de TRANSFOBIA - e, além disso, não cite o shopping Via Direta, como o palco para este preconceito.
A mídia sempre foi muito manipuladora, mas quando vemos esse tipo de coisa, que é muito semelhante às diferenças das manchetes “traficante é preso”, quando o sujeito é negro e pobre e “jovem filho de empresário”, quando é branco e de classe média/alta, sabemos qual a visão daquele meio de comunicação e, para mim, foi o suficiente para eu deixar de seguir o referido jornal, que também nada fez para impedir os comentários transfóbicos, das pessoas que aplaudiram as atitudes dos seguranças, que só cumpriram ordens da administração do shopping e se mostraram confusos com o assunto.
Enfim... Sonho com o dia em que tudo isso mude e que as pessoas enxerguem o outro da forma como ele(a) é: um outro, que mesmo sendo um ser humano, tal como eu, com as mesmas necessidades básicas de comer, beber, ir ao banheiro, ter direito à saúde, educação, cidadania, etc, é um outro, diferente de mim e está tudo bem.
Não precisamos ser todos iguais, mas precisamos ter os mesmos direitos. É nisso o que eu acredito.
Beijão e até mais.
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