(Daliana Cavalcanti – 21/02/2023)
Quando tive a ideia de me matricular no Laboratório de Cena 2023 dos Clowns de Shakespeare, tive um misto de medo de não aguentar “o rojão”, devido ao sedentarismo (de exercícios físicos tão somente, mas de "resolver pepinos", não) e uma série de questões de saúde, que deixam meu corpo mais fraco e sonolento e, simultaneamente, um grande anseio por mudanças, devido à minha constante vontade de aprimoramento, enquanto artista e ser humano.
E aí, ao saber do horário de imersão (das 9h às 18h) e do foco nas questões atividades físicas que o teatro dá, durante a entrevista para ser selecionada como participante do Lab, perguntei à Paulinha:
– Você acha que eu vou aguentar?
– Você que me diz. – felizmente, o meu desejo por mudanças, paixão pela aprendizagem e enorme curiosidade foram mais fortes e resolvi correr o risco.
– Eu me jogo! – falei tentando ter coragem (atuando para atores e para mim mesma. Ou é muita audácia, ou muita maluquice), mas morrendo de medo de não suportar nem 15 minutos de exercício.
E nossa... Que decisão acertada!!!
Nesses dias, experenciei tantas coisas, que está sendo difícil sintetizar, neste humilde texto, tudo o que aprendi e ainda estou digerindo, durante o tempo que passei com atrizes e atores, de vivências diversas, e os veteranos dos Clowns.
No último dia, todes começamos a falar as impressões que tivemos do Lab., e eu estava tão atravessada por tudo o que passamos juntes, que nem imaginei que fosse falar tanto e, ao mesmo tempo, dissesse tão pouco em relação a tudo que gostaria de expressar... E eis esse o motivo da escrita deste texto: uma tentativa frustrada de colocar aqui tudo o que vivi e senti nesse período.
Vamos do princípio: no primeiro dia, eu acordei cedo e rodei a Rua Chile algumas vezes, porque não sabia onde ficava o EDTAM, e o motorista do 99, muito menos.
Depois de encontrar, comecei os exercícios propostos e foi impressionante perceber a abertura, escuta e acolhimento dos participantes e dos Clowns, que fez com que todes criassem algum tipo de afeto, logo ali, nesse primeiro contato.
Isso é muito incomum para uma pessoa acostumada com o isolamento, que varia entre a solitude e a solidão, mas foi uma sensação maravilhosa e que não sentia há algum tempo. Nesse momento inicial, aprendi que nem todo mundo é “Chernobyl” e que não preciso me proteger o tempo todo.
Ah! Outro aspecto que me impressionou, nesse dia, foi eu ter lembrado o nome de todas as pessoas que estavam no círculo, antes de mim, que estava mais próxima ao final e isso também não é “normal” para uma pessoa notívaga e que se sente uma ameba pela manhã.
Foi também, nesse primeiro dia, que eu caí durante um jogo, muita gente elogiou minha queda (alguém filmou? Queria ter visto), dizendo que “foi uma queda leve e bonita” e aí, percebi que mesmo fazendo mais de dez anos que não treino artes marciais, o corpo ainda tem a memória dos exaustivos e importantes treinos de queda, que ensinam a melhor forma de cair, sem se machucar tanto e se levantar rápido para continuar a lutar.
Ainda nesse dia, o impulso que dei para correr mais rápido, durante esse mesmo jogo, foi forte demais e fez com que o músculo da panturrilha esquerda estirasse, a ponto de me fazer mancar. O despreparo físico, que tinha ciência na teoria, eu acabei comprovando, na prática e relembrei da urgência de voltar a praticar esportes, para adquirir mais resistência.
Depois, visitamos o Teatro Alberto Maranhão, onde ouvimos a história do lugar e fiquei feliz em aprender coisas que não sabia e escutar coisas que já lembrava, como o antigo nome do teatro, que era em homenagem ao grande compositor de ópera Carlos Gomes.
No palco, pediram para eu cantar algo do compositor, mas estávamos todes tão empolgades que o assunto já mudou e aí, deixarei para cantar uma das canções dele numa próxima vez, mas tenho três peças dele em meu repertório: “Suspiro D’Alma”, “Mon Bonheur” (do francês: “minha alegria”) e “Quem Sabe”.
Assistimos ao filme que conta a história dos Clowns de Shakespeare e achei inspirador ouvir essa história de tanta resistência, numa cidade com poucas oportunidades para nós artistes.
Interessante ver que a vontade de continuar trabalhando com o que ama partiu da união de desejos, sonhos e vontades de um coletivo de atrizes/atores, e uma das frases que mais me marcou, do filme, foi a que o Ernani Maletta disse: “viver em coletivo não é fácil, mas viver sozinho é muito mais difícil” e isso foi um tapa na minha cara, em relação à forma como estava vivendo até então.
Após esse momento, voltamos ao EDTAM e algumas pessoas se ofereceram para mostrar o exercício, onde pediram para contar algo sobre nossa infância e nos apresentarmos, por meio de uma cena. Como estava lá para me desafiar, não quis deixar para o dia seguinte e apresentei logo.
Na minha cena, eu contava uma história da infância, enquanto redobrava um origami de lírio – eu estava passeando de carro com meu pai e tinha acabado de assistir “Alice no País das Maravilhas”. Pensativa sobre o desenho, onde a personagem passou por muitas situações conturbadas por causa de sua curiosidade, perguntei a meu pai:
– Painho, é ruim ser curiosa? – ele refletiu um pouco e respondeu:
– Depende. Se você for curiosa com os estudos e assuntos que te tragam coisas boas, então, é algo bom, mas se você for curiosa só para saber de bobagens, que não vão acrescentar em nada na sua vida, então, é algo ruim.
Nunca pensei que minha curiosidade infantil e que ainda mantenho na fase adulta, fosse se tornar uma questão que inspirasse àqueles colegas a criar tantas cenas e textos MARAVILHOSOS e isso me deixou muito feliz!
A saga continua...
E aí, ao saber do horário de imersão (das 9h às 18h) e do foco nas questões atividades físicas que o teatro dá, durante a entrevista para ser selecionada como participante do Lab, perguntei à Paulinha:
– Você acha que eu vou aguentar?
– Eu me jogo! – falei tentando ter coragem (atuando para atores e para mim mesma. Ou é muita audácia, ou muita maluquice), mas morrendo de medo de não suportar nem 15 minutos de exercício.
E nossa... Que decisão acertada!!!
Nesses dias, experenciei tantas coisas, que está sendo difícil sintetizar, neste humilde texto, tudo o que aprendi e ainda estou digerindo, durante o tempo que passei com atrizes e atores, de vivências diversas, e os veteranos dos Clowns.
No último dia, todes começamos a falar as impressões que tivemos do Lab., e eu estava tão atravessada por tudo o que passamos juntes, que nem imaginei que fosse falar tanto e, ao mesmo tempo, dissesse tão pouco em relação a tudo que gostaria de expressar... E eis esse o motivo da escrita deste texto: uma tentativa frustrada de colocar aqui tudo o que vivi e senti nesse período.
Vamos do princípio: no primeiro dia, eu acordei cedo e rodei a Rua Chile algumas vezes, porque não sabia onde ficava o EDTAM, e o motorista do 99, muito menos.
Depois de encontrar, comecei os exercícios propostos e foi impressionante perceber a abertura, escuta e acolhimento dos participantes e dos Clowns, que fez com que todes criassem algum tipo de afeto, logo ali, nesse primeiro contato.
Isso é muito incomum para uma pessoa acostumada com o isolamento, que varia entre a solitude e a solidão, mas foi uma sensação maravilhosa e que não sentia há algum tempo. Nesse momento inicial, aprendi que nem todo mundo é “Chernobyl” e que não preciso me proteger o tempo todo.
Ah! Outro aspecto que me impressionou, nesse dia, foi eu ter lembrado o nome de todas as pessoas que estavam no círculo, antes de mim, que estava mais próxima ao final e isso também não é “normal” para uma pessoa notívaga e que se sente uma ameba pela manhã.
Foi também, nesse primeiro dia, que eu caí durante um jogo, muita gente elogiou minha queda (alguém filmou? Queria ter visto), dizendo que “foi uma queda leve e bonita” e aí, percebi que mesmo fazendo mais de dez anos que não treino artes marciais, o corpo ainda tem a memória dos exaustivos e importantes treinos de queda, que ensinam a melhor forma de cair, sem se machucar tanto e se levantar rápido para continuar a lutar.
Ainda nesse dia, o impulso que dei para correr mais rápido, durante esse mesmo jogo, foi forte demais e fez com que o músculo da panturrilha esquerda estirasse, a ponto de me fazer mancar. O despreparo físico, que tinha ciência na teoria, eu acabei comprovando, na prática e relembrei da urgência de voltar a praticar esportes, para adquirir mais resistência.
Depois, visitamos o Teatro Alberto Maranhão, onde ouvimos a história do lugar e fiquei feliz em aprender coisas que não sabia e escutar coisas que já lembrava, como o antigo nome do teatro, que era em homenagem ao grande compositor de ópera Carlos Gomes.
No palco, pediram para eu cantar algo do compositor, mas estávamos todes tão empolgades que o assunto já mudou e aí, deixarei para cantar uma das canções dele numa próxima vez, mas tenho três peças dele em meu repertório: “Suspiro D’Alma”, “Mon Bonheur” (do francês: “minha alegria”) e “Quem Sabe”.
Assistimos ao filme que conta a história dos Clowns de Shakespeare e achei inspirador ouvir essa história de tanta resistência, numa cidade com poucas oportunidades para nós artistes.
Interessante ver que a vontade de continuar trabalhando com o que ama partiu da união de desejos, sonhos e vontades de um coletivo de atrizes/atores, e uma das frases que mais me marcou, do filme, foi a que o Ernani Maletta disse: “viver em coletivo não é fácil, mas viver sozinho é muito mais difícil” e isso foi um tapa na minha cara, em relação à forma como estava vivendo até então.
Após esse momento, voltamos ao EDTAM e algumas pessoas se ofereceram para mostrar o exercício, onde pediram para contar algo sobre nossa infância e nos apresentarmos, por meio de uma cena. Como estava lá para me desafiar, não quis deixar para o dia seguinte e apresentei logo.
Na minha cena, eu contava uma história da infância, enquanto redobrava um origami de lírio – eu estava passeando de carro com meu pai e tinha acabado de assistir “Alice no País das Maravilhas”. Pensativa sobre o desenho, onde a personagem passou por muitas situações conturbadas por causa de sua curiosidade, perguntei a meu pai:
– Painho, é ruim ser curiosa? – ele refletiu um pouco e respondeu:
– Depende. Se você for curiosa com os estudos e assuntos que te tragam coisas boas, então, é algo bom, mas se você for curiosa só para saber de bobagens, que não vão acrescentar em nada na sua vida, então, é algo ruim.
Nunca pensei que minha curiosidade infantil e que ainda mantenho na fase adulta, fosse se tornar uma questão que inspirasse àqueles colegas a criar tantas cenas e textos MARAVILHOSOS e isso me deixou muito feliz!
A saga continua...
4 comentários:
Daliiiiii, obrigada por me fazer entrar no espaço do blog. Amei blogs durante anos e estar aqui foi maravilhoso. E muito obr por me fazer reviver o nosso primeiro dia. Emocionante ver que estou aí junta, e estou contemplada. Esperando o próximo post
Adorei o relato! No aguardo pelo próximo! Ah, quase certeza que a Duda filmou a tua queda!
Fernando Yamamoto: Obrigadaaaaa! Fico feliz que tenha gostado! :D E uia! Vou pedir à Duda então. Quero ver como foi a visão de fora da tão comentada queda. Hehe! Obrigada por tudo. :*****
Euler Lopes: Princesonaaaaaa! Eu tmb amava e vivia mais dentro dos blogs. Hehe! Tô menos aqui, mas gosto pra relembrar e registrar meus textinhos aqui. ^^ Fico feliz que tenha se sentido contemplada tmb e vou escrever a continuação sim. Beijão, querido e obrigada por tudo tmb. :***
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