Hoje, resolvi me enfrentar

sexta-feira, 28 de junho de 2024


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 28/06/2024)

Hoje, resolvi me enfrentar e fui pra academia usando um top lindo, que tinha comprado com minha amiga Ju, há algumas semanas atrás.

Sei que para muitas pessoas, isso parece uma enorme bobagem, mas o enfrentamento foi porque eu fui apenas com o top, sem uma blusa por cima, como estava fazendo há quase um mês que comecei a frequentar a academia.

Quem me conhece, sabe que, desde sempre, eu tive/tenho muita vergonha de usar roupas que mostram meu corpo, mesmo que tenha ouvido conselhos da minha irmã e de amigas (que sabem se vestir muito bem e entendem muito de moda), que eu deveria usar mais decotes e saias curtas, mas eu nunca me senti à vontade para isso, mesmo ouvindo elogios delas, não por puritanismo, mas, justamente, por essa enorme vergonha que sinto do meu próprio corpo. É o resultado de quando você junta, num caldeirão, a gordofobia de toda uma vida com a timidez.

É nessas horas em que lembro da minha psicóloga falando sobre “o que é meu e o que é do outro” e percebo que, muitas vezes, eu não sei responder essa pergunta provocadora… Sei que, de fato, o olhar do outro sobre mim (familiares, amigos, ex-namorados, etc) teve, como consequência, a timidez e a vergonha que eu sinta ao expor meu corpo, mesmo que seja só uma pequena parte dele…

Talvez, por ouvir tantas besteiras, eu nem saiba direito o que gosto ou não de vestir… E, mais uma vez, caio no dilema de “eu tenho que vestir o que me agrada ou o que agrada ao outro?” Tenho uma resposta óbvia, mas vem outra pergunta ainda mais incômoda: “o que me agrada?”

Sei que em meio a tantos questionamentos, frutos dessa eterna jornada, que é o autoconhecimento, hoje, eu me enfrentei e fiquei face-a-face com essa grande insegurança que tenho, desde criança, e fiz isso mesmo sabendo que pessoas “super-empáticas” possam dizer coisas como “é só emagrecer” ou que, tomadas por uma gordofobia estrutural, achem nojento uma mulher gorda de top e que me lancem olhares cheios de estigmas, desdém e reprovação…

Enfim… Tive um auto-embate que, há anos atrás, não seria possível, especialmente, nas fases da infância e adolescência, onde precisamos de um pouco de validação, mas nem sempre temos o que precisamos.

Hoje, eu me confrontei. Respirei fundo e fui fazer exercícios assim mesmo e não senti esses olhares de ninguém. Eles estavam mais na minha cabeça, mas eu sei que eles existem. Não só existem/existiram, como foram o motivo de eu os ter introjetado…

Hoje, eu me enfrentei, e mesmo sentindo um misto de sensação de vitória, por ter vencido essa trava, senti, também, um enorme estranhamento, por não estar acostumada e pode ser que, na segunda-feira e nos dias em diante, ao voltar para minha rotina na academia, eu volte a usar blusas por cima dos tops lindos que comprei (e que são tão necessários!), ou não... Não sei! Sei que hoje, eu me enfrentei e venci.


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