Outro Texto sobre a Depressão

domingo, 3 de abril de 2022



- Outro, Dali?
Sim. Outro.
- Mas... Pra quê?
Porque é necessário.

Escrevo outro texto sobre esse tema, mais uma vez, não para trazer visões vitimistas e sim, informação, de acordo com umas coisas que ouvi já há algum tempo e, também, há poucos dias...

Tenho pensado em escrevê-lo já faz uns 3 dias ou 4 dias atrás, mas só estou escrevendo hoje porque é o dia em que consegui escrevê-lo, simplesmente.

Como vocês sabem, desde o final de outubro de 2021, fui diagnosticada com depressão e ansiedade e tenho me cuidado, até então, e tô DOIDA pra ficar boa disso logo!

Mas bom... Vou escrever algumas coisas sobre as frases que ouvi e gente: eu sei que não é por mal, tá? Não estou brigando com ninguém, portanto, não se sintam “culpades”, pois é um assunto pouco conhecido, pouco discutido e há muita desinformação por aí (pessoas que acham que qualquer tristeza é sinônimo de depressão) e como, no momento, estou nesse lugar de fala, acho importante esclarecer umas coisas.


1) “Mas você escolheu tomar remédio, né...?”

Como descrevi no texto anterior, os sintomas que tenho são causados por reações químicas, que afetam, diretamente, meu funcionamento mental e vice-versa (pra vocês verem como corpo e mente é mesmo uma coisa só) - meu corpo está com uma produção muito baixa de serotonina, que é o “hormônio da felicidade”, pois é responsável pela regulação do humor, apetite, memória, sono, ritmo cardíaco, etc.

Logo, uma baixa produção desse neurotransmissor faz com que vc fique com todos esses aspectos muito alterados: pouco ou muito sono (no meu caso, é muito), muito ou pouco apetite, você se sente meio triste e/ou sem esperanças e pode se tornar irritadiço(a) também...

Quando você está com uma produção de serotonina baixa, mas está dentro do “normal”, alguns alimentos, atividades físicas e tudo o mais ajudam a equilibrar as coisas e só isso basta, mas no caso de uma DOENÇA, como é a depressão, a produção está em níveis tão baixos, que você precisa SIM de auxílio medicamentoso, ou seja, usar ou não remédio não é uma opção pra quem tem a doença: tem que usar e PRONTO.

Aliado ao remédio, tem que fazer terapia porque ela vai te ajudar a identificar as questões que ajudaram a desencadear essa depressão e assim, você vai tentando lidar com isso de uma forma melhor e então, em alguns casos, entra na etapa do desmame, ou seja, a fase em que você vai deixando de usar o remédio, aos poucos, até ficar curade da doença e “voltar a ter sua vida normal”.

Ao mesmo tempo que estou LOUCA pra entrar logo nesta fase do desmame, até deixar de usar remédio, tenho medo, pois sem ele, eu chorava por tudo e ficava muito mal... O remédio me mantém equilibrada e por isso, não estou mais chorosa, nem estou tão triste (mas a falta de energia e sono em excesso são uma luta diária, pra mim), então, tenho medo de deixa-lo e ficar chorando, irritável e desequilibrada de novo. Agora, entendo porque algumas pessoas acabam ficando dependentes/viciadas no medicamento. Não é meu caso ainda, mas compreendo-as...


2) “Mas você nem parece ter depressão...”

Existem muitos graus e tipos de depressão e mesmo sendo uma doença, as pessoas saem, riem... Depende muito do grau que você possui, como você está tratando, etc.

Tem pessoas que, de fato, não conseguem nem manter simples hábitos de higiene e precisam de cuidadoras(es) para ajudar a dar banho, de tão séria e pesada que é a coisa... Outras pessoas já desenvolvem a depressão durante a adolescência e que não tem cura para ela: apenas tratamento... Outras têm um grau tão alto que precisam de remédios muito fortes, para que possam ter a vida mais normal possível, mas que as deixam completamente apáticas... O transtorno bipolar é um tipo de depressão também...

Eu acredito que a minha não seja lá tão grave e, como disse, graças ao medicamento, eu estou com as emoções estáveis e rio... Brinco com as pessoas e falo muita besteira... Ainda trabalho... Tomo banho e cuido da minha aparência... A diferença é que eu não tenho muita energia, então, não consigo fazer tantas coisas quanto antigamente, ou com a mesma velocidade, e qualquer coisinha me cansa ou me dá sono.

Como eu tenho depressão E ansiedade, é uma loucura, pois eu tenho vontade de fazer mil coisas, me agonio para fazer tudo logo e, ao mesmo tempo, não tenho forças pra isso. Passo o dia INTEIRO sonolenta e à noite, quando vou dormir, a cabeça fica a mil/hora e demooooro que é uma beleza para pegar no sono...

No início, eu me revoltava com isso, mas é algo que, por enquanto, está para além do meu controle... Se eu pudesse controlar, vocês acham que eu passaria muito tempo assim, dormindo? É lógico que não! Nas ocasiões em que tivesse só o bagaço, sim, mas diariamente, claro que não!

Escrever o texto passado foi importante para que pessoas que tinham depressão (e algumas, eu nem sabia), se comunicassem comigo e me dessem umas dicas (inclusive, muito obrigada a todes) e pessoas com sintomas semelhantes, pudessem pensar em procurar ajudar profissional para essa doença, que é tão silenciosa! Por isso, acho importante falar mais sobre a doença.

Uma das dicas que me deram foi “qual o horário em que você se sente mais ativa? Pois programe o que você tem que fazer para esse momento” e nossa! Isso mudou MUITO a minha perspectiva e, de fato, tenho deixado para fazer as coisas mais à noite (que nem esse texto agora, escrito entre às 18:30h e às 20h). O problema é que o mundo é diurno e eu sou vespertina/noturna, então, é complicado conciliar os horários de algumas atividades, às vezes, e aí, durmo várias vezes durante o dia.


3) “Você não tem depressão, menina! Quem tem depressão não consegue fazer nada!”

Mesma resposta do item anterior: há casos e casos.
 
Tem pessoas que, de fato, não conseguem se levantar da cama e não conseguem fazer absolutamente nada.

Mais uma vez: esse não é o meu caso, mas sim... Tem vezes que não tenho coragem de ir logo aqui, num marcadinho atrás de casa, para fazer umas compras e eu percebi que me irritar comigo mesma por causa disso só faz com que eu me sinta pior.

Algumas vezes, eu forço a barra e até consigo fazer algumas coisas, mesmo sem vontade ou muita força. Fico EXAUSTA depois e durmo mais ainda, mas tem vezes que, simplesmente, não dá... Não consigo MESMO!

Eu aprendi, com isso, que tenho que aceitar e respeitar essa fase que meu corpo está passando... Deveria até respeitar mais, porque refletindo um pouco sobre minha vida, minha depressão foi desencadeada por causa de elevados níveis de estresse e total desrespeito a mim e aos meus limites! E parece que ainda não aprendi a lição, pois, vez ou outra, eu fico insistindo nas tarefas, me sobrecarrego e me destruo de cansaço depois, mas estou tentando, gente. Eu juro!

Ontem à noite, a inspiração e “faniquito de criar” fez com que tivesse afim de compor músicas, escrever textos, voltar a desenhar, fazer um bolo e tudo o mais. Sabem o que eu fiz? Nada! Hahaha! E foi importante esse momento porque havia feito uma Live no dia anterior e organizei tudo sozinha. Querendo ou não, isso é bastante cansativo, até mesmo para quem não está deprimido(a), então, eu PRECISAVA desse descanso...

Das coisas que citei acima, só fiz umas pesquisas, mas não coloquei nada para frente; pretendo, só que no meu tempo: sendo “devagaaaaar e sempre”... Respeitando minha pouca energia, minha necessidade de descansar depois de trabalhar/executar umas atividades, meu cansaço e sono frequentes, mas, ainda assim, agindo... Fazendo... Lutando... Um pouquinho de cada vez... Não estou parada. Só estou lenta, dormindo pra caramba e, nem sempre, me sinto descansada ao acordar. Faz parte!

Conhecer nossos limites é muito importante, gente e estou nessa fase de conhecer os meus para administrar minhas tarefas, dentro daquela(s) faixa(s) de tempo em que consigo ficar mais animadinha para agir. É assim que tenho lidado com a depressão.

É isso, gente. Espero ter desmistificado algumas coisas sobre esse assunto e “vai ficar tudo bem”.

Beijão!


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