O caso da Carol Moreira - foi assédio ou não foi?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


Toda vez que me deparo com as redes sociais, em especial, o Facebook, vejo que as pessoas não têm mais vergonha de exteriorizar o que pensam, mesmo que sejam pensamentos perversos e/ou de ódio ou que podem ferir alguém emocionalmente.

Hoje, assisti a famosa entrevista da Carol Moreira, conhecida por falar de Game of Thrones e de filmes em geral e quando ela foi entrevistar o famoso ator Vin Diesel, ela comentou no vídeo que ela não se sentiu nada à vontade e que ele a interrompeu várias vezes. Será mesmo? Vamos tirar a prova? Assistam o vídeo abaixo:



Eu assisti todo o vídeo e constatei que, de fato, ela não parecia NADA à vontade com os "elogios" dele e que ele foi muito incômodo por atrapalhar a entrevista várias vezes (nota: não é que eu achasse que ela estava mentindo, mas primeiro, eu ouvi o boato e depois, vi a entrevista para tirar minhas próprias conclusões).

Me espanta ver o quanto existe gente que adora julgar e que está completamente equivocada em relação ao assunto assédio.

Antes de seguirmos em frente, vamos procurar saber o que significa "assédio" no bom e velho pai-dos-burros? No dicionário Houaiss diz:
"assédio     Datação: 1548

n substantivo masculino
1 operação militar, ou mesmo conjunto de sinais ao redor ou em frente a um local determinado, estabelecendo um cerco com a finalidade de exercer o domínio
2 Derivação: sentido figurado.
insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém
"

Ok. Guardou o significado? Agora, vamos pensar aqui comigo nos seguintes pontos:

1. Meninos queridos, não confundam elogio com assédio! Elogio é sempre permitido e sempre bom tanto para quem elogia, quanto para quem recebe. O fato não foi esse. Não haveria problema algum se ele a elogiasse uma vez, durante a entrevista ou antes ou depois dela, mas ele a "elogiou" três vezes, durante a entrevista e não respondia às perguntas dela. Ele estava atrapalhando o trabalho dela e isso é MUITO chato.


Vocês podem se perguntar "e como sei quando estou elogiando e quando está se tornando outra coisa?" Simples. Verifique se a mulher está confortável com isso. Se você não souber reconhecer, pergunte-a. Foi muito simples reconhecer o incômodo dela. Percebem que ela agradece os elogios, mas ela SEMPRE volta ao assunto da entrevista? Isso já é o suficiente para demonstrar que ela não queria que ele falasse DELA. Ela queria que ele se atesse à entrevista. Ela estava lá como profissional e estava sendo profissional, mas o cara não levou muito à sério, né...? Se ela estivesse à vontade, ela iria rir apenas e ia deixar que ele falasse dela o quanto ele quisesse, mas ainda assim, não seria muito profissional da parte dela, pois alguns Youtubers são patrocinados. São pagos para fazer aqueles vídeos e os minutos em que ela poderia estar gastando com perguntas ao ator, ele desperdiça, inclusive, o próprio tempo, elogiando-a insistentemente? É chato.


2. Não confundam o que você faria com o que ela faria no vídeo. Já expliquei no ponto anterior que ela estava lá entrevistando-o como uma profissional e vi comentários no Youtube de meninas que teriam ficado com ele na hora. Hehehe! Mas além da questão profissional, que pesa muito (para mim, foi o que mais pesou), tem a questão de gosto. Ela pode não achar o Vin Diesel atraente e pode não estar interessada por ele. Qual o problema? Do mesmo jeito, nos comentários do Youtube, tem gente que acha ela feia... Tem gente que me acha feia... Tem gente que me acha bonita... Gosto é uma coisa que não dá para se discutir. No caso, ela não o quis.



3. O feminismo e os direitos das mulheres são muito mal compreendidos. Estou abismada em constatar isso na internet. As pessoas compreendem muito mal as coisas. Existem muitos estereótipos que estão sendo usados e, boa parte disso, é culpa dessa polarização política que o Brasil está passando e por isso, não conseguem enxergar algumas coisas com clareza. O feminismo luta pelos direitos das mulheres, o que não significa, necessariamente, ódio aos homens. Mais uma vez, utilizando o dicionário Houaiss, vamos definir o que é feminismo.


"feminismo     Datação: 1905

n substantivo masculino
1 doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade
2 Derivação: por metonímia.
movimento que milita neste sentido
3 Derivação: por extensão de sentido.
teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos

4 Derivação: por metonímia.
atividade organizada em favor dos direitos e interesses das mulheres
5 interesse do homem pela mulher; atração
6 Rubrica: medicina. Estatística: pouco usado.
presença de caracteres femininos no homem"

Com base nisso, vamos definir outro conceiro muito utilizado: o machismo.

"machismo     Datação: sXX

n substantivo masculino
1 qualidade, ação ou modos de macho ('ser humano', 'valentão'); macheza
2 Uso: informal.
exagerado senso de orgulho masculino; virilidade agressiva; macheza
3 comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem"

Reparem que, em nenhum momento, o machismo significa a proteção dos direitos ao homem, do mesmo jeito que o feminismo não significa "superioridade feminina à masculina" ou "ódio ao homem". O contrário do machismo não é feminismo e sim, femismo. Infelizmente, o femismo existe e deve ser combatido tanto quanto o machismo.



Vocês devem perguntar "e o que isso tem a ver com a entrevista?" Tem TUDO!

Alguns homens acham que a mulher tem que aceitá-los só porque eles as querem e eles não veem a mulher como outro ser, que também tem sentimentos e vontade e ela pode e tem todo direito de não querê-lo. Mesma coisa com os homens.

Ninguém gosta de ser rejeitado, seja homem ou mulher, mas nem todo homem aceita a rejeição. Muitos agridem a mulher com xingamentos ou até mesmo, fisicamente... Outra questão é que, da mesma forma, um homem não será menos homem se ele não der em cima de alguma mulher ou se ele disser "não" para uma mulher que ele não queira ou até sinta interesse sexual nela, mas queira ser fiel à companheira (caso não estiver 100% solteiro) ou não a quer porque não se sente bem no momento. Nesse sentido, o machismo é, até mesmo, prejudicial ao próprio homem.

O ponto-chave de eu ter tocado no feminismo é que, como expliquei, ele luta por esse direito da mulher ser compreendida enquanto um ser humano. É absurdo que as pessoas nem sequer dão a ela o direito de não se sentir à vontade com isso... A julgam como "mimizenta"... Vitimista... Gente,.. Ela não gostou de ser cantada por ele! Ponto! Ela tem esse direito de não gostar, mas gostar de outro cara cantando ela, do mesmo jeito que os homens têm direito de não gostar de uma mulher, que muitos acham linda e gostar de outras, que muitos considerariam "estranhas".

Percebem que comparando essa questão de direitos, os homens são muito mais compreensíveis com outros homens com "gostos estranhos" do que com uma mulher que, simplesmente, não gostou de ser cantada pelo Vin Diesel, como se ela não tivesse esse direito de não gostar?


4. Atores também são seres humanos e também fazem merda. Muita gente esquece isso. Daí, só porque são fãs do cara, negam toda e qualquer besteira que ele faça, mas gente... Um comportamento reprovável é um comportamento reprovável, mesmo que você seja o Papa! Eu adoro e era super-fã do Johnny Depp, mas ele agrediu a mulher dele... O Sean Penn agrediu a Madonna, uma das mulheres mais poderosas do mundo e que recebeu o prêmio de "Mulher do Ano" da Billboard um dia desses!!! Não é porque eles são incríveis em cena que eles são "santos incapazes de errar" não. Já teve vários artistas que foram presos por dirigirem alcoolizados (Nossa! É só o que tem nos EUA)... Que estiveram em clínicas de reabilitação para se livrarem das drogas... Elizabeth Taylor foi uma delas... O Charlie Sheen também e além de receber acusações de que batia na ex-mulher, ele bebe, usa drogas, teve várias relações com homens e mulheres e contraiu o vírus HIV... Com Vin Diesel não é diferente. Ele parecia estar meio bêbado/chapado, mas mesmo assim, isso não é desculpa para ele ter agido dessa forma.


Aliás... Esse tópico 4 é tão ridículo que dá até vergonha de relembrar o óbvio às pessoas.


5. Assédio sexual é algo sério. Guardou o significado se "assédio" lá em cima? Dentre os pontos mostrados no dicionário, o assédio está mais para o "sentido figurado, insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém". E bom... Ele a elogiou várias vezes... Ela tentou mudar de assunto várias vezes e tentar fazer seu trabalho... Ele foi insistente nesse assunto quando ela não se sentiu à vontade, então, pode ser considerado assédio sexual SIM.

Sei que muitos homens se revoltam com isso e pensam "ah! Mas não se pode mais nem elogiar a mulher agora?" Releiam o primeiro ponto e depois que voltarem, vamos falar de um assunto muito delicado: ser mulher.

Ser mulher é você estar, constantemente com medo de um cara não saber o limite do assédio pro elogio, insistir quando ela não quer e estuprá-la ou agredí-la fisicamente. O medo é constante e não adianta dizer que "não vai machucá-la". Para uma mulher mudar esse comportamento e deixar de ter esse medo, os homens devem mudar primeiro e mostrar que se importam com elas... Que aceitam que elas não os querem... Que aceitam que elas tenham uma opinião e que possa escolher, mesmo que ele não seja a escolha dela... Tratá-la tão bem como ele trata outro homem, respeitando tudo o que ele diz.


Não se trata de vitimismo. Se trata do mundo como ele está agora.

Esses dias, também foi possível ver um lamentável caso de uma delegada sendo agredida fisicamente pelo seu marido e uma policial tentou defendê-la e foi agredida também. Nem mesmo as mulheres em posição de liderança ou poder estão salvas desse ódio que alguns homens têm... E o desfecho dessa história não poderia ter sido pior: a delegada pagou a fiança e uma criatura dessas, que não tem a menor condição de conviver em sociedade está solta por aí.

Muitas mulheres são agredidas por homens conhecidos e, na maioria das vezes, são seus namorados... Maridos... Homens que elas amavam e confiavam, mas esse cara agrediu uma policial que ele nem sequer conhece! Do mesmo jeito que ele a feriu, ele pode ferir qualquer outra mulher (Veja vídeo da agressão clicando aqui)!


Agora olha o tamanho do Vin Diesel, a posição privilegiada em que ele se encontra, por ser endinheirado... Uma figura pública... Ele faz um monte de filmes de ação, o que confere a ele um certo estereótipo de "heroi brutamontes"... Algumas mulheres se sentem atraídas por tudo isso, mas outras podem sentir medo. Não podemos generalizar e acho ridículo quando tem gente que acha que "mulher só quer saber de dinheiro". A Carol é a maior prova de que isso é mentira, pois se ela tivesse interessada no dinheiro dele, ou ela sairia e ficaria com ele, ou ela deixaria o post dela no Twitter, tratando o assunto como assédio (pois foi assédio mesmo) e processaria ele por isso. Ela não fez nenhuma coisa, nem outra. Ela deletou o post pra tentar evitar a polêmica, mas acho que nem conseguiu e já tem um monte de gente (inclusive eu) opinando sobre o assunto. O que me espanta é que muitas pessoas de opinião contrária à minha sempre apresentam os mesmos discursos de que "é mimimi"... "Vitimismo"... Que ela "quis ficar famosa às custas dele"... Que "os fãs dela são baba-ovo"...

Se ela quisesse ficar famosa às custas dele, ela teria deixado o post dela do Twitter e levaria o assunto a conhecimento da comunidade internacional, inclusive.

Ah! E eu não sou fã dela.

Pode até ser lisonjeiro um ator famoso e reconhecido achá-la atraente, mas isso não significa que ela o quer e que ela ela goste de ser abordada da forma em que ele a abordou, durante o trabalho que ela estava fazendo.



Muitos ainda disseram que ela "poderia ter editado o vídeo". O vídeo só tem 12 minutos... Boa parte da entrevista, ele a interrompe e ele é um cara muito ocupado e de passagem pelo Brasil, então, era pra deixar o vídeo mais curto ainda? E quando eles teriam a oportunidade de realizar outra entrevista?

Sem contar que é bom e interessante dar visibilidade a essas questões... Além da questão do assédio sexual, tem a questão da visão da mulher brasileira no exterior, como a mulher linda, sexy e fogosa e que, provavelmente, "quer dormir com quem a queira". Precisamos desconstruir isso também, pois as pessoas de fora também devem nos respeitar. Se fosse um brasileiros que tratasse uma mulher do país dele da mesma forma, eles também não iriam gostar e também seria muito bom que os homens refletissem que a mulher assediada poderia ser sua irmã, mãe, tia, namorada, avó, etc.

Enfim... Mais algumas reflexões da madrugada.

No mais, não julguem!

Beijos!

Review de "Quem é essa mulher"?

quarta-feira, 23 de novembro de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 = 4,5

Gênero = Comédia


Antes de mais nada, gostaria de dizer para as pessoas que traduzem os títulos de filmes para algo que tem nada a ver para POR FAVOR, NÃO FAZER ISSOOOOOO!

Sério... Parece falta de criatividade... O nome do filme original é "Florence Foster Jenkins" e como ela não foi uma pessoa muito conhecida, principalmente por quem não está acostumado a ouvir canto lírico, muitas pessoas não sabem quem ela é. Até parece que quando foram decidir o nome do filme, uma pessoa se perguntou para a outra "quem é essa mulher?" e responderam "não sei" e aí, pronto. Ficou "Florence, quem é essa mulher" mesmo.

Tirando esse detalhe, o filme é muito bom!

No elenco do filme, nada mais, nada menos que a "papa-Oscar" de Hollywood: Meryl Streep! Ela, como sempre, maravilhosa e tmb o charmoso Hugh Grant e o Simon Helberg, que também interpreta o Howard da série "The Big Bang Theory".

Florence Jenkins era uma ricaça que achou que já estava pronta para cantar ópera e como não havia ninguém que lhe dissesse o contrário, ela se apresentou várias vezes e, inclusive, apresentou no renomado teatro Carnegie Hall. 

De início, achei que as pessoas a mimavam porque ela era rica e sim... Alguns mimavam ela por esse motivo e outros, principalmente os que realmente se importavam com ela, não falavam a verdade por outros motivos que não vou contar, para não fazer spoiler.

A Florence real à esquerda e a Meryl Streep, à direita, encarnando-a


Apesar de ela ter tudo o que quer nas mãos (professores de canto e maestros de fazer inveja a qualquer estudante de canto lírico, excelentes instrumentistas para tocarem com ela, etc), ela não era uma mulher arrogante. Ela era mimada por todos, mas era muito generosa, fazia doações a instituições de caridade e ela incentivou o cenário da ópera, com o dinheiro e influência que possuía.

O que talvez algumas pessoas não saibam é que essa história é baseada em fatos reais. Essa mulher REALMENTE existiu e vocês podem conferir todo o... "talento" dela no vídeo do Youtube abaixo, onde ela canta a super-conhecida ária da Rainha da Noite "Der Hölle Rache" da ópera "A Flauta Mágica" de Mozart:


Às vezes, me pergunto se ela nunca ouviu suas próprias gravações para perceber que... "Tinha alguma coisa errada ali"... E é incrível perceber que essa história foi real. Claro que o cinema sempre romantiza um pouco, mas tudo aquilo aconteceu mesmo.

Interessante também ver que a Meryl se desafinou para parecer, o máximo possível, com a Florence cantando. Hehe! Mas os áudios do filme são a Meryl que canta, imitando e interpretando-a.

Mas enfim... A comédia traz uma belíssima mensagem no final que vale a pena conferir e que faz, principalmente, quem trabalha com a arte e o canto (não apenas o lírico) se emocionarem (ou eu, pelo menos, me emocionei)... Essa mensagem foi o que mais me tocou e me fez gostar ainda mais do filme e a valorizar ainda mais a minha profissão como cantora lírica.


Confiram pq o filme é bem legal sim!

Beijos e valeu!

Elas não querem casar. E agora?

domingo, 30 de outubro de 2016


Eu fico impressionada com essa educação maluca e terrível que dão a nós mulheres e assim, acham que todas somos iguais e quando uma mulher pensa fora da caixinha, "ai meu Deus! Uma feminazi!"

Desde sempre, fomos ensinadas a acreditar nos príncipes encantados... Muitos contos de fadas belíssimos onde as princesas são perfeitas e nós temos que ser parecidas com ela, óbvio, porque senão, não vai aparecer o príncipe encantado para casar conosco e assim, vivermos "felizes para sempre".



Mas na real, queridas amigas... Quantas de vocês encontraram um homem parecido com esse ideal do príncipe encantado? Eu já me apaixonei muitas vezes e acreditei ter encontrado uns príncipes encantados na minha vida, mas ao conhecê-los melhor, vi que eles não têm nada a ver com esses príncipes, apesar de terem sido caras bem legais...

Desde crianças, somos ensinadas a pensar no casamento como "o caminho da felicidade" onde, algumas mulheres, inclusive, veem como o principal objetivo da vida delas e isso é tão perigoso que elas não fazem ideia... 

Essa educação e imposição social é tão doida e nojenta que ela é dá margem a alto bastante perigoso: a violência contra as mulheres. Têm mulheres que aguentam a violência caladas porque os homens as manipulam, agredindo fisicamente ou psicologicamente e, depois, são carinhosos e falam que fizeram isso "porque as amam". Elas acreditam e acham que "ele só se descontrolou um pouquinho, mas me ama sim".

Alguns homens mau caráter sabem que as mulheres sonham com o casamento e se aproveitam disso, inclusive. Eles fingem serem bonzinhos para atraírem a vítima, que pensa que está "vivendo um sonho" e encontrou o "príncipe da vida dela" e ao se casarem... Ele muda COMPLETAMENTE!  



Nesses casos, é incrível ver que mesmo sendo algo muito antigo, o contrato de casamento ainda é visto como um instrumento de posse... Então, um homem mau-caráter se passa por bonzinho e quando se casa com a mulher que ele quer, mostra quem ele é realmente, podendo, mais uma vez, chegar aos casos de violência contra a mulher e feminicídio. O homem a vê como posse. Já que "ela é dele", ele não tem para quê fingir e "se ela não é minha, não será de mais ninguém". Eis o motivo da violência e assassinato de mulheres.

"Dali, que tema punk é esse? Pq vc está falando sobre isso hoje?"

Estou falando porque li uma postagem de um site masculino que achei interessante. 

Achei a iniciativa do site de falar de relacionamento, amor e casamento aos homens muito válida e até falaram sobre drinks e comidas para agradar a mulher. Achei legal isso e espero que mais homens tenham essa ideia de agradar as mulheres e as mulheres, claro, devolverem esse agrado. O que não é justo é que existam várias revistas femininas que ensinam as mulheres a agradar o homem e muitos homens não tenham, sequer, esse interesse e que as mídias e meios de comunicação, de forma geral, não estimulem esse comportamento no homem que, realmente, gosta da mulher e quer vê-la feliz e não o cara que trata a mulher como objeto.

O tema da postagem é "Quando elas não querem casar" e pode ser lida aqui

Alguns trechos me chamaram a atenção. entre eles, o de um psicólogo que gosto bastante e que tem textos fantásticos sobre mulheres, comportamento, relacionamento, etc:
“Muitas mulheres não querem casar porque tem receio de se expor ou submeter às fantasias ‘conturbadas’ que pregam sobre o casamento: submissão ao homem, perda de individualidade, falta de sexo, dependência financeira, traições. Em geral elas querem ter um companheiro, mas nem todas assumem isso e então se apegam ao discurso pós-moderno da liberdade absoluta”, explica o psicólogo autor do Blog Sobre a Vida, Frederico Mattos. “Isso seria uma evolução se fosse uma decisão plena e não mera reação ao conservadorismo que diz que todos devem casar”, conclui.

Como muitos sabem, há muitos movimentos feministas que buscam dar empoderamento à mulher e esses movimentos são muito importantes. Sempre tem "gente maluca" em tudo o que é canto e isso não é diferente nos movimentos sociais como um todo, mas essa coisa de "não casar" é parte desse empoderamento, pois aos homens, não tem taaaaanto essa coisa de "tem que querer casar". Estarei generalizando, mas óbvio que existem exceções. Quando um homem não quer casar, todo mundo entende que ele "está perdendo a liberdade", "será acorrentado" e tudo o mais. Só quando o homem está muito mais velho é que ele sente a necessidade de ter uma mulher a seu lado para cuidar dele. Agora, vamos falar um pouquinho de História?

Algumas mulheres, no início do século XX, eram internadas em manicômios por não quererem casar (Veja a resportagem que conta isso: http://www.contioutra.com/deu-a-louca-nas-mulheres/ ). Vocês têm noção disso? É como se fosse imposto que "toda mulher deve querer casar" e nem todas as pessoas são iguais.



É verdade que a sociedade ensina para todas nós que "casar é legal", mas, cada vez mais, as mulheres estão se decepcionando com o casamento pq elas acabam tendo uma dupla jornada de trabalho (chegam do trabalho e vão arrumar a casa e cuidar dos filhos) e se os homens não chegarem junto, as mulheres se estressam, não conseguem se cuidar e desgasta a convivência. Por isso que sou fã do homem moderno, que tem uma consciência de que ajudar a mulher com os afazeres domésticos é excelente para a relação e assim, um ajuda o outro (a mulher trabalhando tmb ajuda a pagar as contas). Infelizmente, essa consciência ainda não atingiu a maioria dos homens, que têm uma boa vida durante o casamento, pois a mulher, além de tudo, cuida da saúde e bem-estar DELE. A saúde da mulher fica desgastada no casamento (http://www.sul21.com.br/jornal/o-casamento-e-um-risco-para-a-vida-das-mulheres-diz-medica-especialista-em-saude-mental-feminina/ ) e o número de divórcios está bem alto e a iniciativa do término, na maioria dos casos, é da mulher (http://ambito-juridico.jusbrasil.com.br/noticias/2996646/mulheres-lideram-pedidos-de-divorcios-afirma-ibge )... Então, tá faltando uma educação aos homens no sentido de dividir a tarefa doméstica com as mulheres... Tratá-las com igualdade e não como se fossem inferiores... Respeitar a opinião delas quanto a querer casar ou não e quanto a outros assuntos... Dialogar com elas (o diálogo faz uma falta enorme entre os casais)...

Estou lendo um livro muito interessante que fala sobre o amor durante a história ocidental e tô lendo muitas coisas interessantes. Li que durante o período Neolítico é que o homem observou que quando os rebanhos de macho e fêmea se juntavam, eles tinham filhotes, associaram isso à raça humana e, desde então, muitos homens têm tentado controlar a vida reprodutiva das mulheres. Talvez isso explique porque eles insistem numa sociedade que as educa para casar, mas se ela "dar" no primeiro encontro, é uma "puta"... Se engravidar e não quiser ser mãe, ela é louca, porque "filho é uma dávida", mas se o homem não quiser assumir, "tudo bem"... Entre outras coisas que vemos na nossa sociedade. 

Na Grécia antiga, as mulheres tinham tantos direitos quanto os escravos. As que casavam só serviam, praticamente, para procriar e cuidar da casa, enquanto o homem tinha uma vida sexual bastante ativa fora de casa, com as hetairas (cortesãs) e com homens adolescentes. A lei da Grécia antiga estabelecia que o casal deveria ter, no mínimo, 3 relações sexuais por mês e o homem que não se casasse teria que pagar uma taxa alta ao Estado (foi a forma que o Estado teve de obrigar as pessoas a se casarem) e as mulheres eram proibidas de serem educadas, enquanto os homens tinham educação na arte do combate, filosofia, música, matemática, etc. Eles achavam as mulheres burras e devassas, pois não compreendiam que a elas era negado o conhecimento e se não tivesse essa lei que definia o número mínimo de relações que elas poderiam ter, talvez os homens fizessem ainda menos, pois eles se divertiam mais com as hetairas e os adolescentes. Isso foi há 300 anos antes de Cristo e ainda há homens que, infelizmente, ainda pensam assim (na mulher pra cuidar de casa - a pra casar - e a mulher pra ele se divertir).



Sabendo que isso foi há mais de 300 anos a.C, imagine que todo o período de lá pra cá, muitas e muuuuitas mulheres não tinham muitos direitos e foram conquistando tudo aos poucos... E ainda tem homem que acha que a luta feminista é bobagem... E com as mulheres mais bem-educadas e conscientes hoje em dia, vendo que alguns homens não querem mudar essa mentalidade de querer controlar a mulher no casamento... Ou o cara não ajuda em casa e a mulher fica desgastada e aí, o cara reclama "nossa! Vc era tão bonita antes. Nem está se cuidando mais" e fica secando outras mulheres mais novas na frente da esposa... E ainda tem caras que reclamam seus direitos de família conservadora e tradicional, mas trai a esposa... Tem cara que tem ciúmes doentios e qualquer coisinha que a mulher faz, ele já faz pra cima dela com tom ameaçador...

Enfim... São vários os motivos. Não é apenas uma "rebeldia contra uma instituição tradicional"... Sei que tem homens legais que querem casar sim e que não fazem nada disso, mas tenho quase certeza que desses exemplos que eu citei, vocês devem conhecer alguém nas suas famílias ou até amigos seus que fazem uma ou mais coisas das que eu falei.

Outro trecho que me chamou a atenção:
Se sua menina está se esquivando toda vez que você toca no assunto é hora de parar, respirar e pensar em como agir. Não adianta empurrar com a barriga e fingir que não se importa. Afinal, apesar de cada caso ser um caso, com o passar do tempo você tende a ficar mais frustrado com a negativa.

Mais uma vez, me impressionei ao ler que existem pais que se preocupam com o fato das suas filhas não quererem casar. O que está implícito nesta frase, seja de forma consciente ou não, é que "a mulher que tem vontade de casar é normal e a que não quer, não é" e por isso, como "um bom pai", ele tem que conversar com sua filha para convencê-la a mudar de ideia.

Mas na real, queridos homens... Vamos refletir um pouco... Façam a si mesmos as seguintes reflexões:

1) Qual a idade da sua filha? Ela é criança, adolescente ou jovem? 

2) Como você era quando tinha a idade da sua filha? Você era um homem que queria casar ou era um homem que queria experimentar o sexo e "aproveitar a vida ao máximo" (excluindo a fase da infância, claro)?

3) Os seus amigos agiam da mesma maneira que você? Como eles agiam e o que falavam quando o assunto era mulheres?

4) Como agem os colegas de escola ou meninos, de forma geral, da idade da sua filha?

5) Você é feliz no seu casamento? Seus amigos casados também são felizes? São fieis às esposas? 

6) Você tem amigas casadas? Se sim, o que elas falam dos maridos delas? Elas são felizes no casamento? São fieis aos maridos?


Mais um vídeo para vocês, pais, refletirem:



Se você vê que com meninos é diferente e que ainda têm muitos homens que "fogem do casamento como o diabo foge da cruz" e que não seriam bons maridos, por que DIABOS você quer convencer a sua menina que ela TEM que querer casar?

Precisamos de uma mudança coletiva. Tanto os homens devem rever a maneira com o qual eles tratam as mulheres e encaram o casamento (ou relacionamentos duradouros, estáveis e monogâmicos) e como as mulheres precisam ver que é possível ser feliz no casamento sim, mas ele não deve ser o seu maior projeto de vida.

Por isso, quanto ao conselho dos pais para as filhas, não tentem convencê-las a casar se elas não quiserem. Ao invés disso, façam elas se amarem do jeito que são e empoderem-nas! Ensinem que elas são maravilhosas e que elas não devem aceitar qualquer coisa e sim, que elas fiquem com um cara muuuuito legal e se a união entre eles for duradoura e estável, é provável que se casem ou que morem juntos. 


Mais uma vez, essa postagem não é um "nunca se case na vida" ou "o casamento é um inferno" e sim, uma "provocação" para que a gente reflita sobre pensamentos ancestrais que perduram até hoje e que poderiam ser mudados.

Enfim... Essa foi a reflexão do dia. 

Algumas curiosidades sobre as eleições

domingo, 2 de outubro de 2016


Faz um tempo que não escrevo aqui, mas resolvi fazer algumas considerações sobre as eleições, não apenas desse ano, mas de muitos outros.

Algumas dessas curiosidades estão no site do TRE e TSE.


1. Voto branco ou nulo, hoje em dia, dá no mesmo

Antigamente, o voto em branco era tipo o "tanto faz", ou seja, o seu voto era contabilizado para o candidato que estivesse ganhando, não importa quem seja. O voto nulo é quando vc vota num número/ candidato que não existe e aí, com isso, vc diz que "não vota em ninguém" ou "não quer votar".

Hoje em dia, seja lá o que você fizer, dá no mesmo, pois os votos brancos e nulos não são contabilizados. Só contam os votos de quem votou.
É importante que o eleitor tenha consciência de que, votando nulo, não obterá nenhum efeito diferente da desconsideração de seu voto. Isso mesmo: os votos nulos e brancos não entram no cômputo dos votos, servindo, quando muito, para fins de estatística. (Polianna Pereira dos Santos. Fonte: TSE)

2. Votar nulo é o voto de protesto

Não meeeeeeeeeeeesmo! Como falei no item anterior, seu voto nem sequer é contado como válido (vide link acima para mais informações). No final, eles só contam os brancos e nulos para estatísticas, mas de nada vale o seu voto nulo/ branco e, cá pra nós, acho que falta um pouco de conscientização da galera que opta por isso, pois muitas pessoas lutaram e morreram no passado para que O BRASIL pudesse votar e ter as famosas Eleições Diretas. Até então, as eleições eram indiretas e era um Golpe atrás do outro. Infelizmente, mesmo "imitando os americanos", o Brasil não se dá conta do quanto a sua democracia é jovem e veem o Golpe como algo "normal" ou, pior ainda, não veem os Golpes.

É algo realmente preocupante e só a educação para salvar o povo, mas que político corrupto vai querer educar seu povo para que vejam as safadezas que ele faz e não votem nele?

- Confira a cronologia das eleições diretas (Fonte: Jornal R7 Notícias)


3. Mas Dali, se mais de 50% da população votar nulo, a eleição se anula

Não é bem assim. Se mais da 50% da população votar nulo, serão contados apenas os votos válidos.

Esse trecho de artigo do site das Eleições 2016 é super-explicativo quanto a uma dúvida bem comum e que, inclusive, eu tinha:
Voto nulo: é a escolha do eleitor em anular o seu voto durante a votação e não é considerado um voto válido.
Nulidade: é a confirmação de fraude que pode levar a anulação da eleição, por exemplo, quando o candidato vencedor é acusado de abuso de poder, e com isso torna-se inelegível. Existem diversos motivos que podem levar à anulação da eleição, como a realização em dia, hora ou local diferentes do determinado, ou o extravio de um documento essencial. (Fonte: Eleições 2016)

Mais alguns trechos desse mesmo site, que são super-informativos e importantes:

A confusão entre voto nulo e nulidade normalmente acontece em razão deste trecho do artigo 224, que diz que:
"Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do País nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do Município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
CF/88, art. 77, §§ 2º e 3º, c.c. os arts. 28 e 29, II: votos nulos e em branco não computados para o cálculo da maioria nas eleições de presidente da República e vice-presidente da República, governador e vice-governador, e prefeito e vice-prefeito de municípios com mais de duzentos mil eleitores.​"
O termo nulidade referido acima quer dizer a comprovação da fraude. Em outras palavras, a eleição será anulada quando a fraude atinge o candidato eleito, aquele que alcança mais de 50% dos votos válidos, excluindo os nulos e em branco.

E se houver mais de 50% de votos nulos?
A eleição não será anulada. O resultado da eleição é determinada pelos votos válidos, aqueles que foram destinados aos candidato ou partidos. Como os votos nulos não são válidos, não entram na apuração do resultado, mesmo que sejam a maioria. Ainda que haja 99% de votos nulos, a eleição não será anulada, pois o resultado será definido através do 1% que são válidos.

Mesmo que isso fosse possível, qual a real possibilidade disso acontecer, num país onde a maioria das pessoas têm pouco acesso a educação ou escolaridade baixa e as pessoas com uma escolaridade mais alta se acham da elite e se sentem pouco empáticas com as pessoas que mais precisam?

- Voto nulo pode anular a eleição? (Fonte: Eleições 2016)


4. Mas e a urna eletrônica? É mais fácil fraudar as eleições com ela

Mais uma vez, não é bem assim.

Eu fui mesária por muitos anos (10 anos. Graças a Deus que me esqueceram esse ano. Hehe!) e lembro de toooooodo o ritual para verificar se há fraude ou não nas eleições.

Todo mesário (e cada sessão tem 4: o presidente, o secretário e o 1º e 2º mesário) verifica uma ata chamada a zerésima bem antes de iniciarem as eleições. A zerésima é uma impressão que é feita da urna eletrônica, para seja constatado que todos os candidatos tem o número de votos = 0, justamente para prevenir as fraudes nas eleições. Inclusive, os mesários são orientados para falar com as pessoas do TRE/TSE, responsáveis por aquela zona, para que haja a substituição da urna eletrônica.

Das vezes que eu fui mesária, eu nunca vi os candidatos da lista co
m algum voto na zerésima. Todos começavam com 0 e a urna deu problemas pouquíssimas vezes também e quando dava, nos comunicávamos com os responsáveis e, em poucos instantes, o problema era resolvido.

Geralmente, o presidente fica com uma maquininha (também chamado de terminal), digitando o número do seu título. É naquela maquininha que todos mesários podem ver quantas pessoas votaram e o total de pessoas que votam naquela sessão.

Às 17h, quando terminam as eleições, começa outro ritual: o de preenchimento de vários formulários e dos cadernos, onde tem que contar as pessoas que votaram, uma por uma, de cada caderno... Contam-se quantas justificativas houveram (há uma sala específica para isso hoje em dia, mas sempre aparece alguém pra justificar em alguma sessão)... Todos os mesários assinam suas presenças e imprimem vááárias atas. Assinam todas as atas e nessas atas, é possível verificar o número de votos que cada candidato daquela sessão teve, bem como quantos votos brancos e nulos houveram.

Pendura-se uma das atas na porta e a cabine de votação e a urna são entregues aos responsáveis com tudo preenchidinho e bonitinho, com o disquete (antes, né? Hoje, é com um pen-drive) com os dados de votação de cada urna.
Não gosto muito de falar em primeira pessoa aqui no E-farsas, mas gostaria de passar para você, amigo leitor, que sou Analista de Sistemas e Especialista em Segurança da Informação (e também o criador do E-farsas e sou esse que vos escreve) e sempre fui mesário voluntário desde as primeiras eleições eletrônicas no país. Sempre tive a oportunidade de acompanhar de perto as eleições e nunca percebi nada de anormal que pudesse dar margem para fraudes.
Durante o dia das eleições, nenhum eleitor pode permanecer mais do que alguns minutos dentro da cabine de votação. O terminal que fica junto ao mesário avisa que o cidadão está demorando e os mesários tem que tentar ajuda-lo. Essa ajuda deve ser feira de longe, sem comprometer o sigilo do voto.
Ao final do dia, a urna deve ser encerrada. O presidente da mesa, juntamente com os demais mesários e fiscais de partido, imprimem um relatório em várias vias com o resultado dos votos daquela seção. São os Boletins de Urna.
Um desses boletins é afixado na porta da sala e as vias são entregues ao pessoal do TRE (e também para os fiscais de partido, que estão sempre de olho em tudo para evitar alguma maracutaia).
Quem quiser conferir o resultado de todos os boletins de urna dessas eleições, o TSE disponibiliza esses arquivos em sua página!
(Fonte: e-Farsas)

Com todo esse controle, eu acho que é BEEEEEEEEM mais difícil fraudar as eleições... É possível fraudar? Sim! É lógico! Pessoas mal intencionadas existem aos montes e toda e qualquer inovação, mesmo com a intenção de fazer o bem, TAMBÉM pode ser usado para fazer o mal...

Lembro de um ano em que eu e meus colegas mesários vimos que se houver uma pessoa mal-intencionada e anti-democrática, era possível fraudar apenas digitando o título de eleitor e o próprio mesário votava por aquela pessoa, mas ainda assim, todos os mesários e fiscais teriam que estar de acordo com isso, o que não é possível, pois sempre haviam fiscais de coligações diferentes no recinto.

Foto de mesários voluntários sorridentes e felizes. Tá vendo essa cara de felicidade deles? Não acreditem! It's a trap

Mesmo observando isso, óbvio que nem eu, nem meus colegas fizemos tal coisa e observei que, pelo menos, eu e as pessoas com quem "trabalhei" são muito íntegras. São pessoas que se compadecem umas das outras (porque ninguém merece ficar lá o domingo de manhã cedo até às 17h, trabalhando nisso para ganhar apenas 2 dias de férias e R$ 40,00 pra lanchar), conscientes e que mesmo estando lá "por livre e espontânea pressão", se esforçavam para ajudar os eleitores e eram agradáveis e pacientes, especialmente com os idosos ou pessoas com deficiência, tudo dentro da ética e do sigilo da votação. Até lembro de quando os idosos tinham dificuldade e pediam para irmos lá, mas não íamos e tentávamos ajudar de longe. No final, dava certo.

Hoje em dia, com a identificação da impressão digital, isso não é mais possível, pois a digital não bate com a digital do eleitor. O TSE trabalha duro para que, cada vez mais, o sistema de eleição seja mais transparente e eficiente.

Se pararmos para pensar, SEMPRE HÁ COMO FRAUDAR. Repetindo o que disse acima, sempre há inovações para fazer o bem, mas há pessoas que gostam de utilizar elas para fazer o mal. Mesmo se as eleições voltassem a ser no papel, quem garante que alguém não era partidário e que a pessoa contou os votos corretamente? Ou que uma pessoa não pegou uma ficha e votou por alguém? A votação por papel também não é confiável, pois não existe sistema 100% seguro.
As urnas eletrônicas brasileiras são 100% seguras?
É falso! O sistema eleitoral do Brasil não é 100% seguro porque não existe sistema 100% seguro! Mas isso não significa que o processo eleitoral brasileiro pode ser fraudado com facilidade.
Conforme explicado pela reportagem do Portal Terra, o cuidado com as urnas já começa um tempo antes das eleições, com a Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas, que acontecem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nessa ocasião, as urnas são lacradas pelo TSE, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil, com o Ministério Público e conta com a presença dos partidos políticos e coligações que se mostram interessadas em acompanhar o ato.
Ou seja, durante a cerimônia – que no primeiro turno das eleições de 2014 foi encerrada no dia 04 de setembro – os programas são compilados e gravados nas urnas e todo o processo é companhado de perto por muita gente.
Pode haver alguma tentativa de fraude nesse momento? Sim! Mas a façanha teria que ser feita com o consentimento de muitos e em muitas urnas, ou não valeria a pena. (Fonte: e-Farsas)

E eis que surge a pergunta: você acha que Dilma fraudou as eleições para ganhar, como alegam algumas pessoas? Acho pouco provável por um motivo muito simples e que, também, já falei nesse post - o número de pessoas pobres é muuuuito grande. Eles dependem do Bolsa Família e outros benefícios do governo e eles tiveram medo de perder. Mesmo com toda a campanha para que o Aécio ganhasse e com todos os avanços sociais que tivemos, o número de pobres ainda é muito grande.

Alguns governos que fizeram oposição à Dilma, Lula e ao PT reconhecem a importância do Bolsa Família (inclusive, o benefício foi criado durante o governo FHC) e, muito provavelmente, iam manter, como o próprio Temer fez agora, mas o atual presidente reduziu os benefícios e está fazendo uma série de corte de gastos que prejudica, justamente, os mais pobres. Era isso o que eles temiam e que está acontecendo. Os cortes de gastos e medidas de austeridade estão afetando, também, a classe média. O que me espanta é que a classe média ainda não seja capaz de enxergar isso e depositam todo o seu ódio em um só partido, em uma só pessoa e/ou em uma classe social (que é a mais baixa, obviamente), quando as mudanças maiores e mais preocupantes estão acontecendo no governo atual.

Não apenas os pobres, mas existem, ainda, muitas pessoas com consciência e empatia com quem mais precisa e que votou pensando neles e nos avanços sociais do país. Acho uma hipocrisia muito grande quando pessoas se revoltam com os benefícios aos mais carentes, que tem um valor bem baixo, mas que, pelo menos, melhora um pouco a vida daquela pessoa e não tenha essa mesma revolta com auxílio terno, auxílio viagem para a esposa e tantos outros auxílios absurdos e altíssimos dos nossos governantes e do Poder Judiciário, que sai dos nossos bolsos, tanto quanto os auxílios de quem realmente precisa.

Outro motivo para eu duvidar dessa hipótese é a famosa falácia. A falácia de fraude nas urnas sempre existiu, desde que a votação ainda era feita com as fichas de papel e tanto pessoas que se dizem "de direita" como as que se dizem "de esquerda" tiveram essa falácia.
Conclusão - A urna eletrônica não é 100% segura assim como também não era na época da cédula de papel, mas todo o processo que envolve o sistema eleitoral brasileiro é fiscalizado por muita gente e, até hoje,não houve nenhum caso confirmado de fraude nas urnas eletrônicas. Cabe a nós ajudar a fiscalizar todo o processo e denunciar toda e qualquer tentativa de atrapalhar o pleito! (Fonte: e-Farsas)

- Por que a urna eletrônica é segura? (Fonte: TSE)


5. Como verificar as propostas dos candidatos e se eles são ficha-suja?

Existem muitos sites que podem mostrar isso e até aplicativos.

Entre os sites, temos:

- Portal da Transparência: onde você poderá conferir os gastos do Governo;

- Movimento Ficha Limpa: para ver quais os candidatos que são ficha limpa e ficha suja;

- Vote na Web: não é o caso das eleições agora, que são para Prefeitos e Vereadores, mas você poderá conferir os projetos de lei que tramitam no Senado, criados por Deputados, Senadores e Presidentes da República.


Então, galera, é isso. Estamos a uma hora e meia de finalizarmos a votação e decidirmos quem serão nossos prefeitos e vereadores (devia ter escrito esse post antes) e, infelizmente, acho que as mesmas porcarias de sempre serão eleitas...

Mas assim é a democracia: o desejo da maioria. Posso não estar satisfeita com quem for eleito, mas devo respeitar porque a maioria da população votou. O que posso fazer não é pedir impeachment pq não gosto dele(a) e sim, fiscalizar para ver o que ele(a) está fazendo pela minha cidade e "ficar no pé deles(as)" para que a melhorem. 

Boa eleição para todos(as) e votem consciente!

Setembro Amarelo, empatia, depressão e meu tio

quarta-feira, 7 de setembro de 2016


A ironia é algo muito presente na nossa vida, tanto em situações humorísticas quanto em situações tristes e até esdrúxulas. Pessoas que começam a namorar no "Dia da Mentira"... Nascimentos no "Dia de Finados"... E hoje, especialmente HOJE, aconteceu algo irônico e muito triste na minha família: o meu tio se suicidou justamente no mês de combate à suicídio e às vésperas do dia de combate à depressão/suicídio (Dia 10 de Setembro).

Como eu acabei de saber disso, pois foi algo que aconteceu hoje mesmo, minha mente fica vazia... Sem saber o que pensar e o que sentir, mas, com certeza, esse sentimento não é o de alegria.

As poucas coisas que conseguem passar na minha cabeça, neste momento, é que as pessoas subestimam demais a gravidade de uma doença chamada depressão. Essa doença é que é o mal do século XXI (e quando me refiro a "mal", não falo com conotações religiosas e sim, em coisas ruins muito recorrentes). As pessoas, aos poucos, estão descobrindo curas para a AIDS... Curas para o câncer (que também é uma doença grave e comum atualmente), mas não soube de ninguém que descobriu uma cura para a depressão.


A doença não é nova, mas ainda não existe cura para ela... O melhor que a pessoa pode fazer é conviver com ela de maneira em que ela não se sinta tão mal, mas é algo cíclico, onde as pessoas têm momentos em que conseguem "se libertar" da doença por uns instantes e depois, bate a época de profundo desânimo. É uma doença que deve ser acompanhada por especialistas (psicólogos, psiquiatras e/ou neurologistas) e que deve ser MEDICADA, com remédios prescritos por alguns desses profissionais.



Fico impressionada com alguns casos de pessoas que têm depressão e me pergunto "Como isso começou? Como essa pessoa ficou assim? Como ela chegou a esse ponto? Como é que essa pessoa não consegue enxergar o quão maravilhosa ela é? Por que ela não acredita em si mesma ou que é capaz de 'sair dessa'? Por que alguns cientistas se preocupam mais em criar novas doenças para controle mundial do que em curar doenças tão sérias como essa? Por que as pessoas não conseguem ver o quanto deve ser terrível e angustiante uma doença em que alguém não vê razões para viver e mal consegue se levantar da cama, pois tamanha é sua tristeza... Sua dor... Seu sofrimento...?"


Em uma postagem que fiz, falei sobre a importância da tristeza (O mundo que não permite a tristeza) e tmb falei que tristeza em excesso é um problema, mas que não dar atenção a ela pode ser muito mais problemático, pois se vc não olha para o que te deixa infeliz, como você poderá transformar isso? Como você pode ser feliz se você não combate o que te deixa triste ou, pior ainda, se você não reconhece o que te deixa triste? É importante desabafar e colocar a tristeza para fora, num mundo onde vc é obrigado(a) a mostrar o quanto é feliz no Instagram e Redes Sociais e onde vc se vê mais e mais atolado(a) de atividades e obrigações. Talvez seja esse um dos motivos da depressão ter crescido tanto - esse reconhecimento do aparentemente sucesso alheio e a visão do seu "fracasso" que, muitas vezes, pode nem ser um fracasso. Apenas não chegou a sua hora e cada um de nós temos tempos diferentes.





Nessa mesma postagem, falei da importância da Empatia e eis que torno a repetir: nunca... NUUUUUUNCA desmereça o sofrimento dos outros. NUNCA! Nunca pense que é frescura! Nunca ache que é besteira, pois do mesmo jeito que temos tempos diferentes, temos sensibilidades diferentes. O que é tocante e avassalador para mim pode não ser tocante e avassalador para você.





Outra coisa que gostaria de comentar sobre a Campanha do Setembro Amarelo, que está sendo super-divulgada nas Redes Sociais é que, na minha opinião, toda ajuda é válida. Já li alguns posts criticando pessoas que se oferecem para conversar com pessoas que pensam em suicídio, pois deveriam procurar profissionais e tal e eu JAMAIS desvalorizaria a importância dos profissionais de saúde mental, mas acho que tem alguns casos que só o que a pessoa precisa é de alguém que a ouça um pouco. Só. Pode ser amigo(a), conhecido(a), familiar... Eu não descartaria a ajuda dessas pessoas que estão se oferecendo, de coração, para tratar de um assunto tão grave e sério, pois às vezes, uma palavra amiga já basta e esse(a) mesmo(a) amigo(a) que se ofereceu para ajudar pode sugerir que a pessoa procure ajuda profissional e pode até ajudá-lo(a) com contatos e tudo o mais.


É importante que as pessoas não vejam outras que pensam em suicídio e as julgue como "pessoas fracas"... É muito fácil rotular as pessoas assim. O suicida não pensa, de fato, em acabar com a própria vida... Ele quer dar fim ao seu sofrimento...



Por fim, é irônico pensar que esse meu tio, com esse histórico de depressão se matou, justamente, no Dia da Independência brasileira...

Agora, sua alma independe do corpo... E assim, espero que, de alguma forma, ele tenha se libertado de toda dor que ele estava sentindo...


PS.: esse post tmb é um tapa na minha própria cara.

O berço do machismo - impressões sobre o desenvolvimento do amor durante a Pré-História

domingo, 28 de agosto de 2016


Às vezes, devido ao grande número de atividades, demoro muito para ler algumas coisas, mas achei muito interessante o primeiro capítulo do "Livro do Amor" da Regina Navarro Lins, que vem falando sobre como eram as formas de amor desde a Pré-História até os dias de hoje.

Esse livro é de 2012 e é dividido em dois volumes: o primeiro, que é o que estou lendo no momento, retrata o amor desde a Pré-História até a época do Renascimento e o segundo vai do Iluminismo até a atualidade.



Ler sobre o amor na Pré-História foi muito interessante, pois me fez ver uma série de coisas que perpetuam até os dias de hoje.

Eu achava que o machismo havia começado por causa das religiões, mas não. As religiões foram importantes como meio de disseminar e fortalecer o machismo, mas não foram a causa dele.

Vamos do princípio:

No período do Paleolítico, não havia a ideia de família como conhecemos hoje - todos os homens pertenciam a todas as mulheres e vice-versa. Logo, os filhos tinham vários genitores(as) e, o mais interessante, não havia o sentimento de posse. Todos conviviam harmoniosamente.



Além disso, a evolução mudou a forma com que homens e mulheres se relacionavam, pois no momento em que começamos a andar eretos, nos tornamos os únicos primatas a ter relações sexuais onde podemos ficar um de frente para o outro e com isso, surge a ideia do orgasmo feminino, coisa que não existe em outras espécies animais. Logo, o sexo não era apenas uma forma de perpetuação da espécie, como ocorre em outros animais, mas era uma forma de prazer e diversão.

As mulheres eram muito respeitadas e eram mais poderosas que os homens, entretanto, não havia a ideia de submissão. Os homens as consideravam mágicas, pois se questionavam como um único corpo é capaz de sangrar conforme as fases da Lua, fazer seu membro se erguer, ter a capacidade de obter e proporcionar prazer, gerar a vida e, ainda por cima, gerar alimento (o leite materno).

Naquela época, já havia a crença no sobrenatural e haviam deusas que, frequentemente, eram associadas à fertilidade e às mulheres/deusas, também era associada a ideia de poder sobre a vida e a morte.



Tudo isso muda a partir do Neolítico, no momento em que o homem passa a cuidar de cabras e ovelhas e ao observar o rebanho, começaram a se perguntar de onde vinham os filhotes. Então, resolveram separar machos e fêmeas. Ao fazer isso, perceberam que não nasciam filhotes e quando juntaram machos e fêmeas, perceberam que após um certo tempo, surgiam os filhotinhos. Até então, o homem não havia associado a relação sexual com a reprodução, mas ao observar isso nos animais, resolveram "testar" isso em sua própria espécie e foi quando se deram conta de que os filhos eram consequência do ato sexual.

Esse conhecimento foi o suficiente para mudar tudo na relação entre homens e mulheres, pois foi aí que surgiu a ideia da mulher e filhos como posse e foi quando o homem quis controlar a vida sexual da mulher e se pensarmos bem, isso faz muito sentido.

Trazendo isso aos dias de hoje, a mulher que fica com vários homens ou que tem várias experiências sexuais é desprezada por eles, pois é logo taxada de puta e é rejeitada pela sociedade como um todo. A mulher que não é "de posse" de algum homem (mães solteiras ou, simplesmente, solteiras) também são vistas como inferiores ou com maus olhos. E com esse controle sobre a vida sexual e reprodutiva da mulher, a mulher não pode ser sexual... Não pode "dar no primeiro encontro"... Tem que "se preservar"... Mostrar que "é direita"...



A questão do estupro também está relacionada a isso, pois a vontade sexual da mulher não é respeitada. Só a do homem, que se acha no direito de ter sexo com a mulher que quiser e na hora que quiser.

A questão do aborto também, pois se ela não tem o direito de escolher o parceiro sexual, nem o momento em que tem vontade de ter relações, ela não tem o direito de escolher se ela quer ou não criar o ser que sairá de dentro dela.

Tudo isso está ligado ao machismo, que dá poder ao homem em alguns aspectos e o subjulga e vitimiza em outros (Leia minha postagem sobre "O Masculino e a fragilidade").

Além de tudo isso, a mulher passou a ter muito mais tarefas quando se tornou fazendeira, junto ao homem e ao ler isso, logo vi o elo de ligação entre as mulheres de zonas rurais nos dias de hoje, que estão muito mais vulneráveis à violência e dominação masculina e o quanto elas têm uma vida semelhante aos nossos ancestrais.

E essa dominação e controle masculino se dá através da violência, é claro. Se lembram da clássica imagem que temos do homem primitivo que carrega a mulher, puxando-a pelos cabelos e andando com uma clava de madeira na outra mão? Isso é uma imagem cartunizada, porém, real de como foi essa dominação masculina em relação à mulher.

E assim, a mulher, que antes era admirada e era considerada mágica perdeu todo o respeito do homem que, inclusive, substituiu as deusas femininas por divindades masculinas.

É incrível perceber que essa "guerra dos sexos" é antiga e o quanto ela é cíclica, como tudo na história da humanidade... Quando a mulher conquista alguma liberdade sexual, sempre vem uma onda "conservadora" para "limar" isso dela. Isso aconteceu, inclusive, nas próprias religiões, posteriormente, onde haviam deusas respeitadas (Mitologia Grega, Germânica, Egípcia, Celta, Budismo e muitas outras crenças pagãs) que foram substituídas por um deus do sexo masculino.

O que eu acho que é difícil para alguns homens entenderem é que as mulheres não pretendem ter essa supremacia em relação ao homem. Isso não é feminismo. É femismo, que é o oposto do machismo e é algo tão ruim quanto esse tipo de pensamento/comportamento/cultura. O feminismo prega a igualdade e que a mulher tenha os mesmos direitos que o homem tem. Isso não implica superioridade ou submissão de um em relação ao outro.

Mulher e homem podem ser parceiros e viverem em paz, respeitando os direitos e vontades um do outro, mas o machismo é tão prejudicial que faz com que o homem queira ser mais... O mais endinheirado... O mais bem-sucedido... O machão-alfa... O que fica com o maior número de mulheres... O mais forte... O mais poderoso... E esse padrão machista aprisiona o próprio homem, pois se ele não consegue ser/fazer tudo isso, ele é considerado fraco. O machismo, no final das contas, é um "tiro no pé" do próprio homem, pois acaba sobrecarregando-o e como o homem também não é estimulado a lidar com suas próprias emoções (desde sempre, ele aprende a escondê-las ou ignorá-las), eles acabam recorrendo às clínicas de psicologia, para superar todas essas cobranças e obter alguma ajuda.



É chocante ver que a raiz do machismo é tão profunda e logínqua e o quanto, mesmo depois de tantos anos de evolução, ela continua... Sempre negando os direitos, o poder e a sexualidade feminina e fazendo o homem escravo de si mesmo. Quando será que homem e mulher poderão, novamente, se dar as mãos e conviver em paz, como era no passado (pode até não ser nas mesmas condições de antes, mas chegando a um consenso)? Quando vai acabar essa maldita guerra dos sexos que só prejudica a ambos? Quando é que o homem perceberá que estamos todos no mesmo time (o humano) e que devemos "jogar" juntos?

Homens, queridos e amados homens... Vocês não precisam ser esse "machão-alfa" que ensinaram a vocês desde sempre. Abram mão do machismo e entendam que "ser" é sempre bem melhor do que "ter", então, sejam quem vocês quiserem. Ser mulher é tão bom quanto ser homem e abraçar o nosso lado masculino/feminino é sempre mais gostoso e mais libertador e isso não significa que somos gays e mesmo se formos, o que importa?

Pensem nisso, queridos homens.

Carta ao Galante Poeta

sábado, 27 de agosto de 2016

 

* Caso não tenha compreendido as imagens, leia o texto abaixo, sem os enfeites das imagens.

Querido admirador, que com gentilezas, me presenteia. Tens noção do que estás a pedir? Tens ideia da mulher que queres? Tens ideia de quem ela é e como ela se sente?

Saibas, meu querido poeta, que a mulher a quem pediste em namoro não é apenas uma mulher, mas um corpo ileso por fora e dilacerado por dentro. Uma alma em pedaços que não conhece a paz do amor, pois todos eles tiveram fim.

Saibas que os olhos, tão elogiados em rimas, já estiveram corroídos por lágrimas e que minha imagem teve mais rachaduras do que um espelho quebrado.

Saibas que os lábios já estiveram trêmulos por causa do pranto e a voz já esteve rouca e soluçante por causa do abismo.

Saibas que a calma, que agora vês, é apenas uma máscara para encobrir toda a dor e sofrimento de um ser que já amou e já viveu as mais lindas ilusões, que caíram por terra.

E que os dedos já tatearam diferentes universos e corações, que levaram partes dos meus, para nunca mais devolver... Para nunca mais voltar... Para nunca mais ser a mesma coisa...

E que as costas carregam mais peso que Atlas, pois carrega meu mundo e o de outros... Machucados que escolhi e que não escolhi... Cortes que não devia, sequer, sentir... Feridas de amor... A dor de ser mulher... Estigmas e venenos disfarçados de sorrisos...

E que todo o meu ser já esteve imerso na mais escura, absoluta e densa nuvem de trevas, no qual estive íntima durante todos esses anos...

Saibas, meu caro, que por trás de todo gesto e de toda palavra, jorram cascatas de sangue e traumas de experiências difíceis e que só algumas foram superadas.

Saibas, enfim, que as fraturas e contusões que a vida me causou compõem hoje a mulher por quem te apaixonaste e se ainda assim, mesmo depois de tudo isso, ainda me quiseres, saibas que meu coração transbordará de amor e que juntos, consertaremos os cacos de nossas almas e seremos apenas pedaços unidos num só sentimento, corpo e espírito.


(Daliana Medeiros Cavalcanti – 26/08/2016)

Energia Eólica


Um amor jogado ao vento
Vida sem inspiração
Eu não nego o lamento
Mas renego o coração...

... Que de suspiros vive
E estranha o palpitar lento
É constante e livre
E inquieto por dentro

Ofegante, só expiro...
Onde está meu ar?
Aquele que não mais respiro...
Por que teve que faltar?

Aspiro a vida e a luz
Em toda a atmosfera
Deste fluxo que me conduz
Com o tempo e a espera

Exalo sonhos e mares
E tento inspirar a mim
Buscando novos ares
Até florescer jasmim.


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 25/08/2016)

Review de "Geliebte Clara"

segunda-feira, 15 de agosto de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 = 4,5

Gênero = Romance / Drama

Achei muito legal a iniciativa de se fazer um vídeo sobre a pianista e compositora Clara Schumann, tão pouco estudada e conhecida na História da Música.

O filme é uma produção franco-germano-húngara e é um pouco desconhecido, mas tive o interesse de assistí-lo, pois ao estudar música, percebi que pouco se fala sobre compositoras e, honestamente, até pouco tempo atrás, eu não conhecia nenhuma. Nem as escolas, nem os livros de história da música falam sobre musicistas do sexo feminino.

Pintura da Clara Schumann
Foi quando eu conheci a Clara Schumann, ouvi alguns de seus Lieder (canções alemãs) e tive o interesse de estudar mais a fundo sobre ela, as canções que ela escreveu e a vida dela como um todo.

Ao ler sobre a vida dela, me deparei com uma grande guerreira, cujo o filme, mesmo sendo muito bom, foi incapaz de mostrar todos os problemas que ela passou.

O filme ressalta a sua virtuosidade ao piano e mostra o quanto ela era conhecida por seus concertos. Ela era uma pianista muito admirada, mas não conta que, assim como Mozart e tantos outros gênios internacionalmente conhecidos, ela aprendeu a tocar piano desde pequena, com seu pai, e desde criança, já fazia concertos.

No filme, ela já está casada com o Robert Schumann e o ponto central da história, além de ressaltar o brilhantismo da Clara que a História não contou nos livros acadêmicos, é o relacionamento deles. A ficção, entretanto, não mostrou que bem antes deles se casarem, o pai de Clara (que, antes de se casar, se chamava Clara Wieck) era contra o relacionamento deles. Robert, que era 9 anos mais velho que ela, teve que processar o pai dela para conseguir que o casamento acontecesse.

Durante esse período do processo, que aconteceu por volta de 1840, Schumann estava bastante inspirado e compôs várias canções e ciclos de canções, o que deu o nome, a esse ano de "Ano da Canção". Um desses ciclos que ele escreveu foi o Frauenliebe und Leben (Amor e Vida de uma Mulher), que apresentei em meu recital e que havia sido dedicado à Clara.

Clara e Robert Schumann

Voltando à trama do filme, com o passar do tempo, Robert foi se sentindo mal e foi deixando de fazer várias coisas que ele fazia normalmente. Deixou de reger a orquestra... Não queria mais tocar piano... E a Clara foi assumindo todas essas responsabilidades.

Eu não sabia que a Clara, além de tudo, era maestrina. Ela regeu a orquestra e no início, muitos músicos da orquestra foram contra, pois não aceitavam a ideia de uma mulher regendo. Imagino que, na época, devia ter sido um escândalo enorme. Como eles tinham um concerto marcado, eles acabaram aceitando que a Clara os conduzisse.

Clara conduzindo a orquestra

Aos poucos, o estado de saúde de Robert foi piorando e descobre-se que ele tem algum transtorno mental, que foi piorando bastante.

Mais tarde, aparece o jovem Johannes Brahms, que se apaixona pela Clara e tenta ajudá-la como pode. A História conta que eles talvez tenham tido um relacionamento amoroso, mas não se pode afirmar com certeza, pois eles destruíram cartas e outros documentos que possam comprovar isso e o filme deixa essa relação entre eles bem dúbia.

Clara Schumann e Johannes Brahms

É triste perceber que a História pouco fala sobre a Clara Schumann, mas muitos sabem do triângulo amoroso dela com o Brahms, o que só apresenta o machismo presente no conhecimento acadêmico.

Aliás, falando de machismo, é impressionante ler sobre a vida dela e ver que não só os homens eram contra mulheres compositoras, mas as próprias mulheres se reconheciam como pessoas que deveriam focar em suas atividades femininas (ou seja: cuidar da casa e dos filhos) e com ela, não foi diferente. Mesmo com tanto talento e sustentando a casa com os concertos que ela dava, principalmente após a morte do marido, ela foi deixando, aos poucos, de compôr para cuidar de seus afazeres domésticos.

Geliebte Clara (Amada Clara) é um filme muito doce e lindo que mostra um pouco da história dessa impressionante musicista que, além de talentosa, teve uma vida muito difícil.


Com o agravamento da doença de Robert (que, ao que tudo indica, sofria de Transtorno Bipolar e ficou incapacitado de tocar porque feriu gravemente a mão), ela teve que cuidar de todos os afazeres domésticos sozinha; conforme ele foi parando de trabalhar e, mais tarde, teve que se internar num asilo, a renda deles diminuiu e eles passaram por muitos apertos financeiros; quatro de seus oito filhos morreram antes dela - um com apenas 1 ano de idade (lembrando que a mortalidade infantil, antigamente, era bem mais alta do que é hoje), outro desenvolveu a mesma doença que o pai e teve que ser "sepultado vivo" num manicômio... Senti falta dessas últimas informações no filme, que só mostram o quanto, além de tudo, ela era uma mulher muito forte.

E, para finalizar, se Schumann deve a alguém por ser tão conhecido, na música clássica, como ele é hoje, esse alguém é a Clara, que lutou para preservar seus trabalho e sempre os executava em seus concertos.