Review de "Geliebte Clara"

segunda-feira, 15 de agosto de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 = 4,5

Gênero = Romance / Drama

Achei muito legal a iniciativa de se fazer um vídeo sobre a pianista e compositora Clara Schumann, tão pouco estudada e conhecida na História da Música.

O filme é uma produção franco-germano-húngara e é um pouco desconhecido, mas tive o interesse de assistí-lo, pois ao estudar música, percebi que pouco se fala sobre compositoras e, honestamente, até pouco tempo atrás, eu não conhecia nenhuma. Nem as escolas, nem os livros de história da música falam sobre musicistas do sexo feminino.

Pintura da Clara Schumann
Foi quando eu conheci a Clara Schumann, ouvi alguns de seus Lieder (canções alemãs) e tive o interesse de estudar mais a fundo sobre ela, as canções que ela escreveu e a vida dela como um todo.

Ao ler sobre a vida dela, me deparei com uma grande guerreira, cujo o filme, mesmo sendo muito bom, foi incapaz de mostrar todos os problemas que ela passou.

O filme ressalta a sua virtuosidade ao piano e mostra o quanto ela era conhecida por seus concertos. Ela era uma pianista muito admirada, mas não conta que, assim como Mozart e tantos outros gênios internacionalmente conhecidos, ela aprendeu a tocar piano desde pequena, com seu pai, e desde criança, já fazia concertos.

No filme, ela já está casada com o Robert Schumann e o ponto central da história, além de ressaltar o brilhantismo da Clara que a História não contou nos livros acadêmicos, é o relacionamento deles. A ficção, entretanto, não mostrou que bem antes deles se casarem, o pai de Clara (que, antes de se casar, se chamava Clara Wieck) era contra o relacionamento deles. Robert, que era 9 anos mais velho que ela, teve que processar o pai dela para conseguir que o casamento acontecesse.

Durante esse período do processo, que aconteceu por volta de 1840, Schumann estava bastante inspirado e compôs várias canções e ciclos de canções, o que deu o nome, a esse ano de "Ano da Canção". Um desses ciclos que ele escreveu foi o Frauenliebe und Leben (Amor e Vida de uma Mulher), que apresentei em meu recital e que havia sido dedicado à Clara.

Clara e Robert Schumann

Voltando à trama do filme, com o passar do tempo, Robert foi se sentindo mal e foi deixando de fazer várias coisas que ele fazia normalmente. Deixou de reger a orquestra... Não queria mais tocar piano... E a Clara foi assumindo todas essas responsabilidades.

Eu não sabia que a Clara, além de tudo, era maestrina. Ela regeu a orquestra e no início, muitos músicos da orquestra foram contra, pois não aceitavam a ideia de uma mulher regendo. Imagino que, na época, devia ter sido um escândalo enorme. Como eles tinham um concerto marcado, eles acabaram aceitando que a Clara os conduzisse.

Clara conduzindo a orquestra

Aos poucos, o estado de saúde de Robert foi piorando e descobre-se que ele tem algum transtorno mental, que foi piorando bastante.

Mais tarde, aparece o jovem Johannes Brahms, que se apaixona pela Clara e tenta ajudá-la como pode. A História conta que eles talvez tenham tido um relacionamento amoroso, mas não se pode afirmar com certeza, pois eles destruíram cartas e outros documentos que possam comprovar isso e o filme deixa essa relação entre eles bem dúbia.

Clara Schumann e Johannes Brahms

É triste perceber que a História pouco fala sobre a Clara Schumann, mas muitos sabem do triângulo amoroso dela com o Brahms, o que só apresenta o machismo presente no conhecimento acadêmico.

Aliás, falando de machismo, é impressionante ler sobre a vida dela e ver que não só os homens eram contra mulheres compositoras, mas as próprias mulheres se reconheciam como pessoas que deveriam focar em suas atividades femininas (ou seja: cuidar da casa e dos filhos) e com ela, não foi diferente. Mesmo com tanto talento e sustentando a casa com os concertos que ela dava, principalmente após a morte do marido, ela foi deixando, aos poucos, de compôr para cuidar de seus afazeres domésticos.

Geliebte Clara (Amada Clara) é um filme muito doce e lindo que mostra um pouco da história dessa impressionante musicista que, além de talentosa, teve uma vida muito difícil.


Com o agravamento da doença de Robert (que, ao que tudo indica, sofria de Transtorno Bipolar e ficou incapacitado de tocar porque feriu gravemente a mão), ela teve que cuidar de todos os afazeres domésticos sozinha; conforme ele foi parando de trabalhar e, mais tarde, teve que se internar num asilo, a renda deles diminuiu e eles passaram por muitos apertos financeiros; quatro de seus oito filhos morreram antes dela - um com apenas 1 ano de idade (lembrando que a mortalidade infantil, antigamente, era bem mais alta do que é hoje), outro desenvolveu a mesma doença que o pai e teve que ser "sepultado vivo" num manicômio... Senti falta dessas últimas informações no filme, que só mostram o quanto, além de tudo, ela era uma mulher muito forte.

E, para finalizar, se Schumann deve a alguém por ser tão conhecido, na música clássica, como ele é hoje, esse alguém é a Clara, que lutou para preservar seus trabalho e sempre os executava em seus concertos.

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