O berço do machismo - impressões sobre o desenvolvimento do amor durante a Pré-História

domingo, 28 de agosto de 2016


Às vezes, devido ao grande número de atividades, demoro muito para ler algumas coisas, mas achei muito interessante o primeiro capítulo do "Livro do Amor" da Regina Navarro Lins, que vem falando sobre como eram as formas de amor desde a Pré-História até os dias de hoje.

Esse livro é de 2012 e é dividido em dois volumes: o primeiro, que é o que estou lendo no momento, retrata o amor desde a Pré-História até a época do Renascimento e o segundo vai do Iluminismo até a atualidade.



Ler sobre o amor na Pré-História foi muito interessante, pois me fez ver uma série de coisas que perpetuam até os dias de hoje.

Eu achava que o machismo havia começado por causa das religiões, mas não. As religiões foram importantes como meio de disseminar e fortalecer o machismo, mas não foram a causa dele.

Vamos do princípio:

No período do Paleolítico, não havia a ideia de família como conhecemos hoje - todos os homens pertenciam a todas as mulheres e vice-versa. Logo, os filhos tinham vários genitores(as) e, o mais interessante, não havia o sentimento de posse. Todos conviviam harmoniosamente.



Além disso, a evolução mudou a forma com que homens e mulheres se relacionavam, pois no momento em que começamos a andar eretos, nos tornamos os únicos primatas a ter relações sexuais onde podemos ficar um de frente para o outro e com isso, surge a ideia do orgasmo feminino, coisa que não existe em outras espécies animais. Logo, o sexo não era apenas uma forma de perpetuação da espécie, como ocorre em outros animais, mas era uma forma de prazer e diversão.

As mulheres eram muito respeitadas e eram mais poderosas que os homens, entretanto, não havia a ideia de submissão. Os homens as consideravam mágicas, pois se questionavam como um único corpo é capaz de sangrar conforme as fases da Lua, fazer seu membro se erguer, ter a capacidade de obter e proporcionar prazer, gerar a vida e, ainda por cima, gerar alimento (o leite materno).

Naquela época, já havia a crença no sobrenatural e haviam deusas que, frequentemente, eram associadas à fertilidade e às mulheres/deusas, também era associada a ideia de poder sobre a vida e a morte.



Tudo isso muda a partir do Neolítico, no momento em que o homem passa a cuidar de cabras e ovelhas e ao observar o rebanho, começaram a se perguntar de onde vinham os filhotes. Então, resolveram separar machos e fêmeas. Ao fazer isso, perceberam que não nasciam filhotes e quando juntaram machos e fêmeas, perceberam que após um certo tempo, surgiam os filhotinhos. Até então, o homem não havia associado a relação sexual com a reprodução, mas ao observar isso nos animais, resolveram "testar" isso em sua própria espécie e foi quando se deram conta de que os filhos eram consequência do ato sexual.

Esse conhecimento foi o suficiente para mudar tudo na relação entre homens e mulheres, pois foi aí que surgiu a ideia da mulher e filhos como posse e foi quando o homem quis controlar a vida sexual da mulher e se pensarmos bem, isso faz muito sentido.

Trazendo isso aos dias de hoje, a mulher que fica com vários homens ou que tem várias experiências sexuais é desprezada por eles, pois é logo taxada de puta e é rejeitada pela sociedade como um todo. A mulher que não é "de posse" de algum homem (mães solteiras ou, simplesmente, solteiras) também são vistas como inferiores ou com maus olhos. E com esse controle sobre a vida sexual e reprodutiva da mulher, a mulher não pode ser sexual... Não pode "dar no primeiro encontro"... Tem que "se preservar"... Mostrar que "é direita"...



A questão do estupro também está relacionada a isso, pois a vontade sexual da mulher não é respeitada. Só a do homem, que se acha no direito de ter sexo com a mulher que quiser e na hora que quiser.

A questão do aborto também, pois se ela não tem o direito de escolher o parceiro sexual, nem o momento em que tem vontade de ter relações, ela não tem o direito de escolher se ela quer ou não criar o ser que sairá de dentro dela.

Tudo isso está ligado ao machismo, que dá poder ao homem em alguns aspectos e o subjulga e vitimiza em outros (Leia minha postagem sobre "O Masculino e a fragilidade").

Além de tudo isso, a mulher passou a ter muito mais tarefas quando se tornou fazendeira, junto ao homem e ao ler isso, logo vi o elo de ligação entre as mulheres de zonas rurais nos dias de hoje, que estão muito mais vulneráveis à violência e dominação masculina e o quanto elas têm uma vida semelhante aos nossos ancestrais.

E essa dominação e controle masculino se dá através da violência, é claro. Se lembram da clássica imagem que temos do homem primitivo que carrega a mulher, puxando-a pelos cabelos e andando com uma clava de madeira na outra mão? Isso é uma imagem cartunizada, porém, real de como foi essa dominação masculina em relação à mulher.

E assim, a mulher, que antes era admirada e era considerada mágica perdeu todo o respeito do homem que, inclusive, substituiu as deusas femininas por divindades masculinas.

É incrível perceber que essa "guerra dos sexos" é antiga e o quanto ela é cíclica, como tudo na história da humanidade... Quando a mulher conquista alguma liberdade sexual, sempre vem uma onda "conservadora" para "limar" isso dela. Isso aconteceu, inclusive, nas próprias religiões, posteriormente, onde haviam deusas respeitadas (Mitologia Grega, Germânica, Egípcia, Celta, Budismo e muitas outras crenças pagãs) que foram substituídas por um deus do sexo masculino.

O que eu acho que é difícil para alguns homens entenderem é que as mulheres não pretendem ter essa supremacia em relação ao homem. Isso não é feminismo. É femismo, que é o oposto do machismo e é algo tão ruim quanto esse tipo de pensamento/comportamento/cultura. O feminismo prega a igualdade e que a mulher tenha os mesmos direitos que o homem tem. Isso não implica superioridade ou submissão de um em relação ao outro.

Mulher e homem podem ser parceiros e viverem em paz, respeitando os direitos e vontades um do outro, mas o machismo é tão prejudicial que faz com que o homem queira ser mais... O mais endinheirado... O mais bem-sucedido... O machão-alfa... O que fica com o maior número de mulheres... O mais forte... O mais poderoso... E esse padrão machista aprisiona o próprio homem, pois se ele não consegue ser/fazer tudo isso, ele é considerado fraco. O machismo, no final das contas, é um "tiro no pé" do próprio homem, pois acaba sobrecarregando-o e como o homem também não é estimulado a lidar com suas próprias emoções (desde sempre, ele aprende a escondê-las ou ignorá-las), eles acabam recorrendo às clínicas de psicologia, para superar todas essas cobranças e obter alguma ajuda.



É chocante ver que a raiz do machismo é tão profunda e logínqua e o quanto, mesmo depois de tantos anos de evolução, ela continua... Sempre negando os direitos, o poder e a sexualidade feminina e fazendo o homem escravo de si mesmo. Quando será que homem e mulher poderão, novamente, se dar as mãos e conviver em paz, como era no passado (pode até não ser nas mesmas condições de antes, mas chegando a um consenso)? Quando vai acabar essa maldita guerra dos sexos que só prejudica a ambos? Quando é que o homem perceberá que estamos todos no mesmo time (o humano) e que devemos "jogar" juntos?

Homens, queridos e amados homens... Vocês não precisam ser esse "machão-alfa" que ensinaram a vocês desde sempre. Abram mão do machismo e entendam que "ser" é sempre bem melhor do que "ter", então, sejam quem vocês quiserem. Ser mulher é tão bom quanto ser homem e abraçar o nosso lado masculino/feminino é sempre mais gostoso e mais libertador e isso não significa que somos gays e mesmo se formos, o que importa?

Pensem nisso, queridos homens.

1 comentários:

FezesSeca disse...

Não acho que somente os homens são os responsáveis por propagar o machismo por esse mundão a fora. Com certeza são os principal, mas as mulheres empregam sim valores moralistas em cima dos homens para eles agirem como machos protetores, não dividindo tarefas de casa e apenas os entitulando donos e chefes de família. Bom, pelo menos foi assim a estruturação de toda minha família.

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