O berço do machismo - impressões sobre o desenvolvimento do amor durante a Pré-História

domingo, 28 de agosto de 2016


Às vezes, devido ao grande número de atividades, demoro muito para ler algumas coisas, mas achei muito interessante o primeiro capítulo do "Livro do Amor" da Regina Navarro Lins, que vem falando sobre como eram as formas de amor desde a Pré-História até os dias de hoje.

Esse livro é de 2012 e é dividido em dois volumes: o primeiro, que é o que estou lendo no momento, retrata o amor desde a Pré-História até a época do Renascimento e o segundo vai do Iluminismo até a atualidade.



Ler sobre o amor na Pré-História foi muito interessante, pois me fez ver uma série de coisas que perpetuam até os dias de hoje.

Eu achava que o machismo havia começado por causa das religiões, mas não. As religiões foram importantes como meio de disseminar e fortalecer o machismo, mas não foram a causa dele.

Vamos do princípio:

No período do Paleolítico, não havia a ideia de família como conhecemos hoje - todos os homens pertenciam a todas as mulheres e vice-versa. Logo, os filhos tinham vários genitores(as) e, o mais interessante, não havia o sentimento de posse. Todos conviviam harmoniosamente.



Além disso, a evolução mudou a forma com que homens e mulheres se relacionavam, pois no momento em que começamos a andar eretos, nos tornamos os únicos primatas a ter relações sexuais onde podemos ficar um de frente para o outro e com isso, surge a ideia do orgasmo feminino, coisa que não existe em outras espécies animais. Logo, o sexo não era apenas uma forma de perpetuação da espécie, como ocorre em outros animais, mas era uma forma de prazer e diversão.

As mulheres eram muito respeitadas e eram mais poderosas que os homens, entretanto, não havia a ideia de submissão. Os homens as consideravam mágicas, pois se questionavam como um único corpo é capaz de sangrar conforme as fases da Lua, fazer seu membro se erguer, ter a capacidade de obter e proporcionar prazer, gerar a vida e, ainda por cima, gerar alimento (o leite materno).

Naquela época, já havia a crença no sobrenatural e haviam deusas que, frequentemente, eram associadas à fertilidade e às mulheres/deusas, também era associada a ideia de poder sobre a vida e a morte.



Tudo isso muda a partir do Neolítico, no momento em que o homem passa a cuidar de cabras e ovelhas e ao observar o rebanho, começaram a se perguntar de onde vinham os filhotes. Então, resolveram separar machos e fêmeas. Ao fazer isso, perceberam que não nasciam filhotes e quando juntaram machos e fêmeas, perceberam que após um certo tempo, surgiam os filhotinhos. Até então, o homem não havia associado a relação sexual com a reprodução, mas ao observar isso nos animais, resolveram "testar" isso em sua própria espécie e foi quando se deram conta de que os filhos eram consequência do ato sexual.

Esse conhecimento foi o suficiente para mudar tudo na relação entre homens e mulheres, pois foi aí que surgiu a ideia da mulher e filhos como posse e foi quando o homem quis controlar a vida sexual da mulher e se pensarmos bem, isso faz muito sentido.

Trazendo isso aos dias de hoje, a mulher que fica com vários homens ou que tem várias experiências sexuais é desprezada por eles, pois é logo taxada de puta e é rejeitada pela sociedade como um todo. A mulher que não é "de posse" de algum homem (mães solteiras ou, simplesmente, solteiras) também são vistas como inferiores ou com maus olhos. E com esse controle sobre a vida sexual e reprodutiva da mulher, a mulher não pode ser sexual... Não pode "dar no primeiro encontro"... Tem que "se preservar"... Mostrar que "é direita"...



A questão do estupro também está relacionada a isso, pois a vontade sexual da mulher não é respeitada. Só a do homem, que se acha no direito de ter sexo com a mulher que quiser e na hora que quiser.

A questão do aborto também, pois se ela não tem o direito de escolher o parceiro sexual, nem o momento em que tem vontade de ter relações, ela não tem o direito de escolher se ela quer ou não criar o ser que sairá de dentro dela.

Tudo isso está ligado ao machismo, que dá poder ao homem em alguns aspectos e o subjulga e vitimiza em outros (Leia minha postagem sobre "O Masculino e a fragilidade").

Além de tudo isso, a mulher passou a ter muito mais tarefas quando se tornou fazendeira, junto ao homem e ao ler isso, logo vi o elo de ligação entre as mulheres de zonas rurais nos dias de hoje, que estão muito mais vulneráveis à violência e dominação masculina e o quanto elas têm uma vida semelhante aos nossos ancestrais.

E essa dominação e controle masculino se dá através da violência, é claro. Se lembram da clássica imagem que temos do homem primitivo que carrega a mulher, puxando-a pelos cabelos e andando com uma clava de madeira na outra mão? Isso é uma imagem cartunizada, porém, real de como foi essa dominação masculina em relação à mulher.

E assim, a mulher, que antes era admirada e era considerada mágica perdeu todo o respeito do homem que, inclusive, substituiu as deusas femininas por divindades masculinas.

É incrível perceber que essa "guerra dos sexos" é antiga e o quanto ela é cíclica, como tudo na história da humanidade... Quando a mulher conquista alguma liberdade sexual, sempre vem uma onda "conservadora" para "limar" isso dela. Isso aconteceu, inclusive, nas próprias religiões, posteriormente, onde haviam deusas respeitadas (Mitologia Grega, Germânica, Egípcia, Celta, Budismo e muitas outras crenças pagãs) que foram substituídas por um deus do sexo masculino.

O que eu acho que é difícil para alguns homens entenderem é que as mulheres não pretendem ter essa supremacia em relação ao homem. Isso não é feminismo. É femismo, que é o oposto do machismo e é algo tão ruim quanto esse tipo de pensamento/comportamento/cultura. O feminismo prega a igualdade e que a mulher tenha os mesmos direitos que o homem tem. Isso não implica superioridade ou submissão de um em relação ao outro.

Mulher e homem podem ser parceiros e viverem em paz, respeitando os direitos e vontades um do outro, mas o machismo é tão prejudicial que faz com que o homem queira ser mais... O mais endinheirado... O mais bem-sucedido... O machão-alfa... O que fica com o maior número de mulheres... O mais forte... O mais poderoso... E esse padrão machista aprisiona o próprio homem, pois se ele não consegue ser/fazer tudo isso, ele é considerado fraco. O machismo, no final das contas, é um "tiro no pé" do próprio homem, pois acaba sobrecarregando-o e como o homem também não é estimulado a lidar com suas próprias emoções (desde sempre, ele aprende a escondê-las ou ignorá-las), eles acabam recorrendo às clínicas de psicologia, para superar todas essas cobranças e obter alguma ajuda.



É chocante ver que a raiz do machismo é tão profunda e logínqua e o quanto, mesmo depois de tantos anos de evolução, ela continua... Sempre negando os direitos, o poder e a sexualidade feminina e fazendo o homem escravo de si mesmo. Quando será que homem e mulher poderão, novamente, se dar as mãos e conviver em paz, como era no passado (pode até não ser nas mesmas condições de antes, mas chegando a um consenso)? Quando vai acabar essa maldita guerra dos sexos que só prejudica a ambos? Quando é que o homem perceberá que estamos todos no mesmo time (o humano) e que devemos "jogar" juntos?

Homens, queridos e amados homens... Vocês não precisam ser esse "machão-alfa" que ensinaram a vocês desde sempre. Abram mão do machismo e entendam que "ser" é sempre bem melhor do que "ter", então, sejam quem vocês quiserem. Ser mulher é tão bom quanto ser homem e abraçar o nosso lado masculino/feminino é sempre mais gostoso e mais libertador e isso não significa que somos gays e mesmo se formos, o que importa?

Pensem nisso, queridos homens.

Carta ao Galante Poeta

sábado, 27 de agosto de 2016

 

* Caso não tenha compreendido as imagens, leia o texto abaixo, sem os enfeites das imagens.

Querido admirador, que com gentilezas, me presenteia. Tens noção do que estás a pedir? Tens ideia da mulher que queres? Tens ideia de quem ela é e como ela se sente?

Saibas, meu querido poeta, que a mulher a quem pediste em namoro não é apenas uma mulher, mas um corpo ileso por fora e dilacerado por dentro. Uma alma em pedaços que não conhece a paz do amor, pois todos eles tiveram fim.

Saibas que os olhos, tão elogiados em rimas, já estiveram corroídos por lágrimas e que minha imagem teve mais rachaduras do que um espelho quebrado.

Saibas que os lábios já estiveram trêmulos por causa do pranto e a voz já esteve rouca e soluçante por causa do abismo.

Saibas que a calma, que agora vês, é apenas uma máscara para encobrir toda a dor e sofrimento de um ser que já amou e já viveu as mais lindas ilusões, que caíram por terra.

E que os dedos já tatearam diferentes universos e corações, que levaram partes dos meus, para nunca mais devolver... Para nunca mais voltar... Para nunca mais ser a mesma coisa...

E que as costas carregam mais peso que Atlas, pois carrega meu mundo e o de outros... Machucados que escolhi e que não escolhi... Cortes que não devia, sequer, sentir... Feridas de amor... A dor de ser mulher... Estigmas e venenos disfarçados de sorrisos...

E que todo o meu ser já esteve imerso na mais escura, absoluta e densa nuvem de trevas, no qual estive íntima durante todos esses anos...

Saibas, meu caro, que por trás de todo gesto e de toda palavra, jorram cascatas de sangue e traumas de experiências difíceis e que só algumas foram superadas.

Saibas, enfim, que as fraturas e contusões que a vida me causou compõem hoje a mulher por quem te apaixonaste e se ainda assim, mesmo depois de tudo isso, ainda me quiseres, saibas que meu coração transbordará de amor e que juntos, consertaremos os cacos de nossas almas e seremos apenas pedaços unidos num só sentimento, corpo e espírito.


(Daliana Medeiros Cavalcanti – 26/08/2016)

Energia Eólica


Um amor jogado ao vento
Vida sem inspiração
Eu não nego o lamento
Mas renego o coração...

... Que de suspiros vive
E estranha o palpitar lento
É constante e livre
E inquieto por dentro

Ofegante, só expiro...
Onde está meu ar?
Aquele que não mais respiro...
Por que teve que faltar?

Aspiro a vida e a luz
Em toda a atmosfera
Deste fluxo que me conduz
Com o tempo e a espera

Exalo sonhos e mares
E tento inspirar a mim
Buscando novos ares
Até florescer jasmim.


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 25/08/2016)

Review de "Geliebte Clara"

segunda-feira, 15 de agosto de 2016


Nota de 1,0 a 5,0 = 4,5

Gênero = Romance / Drama

Achei muito legal a iniciativa de se fazer um vídeo sobre a pianista e compositora Clara Schumann, tão pouco estudada e conhecida na História da Música.

O filme é uma produção franco-germano-húngara e é um pouco desconhecido, mas tive o interesse de assistí-lo, pois ao estudar música, percebi que pouco se fala sobre compositoras e, honestamente, até pouco tempo atrás, eu não conhecia nenhuma. Nem as escolas, nem os livros de história da música falam sobre musicistas do sexo feminino.

Pintura da Clara Schumann
Foi quando eu conheci a Clara Schumann, ouvi alguns de seus Lieder (canções alemãs) e tive o interesse de estudar mais a fundo sobre ela, as canções que ela escreveu e a vida dela como um todo.

Ao ler sobre a vida dela, me deparei com uma grande guerreira, cujo o filme, mesmo sendo muito bom, foi incapaz de mostrar todos os problemas que ela passou.

O filme ressalta a sua virtuosidade ao piano e mostra o quanto ela era conhecida por seus concertos. Ela era uma pianista muito admirada, mas não conta que, assim como Mozart e tantos outros gênios internacionalmente conhecidos, ela aprendeu a tocar piano desde pequena, com seu pai, e desde criança, já fazia concertos.

No filme, ela já está casada com o Robert Schumann e o ponto central da história, além de ressaltar o brilhantismo da Clara que a História não contou nos livros acadêmicos, é o relacionamento deles. A ficção, entretanto, não mostrou que bem antes deles se casarem, o pai de Clara (que, antes de se casar, se chamava Clara Wieck) era contra o relacionamento deles. Robert, que era 9 anos mais velho que ela, teve que processar o pai dela para conseguir que o casamento acontecesse.

Durante esse período do processo, que aconteceu por volta de 1840, Schumann estava bastante inspirado e compôs várias canções e ciclos de canções, o que deu o nome, a esse ano de "Ano da Canção". Um desses ciclos que ele escreveu foi o Frauenliebe und Leben (Amor e Vida de uma Mulher), que apresentei em meu recital e que havia sido dedicado à Clara.

Clara e Robert Schumann

Voltando à trama do filme, com o passar do tempo, Robert foi se sentindo mal e foi deixando de fazer várias coisas que ele fazia normalmente. Deixou de reger a orquestra... Não queria mais tocar piano... E a Clara foi assumindo todas essas responsabilidades.

Eu não sabia que a Clara, além de tudo, era maestrina. Ela regeu a orquestra e no início, muitos músicos da orquestra foram contra, pois não aceitavam a ideia de uma mulher regendo. Imagino que, na época, devia ter sido um escândalo enorme. Como eles tinham um concerto marcado, eles acabaram aceitando que a Clara os conduzisse.

Clara conduzindo a orquestra

Aos poucos, o estado de saúde de Robert foi piorando e descobre-se que ele tem algum transtorno mental, que foi piorando bastante.

Mais tarde, aparece o jovem Johannes Brahms, que se apaixona pela Clara e tenta ajudá-la como pode. A História conta que eles talvez tenham tido um relacionamento amoroso, mas não se pode afirmar com certeza, pois eles destruíram cartas e outros documentos que possam comprovar isso e o filme deixa essa relação entre eles bem dúbia.

Clara Schumann e Johannes Brahms

É triste perceber que a História pouco fala sobre a Clara Schumann, mas muitos sabem do triângulo amoroso dela com o Brahms, o que só apresenta o machismo presente no conhecimento acadêmico.

Aliás, falando de machismo, é impressionante ler sobre a vida dela e ver que não só os homens eram contra mulheres compositoras, mas as próprias mulheres se reconheciam como pessoas que deveriam focar em suas atividades femininas (ou seja: cuidar da casa e dos filhos) e com ela, não foi diferente. Mesmo com tanto talento e sustentando a casa com os concertos que ela dava, principalmente após a morte do marido, ela foi deixando, aos poucos, de compôr para cuidar de seus afazeres domésticos.

Geliebte Clara (Amada Clara) é um filme muito doce e lindo que mostra um pouco da história dessa impressionante musicista que, além de talentosa, teve uma vida muito difícil.


Com o agravamento da doença de Robert (que, ao que tudo indica, sofria de Transtorno Bipolar e ficou incapacitado de tocar porque feriu gravemente a mão), ela teve que cuidar de todos os afazeres domésticos sozinha; conforme ele foi parando de trabalhar e, mais tarde, teve que se internar num asilo, a renda deles diminuiu e eles passaram por muitos apertos financeiros; quatro de seus oito filhos morreram antes dela - um com apenas 1 ano de idade (lembrando que a mortalidade infantil, antigamente, era bem mais alta do que é hoje), outro desenvolveu a mesma doença que o pai e teve que ser "sepultado vivo" num manicômio... Senti falta dessas últimas informações no filme, que só mostram o quanto, além de tudo, ela era uma mulher muito forte.

E, para finalizar, se Schumann deve a alguém por ser tão conhecido, na música clássica, como ele é hoje, esse alguém é a Clara, que lutou para preservar seus trabalho e sempre os executava em seus concertos.

O masculino e a fragilidade

sexta-feira, 12 de agosto de 2016


Como falei sobre o feminino, numa postagem anterior, falarei sobre o masculino.

Muitos podem acham minha opinião suspeita, uma vez que não sou um homem, mas falarei deste assunto na minha visão feminina, de alguém que teve muitos amigos do sexo masculino, trocou muitas ideias com eles e falarei sob meu ponto de vista, obviamente. Sintam-se à vontade para discutir o assunto.

Obs.: claro que cada homem é único e tem muitos que fogem a essas regras e já desconstruíram muitos padrões, mas fica a reflexão sobre o sexo masculino de uma forma bem geral.

Do mesmo jeito que existem muitos estereótipos e muitas construções sociais nas mulheres, existem construções em cima dos homens também e são construções bem distintas.



As pessoas, geralmente, definem o homem como um ser poderoso, de muita força física, com um enorme apetite sexual, o líder, chefe da família, "senhor do seu castelo"... Alguns apelidos podem ser carinhosos e terminar com "inho", algumas vezes  (Paulinho, Joãozinho, Dinho, etc), mas geralmente, tem muito apelido que termina com "ão" (Pedrão, Marcão, Carlão, etc), para enfatizar a grandeza, poder e importância que esta pessoa possui, isso quando os apelidos não são propositalmente pejorativos, para brincar e "tirar onda" uns aos outros (Zé Peidão, Gordo, Narizinho, etc).

É interessante observar, nesse simples exemplo, como os homens sempre ressaltam o melhor de suas características e o quanto eles não sentem a necessidade de se empoderar, pois eles já se sentem empoderados, em sua maioria (sempre existem as exceções). Enquanto os apelidos masculinos pedem "ão", para demonstrar sua grandeza, as mulheres são sempre "inhas", para ressaltar sua fragilidade e/ou carinho. Se uma mulher tem algum apelido de "ão", ou atribuem a ela uma característica masculina (em poucos casos, essa associação ao masculino não ocorre). Um homem com apelido de "inho" é apenas um homem com apelido carinhoso. A inversão de valores de atribuir o "inho" a uma característica feminina já não é tão frequente.

Enquanto as mulheres lutam para tornarem-se a definição do que é ser mulher que a mídia vende, longe de seus padrões naturais, o homem já não sente tanto essa necessidade. O homem tem a liberdade de escolher se ele quer deixar o cabelo longo ou não... Se quer usar barba ou não... Se ele vai se depilar ou não...

Claro que sempre existirão os conservadores que dizem que homem tem que ter cabelo curto e ter os pelos naturais, nem pode usar brinco, mas isso tem melhorado muito com o passar do tempo e, hoje, os homens têm mais liberdade de escolha em relação aos seus pelos e outros acessórios. Outro avanço masculino diz respeito à moda. Até uns anos atrás, rosa e roxo eram "cores de viado"... Roupa colada também... E hoje, vemos vestimentas mais variadas para os homens e calças e ternos skinny. Cortes de cabelo mais diversificados...

Alguns de vocês podem estar se dizendo "mas Dali, esse post é sobre 'o masculino e a fragilidade'. Onde está a fragilidade nessa história?", ou ainda "lá vai a feminista que acha que tudo na vida do homem é um mar de rosas". Para a primeira pergunta, chegarei lá em breve e para a segunda, não. Ser homem também não é fácil.

O que eu sinto, como mulher e em relação ao feminismo é que nós buscamos identidade... Cada vez mais, estamos nos questionando o que é o feminino... O que é construção social... Como nos sentimos melhor... Como sou eu, como mulher e como me coloco diante do mundo... O homem, não. O homem não se questiona em relação ao machismo: eles têm certeza. Eles sabem o que é ser homem e são ensinados a ser assim desde sempre. O que eles buscam é afirmação.

Esta afirmação funciona da seguinte forma: não basta eles, simplesmente, nascerem homens. Eles têm que mostrar que são homens. Têm que mostrar o quanto são fortes. O quanto eles são os provedores do seu lar. O quanto são poderosos. O quanto eles "pegam todas". O poder sexual que eles têm. Eles tentam afirmar, o tempo todo, algo que é óbvio e que não há a necessidade de afirmação.


E é nessa afirmação onde mora toda a fragilidade do homem - na tentativa desesperada de conseguir o respeito de seus amigos e o respeito feminino, eles acabam se prejudicando. Duvidam? Darei alguns exemplos...

Quantas histórias de amigos ou conhecidos vocês (ou essas histórias podem ser, até mesmo, suas) não conhecem que entraram em brigas, durante shows, por motivos tolos? Eles poderiam ter um machucado sério e poderiam até arriscar suas próprias vidas, mas se envolveram em briga para mostrar que é homem e que não leva desaforo para casa.


E histórias de traições? Alguns homens estão tão acostumados a mostrar o quanto são viris e sexuais que mesmo amando suas parceiras, traem, puramente, por essa afirmação "do quanto é homem" e ficam com outras mulheres. Eles colocam um relacionamento estável (e falo da condição de um relacionamento sério e em comum acordo de exclusividade e não de "ficas"), com uma mulher que amavam, em risco por uma construção social que é imposta a eles e poucos são aqueles que param para se questionar isso e tentam mudar. Acaba virando um vício sob a desculpa de "é a testosterona", ou "homem é assim mesmo", ou ainda "homem só pensa com a cabeça de baixo. É a natureza".

E os homens que "têm que sustentar a casa"? Tem homens que não gostam quando a mulher trabalha, pois sentem seu poder de "senhores da casa" ameaçado e, em contrapartida, se esses homens não são ricos, podem ter apertos financeiros, caso proíbam a mulher de trabalhar e chega a ser inacreditável que alguns homens prefiram manter seu orgulho a pedir ajuda... Esse famoso "orgulho de homem" é essa necessidade de afirmação do quanto "é machão, independente e resolve tudo sozinho".

Com isso, meus caros leitores, concluo que o machismo é tão ruim que não serve nem para o próprio homem. Não percebem? Os homens são obrigados a servir o exército aos 18 anos e muitos são não gostariam de servir... Colocaram na cabeça dos homens que eles são os provedores da casa e, algumas vezes, a mulher também pode ajudar financeiramente (e, em contrapartida, o homem ajuda nos afazeres domésticos) e não há vergonha alguma se ela ganhar mais do que o homem, mas por causa do machismo, os homens se sentem diminuídos se a mulher ganha mais...

Se o homem está apaixonado e está em um relacionamento sério, seja por um homem ou uma mulher, por que ceder às provocações dos amigos, para provar que "não é manicaca" (como se estar apaixonado e ser manicaca fosse a mesma coisa. E se vc estiver apaixonado, for manicaca e feliz? E aí? O que os outros têm a ver com isso?)? Ou, ainda, ceder à sua fraca convicção de sua masculinidade, que tem que ser provada a todo o instante? Aliás, se você pretende ficar com outras pessoas, sugiro que não assuma um compromisso com ninguém e que as pessoas com quem você esteja ficando concordem com essas condições. O problema não está em ficar com várias e sim, estar com várias, mentindo que está super-apaixonado por ela, pedindo a fidelidade e exclusividade do(a) parceiro(a) quando você não cumpre com a sua parte do acordo. Aí, já é problemático!

E se você estiver afim de usar rosa-choque? Ou roxo? E se você quiser ser cozinheiro? Ou bailarino? Ou estilista? E se você ama seu(sua) filho(a) e quer ter a guarda dele, para cuidá-lo(a) e educá-lo(a)? E se você não quiser se alistar? E se você quiser "quebrar a munheca"? E se você não quiser sair com alguém? E se você não quiser trair ou quiser se dedicar a uma só pessoa? E se você gostar de pentear o cabelo da sua filha e pintar as unhas dela? E se você não gostar de brigas violentas e desnecessárias? E se você não gostar de beber (tem caras que acham que só é homem quem ingere bebidas alcóolicas. Já presenciei cenas de amigos tirando onda com o outro amigo que não bebe)? E se você gostar de novelas e/ou filmes de romance? Você vai ser "menos homem" por causa dessas coisas?

Tenho um teste infalível - escolha qualquer uma dessas questões ou qualquer outra que não perguntei e faça-a (use roxo ou rosa-choque, vá dançar balé ou quebrar a munheca, etc). Agora abra a calça e olhe se "seu amigo" continua lá. Ele continua? Então você não deixou de ser homem. Vai testando. Se ele cair por causa de alguma dessas questões, consulte um médico, pois isso não costuma ser normal. Hehe!

Chega a ser curioso e incrível observar o quanto seres de tanta força física teimam tanto em não trabalhar a questão emocional e isso pode ser um ENORME problema. Nesse quesito, as mulheres têm muito mais liberdade de dizer o que sentem, sem tanto medo, mas os homens, por não exercitarem isso, às vezes, nem sabem como fazer ou por onde começar. Muitos nem se sentem a vontade de expôr o que sentem e nem trabalham esses sentimentos. O machismo aprisiona tanto o homem que se ele expressar uma felicidade constante, já acham logo que ele é gay.

Uma vez, participei de um grupo terapêutico da universidade onde estudo e achava que nós mulheres que liderávamos a ida aos psicólogos, mas fiquei chocada em ver tantos homens no grupo e, ainda, de ouvir a psicóloga comentando que tinham muitos homens que se consultavam com ela e que não sabiam o que fazer com tantas cobranças sociais e estereotípicas, nem com seus próprios sentimentos de incapacidade por não seguirem esse padrão que muitos não querem quebrar. Eles as tomam como verdade, as aceitam e são escravos da própria decisão! Toda e qualquer tentativa de liberdade desses parâmetros é visto como uma afronta e alguns são violentamente contra qualquer ideia questionadora.

Aliás, tudo o que o homem teme é ser comparado a alguma característica feminina e eis a reflexão que quero que os homens façam: ter alguma característica mais feminina é tão horrível assim? Ter o seu lado feminino desenvolvido não, necessariamente, significa que você tenha tendências homossexuais (mas também não há nada errado se você tiver) e sim, que você tem mais sensibilidade e um outro olhar a respeito de outras questões e isso pode ser muito positivo. Pensem sobre isso e no dia que vocês não temerem o feminino, vocês estarão livres para ser quem vocês querem ser.


E é isso, galera. O machismo não protege ninguém. Nem os próprios homens. Só nega o direito das mulheres e força os homens a afirmarem sua masculidade. alguém já viu alguma campanha ou slogan do tipo "homens, unidos pelo machismo para não servir o exército"? Ou "machismo roga igualdade de gênero na idade de aposentadoria"? Ou ainda "machismo luta pelos direitos do homem do lar"?

E homens modernos, parabéns pelas mudanças e pela conscientização que vocês estão tendo. Aos pouquinhos, vocês têm quebrado alguns estereótipos, têm se tornado homens melhores e mostrado que vocês são grandes parceiros das mulheres. A crescente onda conservadora tá aí para bagunçar as coisas, mas por favor, reflitam e não deixe que nada perturbe a sua liberdade.

Beijos!

Biografia de um ser



Lágrimas na cabeça
Entaladas na garganta
Não há razão que obedeça
Não adianta...

Amores em meu peito...
E decepção... E tristeza...
O silêncio é meu leito...
Tanta emoção acesa...
Não quero! Não aceito!
A exterior indelicadeza

Com uma mente tão ativa
E tanto desejo oculto
Luto para manter-me viva
Vivo para que não haja luto

Vivo paixões que me desprezam
Sonho com outras que não posso ter...
Enterro paixões que me lesam
E as relembro para reviver

E tudo se explode na voz...
Meu grito, meu canto, meu eu
A minha vontade feroz
Em melodia alvoreceu
Calando o sentimento atroz
Que minha alma sorveu

E tudo em mim vira som
Tudo de ruim... Tudo de bom...
E exponho, em notas, o que quero esconder
Renovando minha alma e todo o meu ser


(Daliana Medeiros Cavalcanti - 12/08/2016)

Pior do que a ausência é a insistência sem reciprocidade

sábado, 6 de agosto de 2016


Por: Samantha Silvany

Tem dias em que ainda acredito que não vai passar, mesmo contradizendo tudo que já vivi, a malícia do tempo e a veracidade da minha memória. Tem dias que já se tornaram anos, e eu ainda o cito como se tivéssemos nos falado ontem. Tem dias em que sinto vergonha por todos aqueles que pensei ter gostado antes dele. Nada se compara. A gente tem que se acostumar a perder alguém antes de se preocupar em mantê-lo, porque a decisão de partir não é nossa. A maioria das pessoas vai simplesmente passar pela gente. Só devemos nos importar com aqueles que decidem ficar por nós, independentemente do quanto seja difícil. Eu não sabia disso, agora eu sei.

Já me afastei de pessoas que eu amava, e sei que era amor porque a distância não diminuiu o sentimento. Mas eu tive que escolher a mim porque pior do que a ausência é a insistência sem reciprocidade. Enquanto eu continuava pensando em como estaríamos hoje, se ele sentia minha falta como eu sentia a dele, se ele se imaginava nos melhores e piores momentos comigo ao lado ou se ele se lamentava, ainda que baixinho dizendo a si mesmo, por ter me perdido…. Minha vida estava passando e a dele está seguindo em frente sem mim.

Nunca senti uma sensação tão incomoda em toda minha vida quanto a saudade. Sério. É um aperto no peito tão forte, uma vontade desesperada de sair correndo, fugir daquilo, fugir dele ou de mim mesma e das consequências que eu não quero suportar de minhas escolhas. Ninguém está esperando que você se recupere, que enterre o passado e sacuda a poeira de memórias já gastas. Ninguém vai te lembrar do tempo que você perde enquanto aguarda o melhor momento pra superar. Você tem que começar de algum lugar, tirar forças de dentro de si. E, sobretudo, entender que terminar não é um fardo, e sim, uma escolha.

Você poderia estar com ele, sim. Acontece que você merece muito mais do que ele tinha te oferecer. Guarda a saudade no bolso e estampa o sorriso no rosto. O amor não é como a maioria dos outros sentimentos. Tem o lado ruim, aquele que doí, e você nunca mais vai ser o mesmo. Eu não sabia disso, mas agora eu sei.


Pessoas de "personalidade forte"

terça-feira, 2 de agosto de 2016


Para início de "conversa", tenho que confessar que detesto esse termo. Por isso que coloquei entre aspas. O que define uma personalidade forte? A personalidade é forte para quem? Em relação a quem? Será mesmo que o que definimos como forte é, de fato, forte?

Sempre me fiz essas perguntas e já admirei muitas pessoas que se denominam como "pessoas de personalidade forte", mas ao viver um pouco mais, ter minhas experiências de vida, refletir (sempre!) e conquistar um pouco mais de auto-confiança, passei a me afastar de muitas pessoas assim. Motivo? Porque pessoas assim não me deixam à vontade. Não me sinto bem perto de algumas delas.

Algumas pessoas podem pensar ou dizer "Ah! Vc se sente assim pq elas são fortes demais e não é qualquer pessoa que consegue andar com uma pessoa forte". Será mesmo?

Os especialistas em psicologia e psiquiatria podem explicar isso muito melhor do que eu, mas existe uma coisa chamada "máscara social". É o modo como vc se mostra para as pessoas e todos(as) nós usamos alguma máscara. Todos(as)! Algumas estão mais próximas de como realmente somos, outras não e não, necessariamente, estamos sendo falsos. Tudo é muito relativo e temos que observar bem o contexto para afirmar alguma coisa.


Eu enxergo essa máscara da "personalidade forte" como uma máscara de auto-afirmação... Algo que eles mesmos querem acreditar que são e, na verdade, podem ser pessoas super-inseguras... E esse joguinho de auto-afirmação, misturado com narcisismo, autoritarismo, etc me irritam profundamente, então, acho melhor me afastar dessas pessoas para não ter mais estresse do que eu já possuo em meu cotidiano.

E como as pessoas, hoje em dia, definem uma "personalidade forte"? Alguém que se impõe... Que sabe liderar (outra coisa relativa. Saber liderar e ser autoritário não é a mesma coisa e muitas dessas pessoas sabem liderar no sentido de ter iniciativa, mas não possuem muito tato com as pessoas e então, se tornam autoritárias)... Tem uma fala forte... Gestos seguros... Uma pessoa que toma decisões... É, muitas vezes, agressiva...

Ainda admiro as pessoas que falam o que têm em mente e têm essa espontaneidade de falar o que pensam (coisa que não tenho. Sou sincera sim, mas escolho melhor as palavras e penso várias vezes antes de abrir a boca) e essa atitude mais "viva" que eles possuem, mas como eles se julgam muito fortes, acabam caindo na arrogância de achar que todos(as) que não são como ele(a) são fracos(as) e começam a despertar o seu lado mais agressivo e autoritário. Esse mesmo pensamento de falar sem medir as consequências, algumas vezes, também pode significar imaturidade e muitos acabam afastando as pessoas com esse tipo de comportamento... Pessoas, muitas vezes, que eram importantes e queridas...

E aí, vem uma afirmação que odeeeeeeeeeeio com todas as minhas forças! Quando reclamamos da agressividade dessas pessoas, as respostas são: "é o meu jeito". "Eu sou assim".

Fico pra morrer quando ouço essa resposta, pois as pessoas estão em constante mudança! Nós sempre temos algo para mudar... Para melhorar... Para refletir... Para aplicar... Para desenvolver... Como é que alguém pode se limitar ao conceito de "eu sou assim" e não querer mudar? Essas "pessoas fortes" são pedras? Ou barras de metal, incapazes de mudar? Eu acho que não, mas a mudança é sempre incômoda.

Para essas pessoas, "ser assim" é confortável no momento em que eles querem atingir um objetivo e usam a intimidação, grosseria e o autoritarismo com as pessoas. Eles conseguem sim o que querem, muitas vezes, ao custo da raiva de algumas pessoas e, muitas vezes, das relações pessoais que eles têm com pessoas que eles(as) gostam. Seria bom que refletissem se vale a pena tudo isso.

Claro... Não digo que nunca devemos ser agressivos e que a raiva é algo ruim, mas quem vive irritado e descontando seu estresse nos outros deve parar um pouco para refletir, pois fica transferindo e descontando toda a sua frustração e incapacidade de resolver algo nos outros, o que prova que, talvez, eles não são assim tão fortes como eles pensam ser.

Alguém que sente a necessidade de diminuir os outros para se sentir maior/melhor não pode ser uma pessoa de uma auto-estima lá muito alta e não pode ser considerada uma pessoa forte.

Temos sim nossas personalidades... Temos algumas emoções/ sentimentos dominantes e que, algumas vezes, são uma espécie de vício e essas pessoas devem ter cuidado, pois o vício delas pode ser ou raiva ou desprezo (ou até uma tristeza que eles disfarçam), mas nunca é alegria, pois a alegria nos relaxa.



Temos sim que nos impôr quando necessário e se alguém faz algo que não gostamos, temos que demonstrar para que parem e para que vejam que estamos falando sério, mas tudo com muito equilíbrio.

Há uma frase do Maquiavel que diz "é melhor ser odiado do que ser amado, pois enquanto o amor descansa, o ódio é vigilante" e convido a essas "pessoas fortes" a pensar se é isso mesmo o que querem... Se querem ser odiadas, se é assim mesmo que pensam e se é, então sugiro que se acostumem com a solidão e a "exclusão dos fracos".